Por que você deve ensinar o seu filho a esperar pra comer um Marshmallow
Um experimento famoso da década de 60 chamado "the Marshmallow test" (você pode ver o vídeo aqui, é bem engraçado ver a reação das crianças), realizado no final da década de 60 por Walter Mischel, em Stanford, propõe um jogo a crianças de uma escola de Fundamental I que esperem por 10 minutos na frente de um marshmallow, numa sala sem distrações. Se o fizerem, é prometido à criança que ela ganhará outro marshmallow, dobrando a sua recompensa. Os resultados eram registrados e alguns controles foram feitos.
Essas crianças foram então monitoradas em seus anos seguintes em relação ao seu desempenho nos SATs, o "Enem americano" e o que se nota é bem interessante. Havia uma forte correlação entre aquelas crianças que conseguiram resistir e esperar para conseguir uma recompensa maior e o desempenho das mesmas anos mais tarde em testes de conhecimento e habilidades. Também obtiveram menores IMCs e melhores desempenhos escolares. E o número era alto o suficiente para poder dar uma boa confiabilidade, com mais de 600 participantes.
Em jogos analógicos é muito comum haver esse tipo de situação em que se deve esperar e até passar por algum sofrimento para se chegar a um resultado mais interessante posteriormente. Seja no clássico xadrez, onde se percebe a vantagem da perda de um peão ou uma outra peça melhor para ter uma posição de vantagem ou superioridade posterior, seja em jogos modernos, quando se entende que você pode não fazer pontos imediatos pois há recompensas maiores que resultam de uma série de ações intermediárias que não marcam pontos ou mesmo em jogos como basquete, quando se entende que o melhor no final do jogo é não sair para fazer a cesta
Um indivíduo que consegue se privar de coisas imediatas pois vê uma vantagem no longo prazo é capaz de não comer descontroladamente para não engordar, tem mais motivação para se sentar e estudar para poder se sair bem em um SAT ou mesmo ficar mais focado numa aula que não esteja tão divertida e aprender mais.
Essa competência é chamada de recompensa adiada (delayed reward) e não é muito difícil entender a relação entre os fatores. Um indivíduo que consegue se privar de coisas imediatas pois vê uma vantagem no longo prazo é capaz de não comer descontroladamente para não engordar, tem mais motivação para se sentar e estudar para poder se sair bem em um SAT ou mesmo ficar mais focado numa aula que não esteja tão divertida e aprender mais. Provavelmente se comparássemos isso com outras métricas de desempenho de esportes ou financeiro, veríamos resultados semelhantes.
Ao longo da vida, vamos tomando nossas bordoadas e aos poucos aprendemos a nos proteger delas. Começa com um simples dedo na tomada a até coisas que não devem ser ditas em momentos errados. E em quase todas, consiste basicamente em trocar o grande sofrimento de longo prazo pelo pequeno sofrimento imediato. Os exempos são inúmeros:
1- Saber se segurar para comer mais aquele salgadinho numa festa pra não engordar depois, 2- economizar durante o ano para conseguir fazer aquela viagem dos sonhos ou mesmo 3- ficar calado e não dizer tudo o que pensa quando alguém diz ou faz algo que você não concorda e assim vai.
Maturidade emocional consiste basicamente em trocar o grande sofrimento de longo prazo pelo pequeno sofrimento imediato.
Essa é, também, a maior marca de experiência que é possível distinguir entre pessoas ditas mais sêniores e outras ditas mais juniores. Saber se relacionar melhor com pessoas e lidar com egos tão diferentes em ambientes de trabalho cujas equipes são incrivelmente interdisciplinares é hoje a grande competência necessária. E tudo isso começa com uma boa percepção das consequências e um bom autocontrole emocional. O experimento do marshmallow é tão popular pois ele mostra de maneira muito clara qual é o nível de autocontrole que a criança exibe.
E o maior presente que um pai ou mãe pode dar para o seu filho é uma boa autoestima aliada a um bom autocontrole emocional. Qualquer pai que conseguir isso pode se dizer bem sucedido na incrivelmente árdua tarefa de educar seus filhos.
E tudo isso começa com uma percepção das consequências e um bom autocontrole emocional. Qualquer pai que conseguir isso pode se dizer bem sucedido na incrivelmente árdua tarefa de educar seus filhos.
Product Value Chain Chief Architect Officer (CAO) at Innofact - The Innovation Factory
6 aParabéns pelo texto meu caro, continue escrevendo. Alguns aspectos interessantes extraídos do teste do marshmallow é que algumas crianças que esperaram a recompensa maior, utilizaram táticas como olhar para os lados e sentar nas mãos para se seguraram. Logo, isso pode ser aprendido. Outro teste interessante foi quando dois grupos de adultos foram testados em uma conversa com um negro. O primeiro grupo exposto anteriormente a situações do tipo "marshmallow" teve um desempenho na conversa diferente do segundo grupo que não havia sido exposto. O primeiro time foi mais direto na conversa, já o segundo se mostrou preocupado em não cometer erros relativos à cor do entrevistador e acabaram se mostrando levianos. A conclusão é que mesmo que a pessoa seja treinada, ou disposta, a recompensa adiada, existe um quantidade limitada dela. Assunto fabuloso.
Partner at BTG Pactual
6 aBem interessante mesmo. Esse tema é muito bem aprofundado no livro ‘O pode do hábito’, de Charles Duhigg.Ele narra diversas situações de como o hábito pode influenciar as pessoas de diversas maneiras, mas pode ser mudado. Recomendo a leitura! Abs!!
Otimo artigo! Tem um livro recente (The Marshmallow Test) que usa esse caso como base pra aprofundar no tema...