Cenário Brasileiro: Onde você deve concentrar a sua atenção em 2019?
ARTIGO EXECUTIVO: 14/02/2019 - Alessandro Conte
O Brasil viveu nos últimos anos um período sem precedentes na história, tanto pelo momento econômico, mas também político e social. Se de um lado a crise levou ao aumento do desemprego e desaceleração da economia, por outro ela trouxe uma população cada vez mais ativa, seja na questão social ou no engajamento político, gerando um sentimento de necessidade de mudança e renovação da gestão pública.
Um exemplo desta renovação aconteceu nas eleições de outubro passado, trazendo mudanças nos atores de boa parte da classe política, além da aprovação de um presidente fora do escopo tradicional. A partir de janeiro de 2019, após a posse do Presidente Jair Bolsonaro, entramos em um período de muita expectativa e, talvez, até otimismo neste início de mandato, que foram refletidos tanto no aumento do índice de confiança do consumidor como nos números da indústria.
Este fenômeno é chamado de período de “Lua de Mel”, pois gera ansiedade, otimismo e um voto de confiança para a nova gestão. Normalmente ele dura 100 dias, uma classificação que nasceu com o presidente F. Rooselvet, quando após a “Grande Depressão” desenhou um plano para tirar os E.U.A. daquela situação.
A pergunta que nos fazemos é: por onde se dará o início da transformação na gestão do novo governo? Os problemas no Brasil são inúmeros, tais como: corrupção (uma das maiores do mundo), violência (uma verdadeira guerra civil), educação (principalmente em qualidade), saúde, dívida pública, baixo nível de investimento, problemas de infraestrutura, alta carga tributária entre outros.
Basicamente sabemos que a economia brasileira é movida pelo consumo, bastante fechada ao comércio internacional e tem forte concentração das empresas exportadoras, já que 50% das exportações estão concentradas em apenas 1% das empresas. Se por um lado são dados preocupantes, por outro significam grandes oportunidades para esta nova gestão no governo federal.
Um dos pontos bastante preocupantes e que nos acende um sinal vermelho é a dívida pública, pois ela representa quase 80% do PIB brasileiro. Este desequilíbrio fiscal tem entre um dos seus pilares o desequilíbrio da previdência e que cresce exponencialmente. Fazer o reequilíbrio destas contas não é somente uma maneira de aproveitar melhor os recursos gerados pelo governo para poder investir em outros setores, mas também uma forte sinalização para o mundo de que estamos no caminho certo.
Sabemos que o problema da dívida pública não é somente mérito do governo federal, mas também dos estaduais. Quando olhamos para o Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Sul, Minas Gerias e Rio de Janeiro encontramos estados extremamente endividados, falidos e que necessitam com urgência do apoio do governo federal para poder pelo menos colocar as contas dos serviços básicos em dia.
Quando analisamos o cenário mundial, temos inúmeros fatores que podem contribuir ou prejudicar o novo governo: na geopolítica, o enigma da Coreia do Norte; a Venezuela; conflitos no Oriente Médio; o próprio Irã, entre outros. No aspecto tecnológico, temos o impacto da inteligência artificial e da robótica versus o atraso do Brasil em tecnologia. Temos ainda as tendências protecionistas da administração do governo Trump, possíveis efeitos do Brexit e, por último, a sustentabilidade da economia chinesa.
Este último fator, a China, e a manutenção ou crescimento da sua economia afetam diretamente o Brasil, já que ela é um grande importador da nossa produção agrícola. Para se ter uma ideia, 50% do consumo de soja e 72% do frango chinês são exportados pelo Brasil.
A China investiu pesado em sua aceleração como potência global, mas parece estar perdendo o fôlego. Um exemplo está na construção civil, pois nos últimos três anos ela utilizou mais cimento (cerca de 6.6 gigatons) do que dos E.U.A. no século XX inteiro (cerca de 4.5 gigatons), porém, este otimismo e avanço imobiliário está perdendo tração, e já há dados apontando que 22,4% dos imóveis na região estão desocupados.
Apesar dos planos do novo governo brasileiro serem razoáveis, um país não é governado sozinho, pois, na democracia, para transformar, reformar ou aprovar algo, deve ser encaminhado e avaliado pelo Congresso. E se de um lado temos que torcer para que a liderança presidencial tenha capacidade de articulação no Congresso Nacional, por outro lado, no cenário mundial, temos que combinar o jogo com “Os Russos”, ou melhor, no caso do Brasil, com a China, e torcer para que ela continue crescendo e sendo um forte aliado brasileiro.
Dados: Professor associado da FDC Calos Alberto Primo Braga