Por que nunca um choque de credibilidade?
A inconstância do crescimento econômico brasileiro sempre foi um tema gerador de inúmeras discussões.
Os questionamentos rodam não somente os "altos e baixos" da economia, como também a pouca robustez do crescimento médio ao longo dos anos.
Essa característica até pode ser considerada uma das origens da frase: "o Brasil é mestre em perder oportunidades".
Para ver esses comportamentos, basta observarmos os dados da variação do PIB real anual: desde o início dos anos 2000, os períodos de maior consistência e de crescimento real foram durante o primeiro e o segundo mandato de Lula (2003-2006 e 2007-2010) com taxas médias de 3,5% e 4,6%.
No entanto, nos últimos cinco anos, nosso crescimento médio foi de 1,5%; nos últimos dez anos, 0,6%; e nos últimos vinte anos, 2,2%.
A pergunta que deveríamos nos fazer é: "Por que não tentamos um outro caminho para reduzir essa tão grande dificuldade de crescer?"
A intenção aqui não é apontar novamente as causas que impactaram a nossa atividade econômica.
O exercício sugerido é refletir sobre uma possível mudança de postura para essa deficiência de crescimento:
Um verdadeiro choque de credibilidade!
Estamos sempre às voltas com restrições políticas para fazer o necessário, estamos sempre flertando com doses insuficientes do antibiótico e com isso não temos quase nunca o benefício da dúvida, o que nos faria quase na data zero entrar já num círculo virtuoso de maior confiança e maior crescimento.
O País acaba sempre "pagando mais", tendo de "tomar doses maiores" do remédio necessário.
Se, ao invés disso, trouxéssemos o foco nos remédios certos com doses eventualmente até maiores que o necessário, para não restar nenhuma dúvida dos agentes de para onde estamos indo, teríamos uma provável surpresa de que "foi mais rápido e fácil " do que podíamos antecipar.
Este choque de credibilidade teria três diferentes vertentes que se interligam, acabam sendo causa e consequência uma da outra e englobam outros subelementos.
São elas: o front fiscal, a política monetária e as reformas estruturais.
O front fiscal é, sem dúvidas, o que apresenta o maior grau de importância.
A manutenção da ordem nas contas públicas nos países emergentes acaba sendo um pré-requisito para se ter credibilidade.
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Faz parte do contexto, adotar uma regra fiscal que seja crível e sustentável capaz de contribuir para o controle da dívida pública, que atualmente está em torno de 73%. Um projeto de médio/longo prazo seria conseguirmos reduzi-la para um patamar ao redor de 40-50% do PIB.
Efeitos secundários de uma credibilidade fiscal são positivamente observáveis.
De imediato, uma forte redução do prêmio de risco da curva longa de juros, reduzindo suas taxas de forma substancial.
Traria também uma provável apreciação da taxa de câmbio e mais importante do que isso, um bom aumento da confiança dos agentes econômicos, "a confiança de que o futuro será melhor que o presente".
Reduzindo além disso as expectativas de inflação.
Quando há ancoragem dessas expectativas, influenciamos a segunda vertente da credibilidade: a política monetária, uma vez que não há necessidade de ela ser tão tempestiva e intensa.
O patamar mais baixo de taxa de juros permite maior alocação de capital no setor real produtivo, impulsionando a atividade econômica.
Estamos rodando com a razão investimento/PIB (acumulado em 12 meses) na casa dos 18%, todavia, essa é a média percentual nos últimos vinte anos.
Precisamos romper essa resistência, pois o nível mais próspero da série histórica foi entre 20-21%, entre meados de 2010 até 2013.
Por fim, um choque de credibilidade vindo da execução de reformas estruturais macro e microeconômicas relevantes no nosso País afeta não somente a área/setor envolvido como também tende a trazer um amplo ganho econômico.
No mais, as reformas sinalizam desburocratização e simplificação de processos, fatores cruciais para a potencializar o crescimento econômico.
É necessária a continuidade da agenda de reformas, especialmente nos campos tributário e administrativo.
Toda essa credibilidade acaba gerando oportunidades, as quais sempre existirão, mas nem sempre batem duas vezes na mesma porta, pois a conjuntura está sempre sujeita a alterações.
Deveríamos, ao invés de nos nivelar pelo quase, passarmos a entregar mais que o suficiente, mais do que esperam de nós.
Muito provavelmente levaríamos um susto de quanto mudaríamos o nosso País de patamar e o quanto a renda per capita mudaria de padrão, podendo nos tirar dessa longa armadilha de estarmos estacionados eternamente como país de renda média.
*Este artigo tem coautoria do economista Luan Takada.