Por que todos odeiam o Bing?
Homepage Bing. 2017.05.15

Por que todos odeiam o Bing?

Como estudiosa e profissional de marketing, sempre fico intrigada quando uma marca suscita sentimentos intensos, bons ou ruins, nas pessoas. E, como professora de várias disciplinas do tema, sou privilegiada pela oportunidade de poder ouvir a opinião de muitos alunos, sem filtros, sobre as marcas que habitam esse planeta.

O Bing é sem dúvida marcado pela unanimidade. Infelizmente, todos falam mal dele. Reconheço que minha amostra não tem valor estatístico, mas se observarmos o infográfico, abaixo, veremos que o market-share do Bing no Brasil é só 1,9%. Ou seja, insignificante. O país onde ele melhor se posiciona é os E.U.A. Talvez porque, sendo a sede da empresa lá, algo diferente seja feito no relacionamento da marca com seus usuários. Não sei. E, se alguém souber, não hesite em comentar.

O Google tem hoje quase 95% do mercado. É um gigante-polvo que não para de lançar seus tentáculos para diferentes áreas e mercados. Ele sabe tudo sobre a nossa vida – ao menos a digital. Alguém já disse, antes, que privacidade não existe mais. E não existe mesmo. Especialmente com um player tão forte e dominante que sabe todos nossos rastros digitais e nossos interesses. E essas informações, ainda que em bloco, são vendidas para as empresas ávidas por saber o que gostamos, o que queremos...

Esse contexto ajudaria muito um desafiante à um player tão poderoso. As pessoas tendem a se simpatizar com aqueles que se colocam como uma alternativa boa às marcas excessivamente poderosas. Uma empresa que costuma tirar vantagem desta perspectiva é a britânica Virgin. Vários de seus negócios entraram no mercado com uma postura “hobinwoodiana”. Eles nem pretendem ser os maiores, mas buscam aquele cliente que está cansado da arrogância do líder. Fazem isso ainda com certa ludicidade e diversão. Os clientes gostam da atitude e dão de bom grado a oportunidade para a empresa de se provar.

E fica a pergunta: porque a Microsoft , dona do Bing, não consegue mudar a condição tão coadjuvante nesse mercado? Recursos não faltariam a ela. Minha hipótese é que, como gigante que também é, é incapaz de assumir um posicionamento menos impositivo, controlador e sistemático.

Tudo o que escuto, e que vai ao encontro de minha experiência pessoal, é que o Bing, ao não ser relevante para os milhões de usuários do Windows, quer se impor e cria milhares de armadilhas para que não se consiga escapar dele. Com isso as máquinas vêm configuradas de maneira a dificultar ao usuário colocar o Google como página inicial e/ou navegador padrão. E se isso é finalmente conseguido, mais dias, menos dias, o sistema fará com que o Bing retorne aos padrões da máquina. Parece o Jason, insistindo em voltar para assombrar seu público. O termo que sempre escuto: “o Bing é um chato”.

Os engenheiros da Microsoft devem ter ficado felizes em colocar esse campo minado nos devices espalhados pelo planeta para garantir, ao menos, esse market share irrelevante. Mas uma coisa é certa: com essa forma de relacionamento, jamais ganhará o coração dos internautas do mundo.

Por outro lado, a identidade da marca Google é muito mais simpática, lúdica e humana. Inclusive, visualmente, isso fica claro. Além do logotipo, todos os dias somos surpreendidos pelos Doodles que ajudam a materializar essa identidade divertida. Isso dificulta ainda mais a batalha da Microsoft. Talvez, porque um dia começaram pequenos e conseguiram manter isso ao longo do tempo.

E, se comparamos, a nova identidade visual do Bing é dura, fria, esquemática, reforçando ainda mais a maneira como se manifesta cotidianamente com seus usuários(Ao menos são consistentes!).

Talvez, tenham tentado se diferenciar. É fato, mas faltou alguns atributos que seriam fundamentais para uma marca alternativa. Eu até arriscaria dizer que o logotipo anterior era mais simpático, ao menos. A identidade visual da marca deve ser um destilado essencial de todos significados atribuídos à visão estabelecida para a marca em questão, e tem a missão de viabilizar a sua conscientização e o seu reconhecimento. Porém, só a união de todas as manifestações, nos vários pontos de contato, que concebe a natureza dos sentimentos e o sentido que seus consumidores atribuem à marca. Chatice certamente não estava nos planos dos estrategistas. Como eu acabei de comprar um laptop com Windows, estou vivendo muitos desses momentos chatos com o Bing. E muitos vão perguntar porque não comprei um Apple. E a resposta é simples. Não estava a fim de pagar 300% de price premium. E a vida segue...

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Cecília Andreucci é administradora, mestre em práticas de consumo e doutora em comunicação. Atua como conselheira de administração, docente e investidora-anjo.

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Leia mais artigos de Cecília Andreucci:


Cintia Costa

Professora de Alemão (Deutsch als Fremdsprache) - Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro - PUC-Rio

1 a

Tenho uma conta Microsoft e toda vez que quero usar é um inferno pra logar. Mas hoje o Bing está pior ainda! Não consigo entrar na conta antiga nem ele me deixa criar uma nova. Haja saco! 😣

Marcos Roberto Martins

Analista de Tecnologia da Informação

2 a

Um HORROR esse BING. Como a filial brasileira da Microsoft nem se preocupa com isso? Simplesmente nenhum resultado que fiz pelo BING (nesses últimos anos) foi digno de confiança até hoje! O GOOGLE deixa no chinelo o BING. Uma vez por ano, tento mudar meu conceito sobre o BING, mas não tem jeito. Os resultados são frustrantes, desviados e tediosos. 👎

Tatiane Cristina

Consultora SAP MM - Especialista em Localização Brasil

5 a

É muito fácil responder: odiamos o Bing porque ele nos OBRIGA a usá-lo. Você pode dizer que seu buscador favorito será o Google em configurações dos navegadores, mas ele sempre da um jeito de voltar no meio das "brechas". Já o Google, não força a barra. Inclusive qualquer publicidade ou venda que seja insistente, devia ganhar processo de assédio e danos morais, como se fosse uma pessoa qualquer assediando a outra. Outra desvantagem do Bing, é que ele "seleciona" e "filtra" o que vai lhe trazer como resultado da busca, mas não de acordo com o que você deseja, mas de acordo com o que ELE DESEJA que você saiba, parecido com "Coréia do Norte", sabe? . Ou seja, além de tudo, ele é manipulador. Como gostar de algo assim tão tendencioso?

Driss Ghali

Author | Political commentator | Keynote speaker | Media | International affairs | Communication broker | Storytelling

7 a

Boa tarde, Respondendo a um comentario, vc falou: "concordo com voce. A experiência do cliente nao ê prioridade na maioria das empresas." Acho vc super certa ao falar isso. Tema fascinante esse do "desconnection" entre experiencia do cliente e o foco da empresa. Abraços

Daniel Menin

Divulgação Científica, Designer, Espeleologia, Branding e Inovação

7 a

Concordo, entretanto essa é a visão romântica, talvez de 20 anos atrás. Sabemos que o mercado é muito diferente e o importante é crescimento sobre crescimento, não importa muito como. Experiência de usuário está muito ligada ao Marketing, uma vez que as atenções se voltam pra dentro também em empresas de tecnologia esquecendo-se daquela premissa inicial de "satisfazer necessidades através de produtos e serviços"...

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