Por que a pandemia no Brasil se compara a expressão "O Cisne Negro"
A expressão Cisne Negro, criada pelo libanês Nassin Taleb, é uma forma de explicar a tendência humana de procurar explicações simples, baseadas no passado, para eventos raros e improváveis, como a pandemia da Covid-19. A negação da ciência e das regras básicas de finanças públicas são dois dos maiores e piores exemplos do comportamento do Cisne Negro com relação à pandemia.
Dois brasileiros entram em coma no fim do ano de 2020. Um é economista e o outro operador de máquinas. O primeiro teve um infarto por estar preocupado com a macroeconomia - PIB, juros, câmbio, bolsa de valores. O segundo pegou Covid enquanto colocava comida na mesa da família, tentava manter a saúde e não perder o emprego - necessidades da microeconomia. Mas o que aconteceu com eles quando saíram do coma no início de março de 2021?
Vamos começar pelo Zé Baiano, operador de máquinas, que ouviu sua esposa dizendo que está difícil fazer as compras do mês, pois tudo aumentou mais do que salário. O churrasco do fim de semana virou mensal e o Gol 2011 terá que ficar na garagem por causa do preço do combustível.
Decepcionado, Zé foi ao boteco tomar uma 51 para reencontrar os companheiros (sem ironia política). Um dos amigos mais pessimistas resumiu assim a situação: “a pandemia mata milhares de pessoas por dia, casas onde moravam infectados são queimadas para tentar frear a doença, as igrejas estão cheias de fiéis que rogam pela salvação, enquanto os descrentes se entregam a prazeres desaforados em festas clandestinas por acharem que o mundo vai acabar. O caos é absoluto e as autoridades não conseguem manter a ordem".
Do outro lado da cidade, o economista Christopher Garmann, assim que saiu do hospital, navegou nos portais dos bancos e das consultorias econômicas. Quase tem outro infarto quando viu o cenário das últimas semanas: bolsa chegou a cair 10%, ações das estatais derreteram, o Risco Brasil aumentou 14%, a taxa básica de juros (Celic) deve dobrar até o fim do ano, o Real desvalorizou 5% em um dia, o PIB não deve crescer no primeiro trimestre e a inflação não vai passar dos 4% no ano. Ele não conseguiu entender o que aconteceu com o País nestes dois últimos meses.
E o Cisne Negro com isto?
Cisne Negro é uma forma de explicar a tendência humana de procurar explicações simples (baseadas no passado) para eventos raros e improváveis. O libanês Nassin Taleb criou a expressão baseado no fato de que antes de alguém encontrar um cisne negro na Austrália, todos acreditavam que os cisnes eram apenas brancos. Por isto, ignorariam um cisne negro quando o encontrassem. Este é o comportamento de muitos governantes e governados com relação à pandemia.
A Covid é um cisne negro?
Muitos governos dizem que a Covid é um Cisne Negro. Outros mais radicais dizem que ela era branca, mas os chineses a pintaram de negra.
Quando surgiu a doença, bastaria ler algum livro de história sobre Gripe Espanhola (1918-1921). No Brasil, ela atingiu 65% dos 28 milhões de habitantes, com isto, atingindo o chamado efeito manada, provocou 35.000 mortes (1,25% da população). Projetando este percentual para hoje, a Covid mataria 275.000 pessoas. Vamos passar longe deste número mesmo com as vacinas, que não existiam em 1.918. Pior do que isto: nós somos 3% da população mundial e já somamos 10% dos mortos do planeta.
Para não ser executado pela Inquisição Católica em 1.633, Galileu Galilei teve que pintar o cisne de branco ao negar que a terra não se movia em torno do sol. A negação da ciência e das regras básicas de finanças públicas são dois dos maiores e piores exemplos do comportamento do Cisne Negro com relação à pandemia.
A PRIMEIRA LIÇÃO DA ECONOMIA É A ESCASSEZ: NUNCA TEMOS TUDO PARA TODOS.
A PRIMEIRA LIÇÃO DA POLÍTICA É IGNORAR A PRIMEIRA: A LIÇÃO DA ECONOMIA!
Thomas Sowell
Como pintar o cisne de branco?
O mundo está passando por uma verdadeira catástrofe que não vai acabar tão cedo. Para diminuir os efeitos da pandemia no Brasil precisamos:
- Na saúde: vacinar o mais rapidamente possível, reforçar a estrutura hospitalar e reconhecer que não podemos viver, pelo menos por um tempo, como antes.
- Na economia: sinalizar claramente que o Teto dos Gastos será cumprido, aproveitar o momento para acelerar as mudanças estruturais - administrativa e tributária, por exemplo, parar de intervir e provocar o mercado, que quando fica “nervosinho” afeta duramente o economista que entrou em coma e muito mais o Zé Baiano.
*Christopher Garmann é da Consultoria Eurasia, que fez uma clara, mas preocupante projeção de cenário para o Brasil com o título ‘Tempestade Perfeita’.
*O Zé Baiano é uma figura fictícia, que representa os que sempre pagam a conta das crises. O comentário do fictício amigo do Zé descreve a situação da Itália durante a Peste Negra em 1.348, que também não foi um cisne negro.
Sou Ismar Becker, empreendedor, conselheiro, mentor, estudei na Harvard Business School no curso de Owner and President Management Program. Sou especialista no mercado de cerâmica em mais de 90 países e acumulo experiência de mais de 40 anos de viagens pelo mundo.
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