Por uma escola com relevância
O debate da Escola sem partido volta à baila. E com os ânimos acirrados, em razão da forte polarização eleitoral recente, a discussão facilmente sai do nível do diálogo razoável para cair na tentadora teia da paixão.
Não há dúvidas, inclusive para os que não apoiam o controverso projeto de lei, que a escola é, por sua própria natureza, apartidária, no sentido mais estrito da palavra. Não é sensato pretender que uma escola seja propriedade de um sigla partidária, seja ela qual for.
Não obstante isso, a escola é um espaço plural, onde pessoas concretas dividem um espaço coletivo e onde é possível tanto a convergência quanto a divergência de ideias, inclusive as de cunho político, mas também as de cunho cultural, religioso, pedagógico.
O que a escola não é e nem poderia ser é neutra, no sentido de indiferente, de tanto faz. A presumida neutralidade da escola, e consequentemente, de seus atores, torna a escola irrelevante. Tomar partido, no sentido de romper a indiferença, é que torna a escola realmente relevante para o mundo de hoje.
Um aluno é brilhante e precisa ser estimulado a alcançar seu melhor potencial. A indiferença pode deixar esse aluno no limbo e pode lhe causar o grave dano do embotamento criativo. A escola precisa tomar partido, tomar uma decisão sobre esse aluno. O aluno é fraco e precisa de apoio pedagógico e emocional. Não se pode ser indiferente. A escola precisa tomar partido e ajudar aluno e família a ter progressos com essa criança. Isso é ser relevante. Fazer florescer cada criança e jovem, no melhor de seu potencial.
Uma escola também toma partido quando se empenha em ampliar o repertório científico, cultural e espiritual dos alunos. A posição mais cômoda seria a neutralidade. Mas que relevância teria a escola se ela simplesmente repetisse apenas o repertório da família? Criaríamos uma sucessão de espelhos e não o progresso. Para ser relevante, a escola acolhe e respeita o repertório da família e o amplia.
Por isso é tão grande a responsabilidade, quando isso é possível, de escolher a escola para nossas crianças. Temos que pensar não apenas na escola que vai reforçar os valores da família. Sem dúvida, esse é um elemento importante. Mas temos que pensar também na escola que vai ser capaz de levar a criança a outros patamares, que a família, sozinha, não seria capaz.
Ampliar repertório, de modo gradual e consoante às fases de maturidade da criança e do jovem, é a relevância da escola. E esse ponto é o mais sensível, na discussão sobre neutralidade. Aqui não é possível ser neutro. Será preciso escolher, tomar partido.
Ampliamos o repertório só para a aprovação no ingresso ao ensino superior ou ampliamos o repertório também para a formação da cidadania, da saúde emocional e espiritual? Esforçamos em oferecer um bom resultado a todos ou formamos uma turma de alunos exitosos para figurar no ranking do ENEM? Cuidamos da família como parceira, seja para ouvir críticas, seja para fazer críticas, ou as tratamos como clientes, na subserviência do registro de simples consumo?
Com ou sem o projeto de lei aprovado, a escola sempre terá que tomar partido. Por isso, mais que escola sem partido, precisamos de uma escola com relevância.
Gestão Pedagógica e executiva em Educação Básica e Superior Gestão de EAD IAs, usos práticos e implicações éticas na Educação
6 aobrigado por seu retorno. Vamos disseminar ideias potentes
Mestre em Linguística Aplicada/Psicopedagoga
6 aOlá, Flavio! Muito bom seu texto. A escola pode e deve ser local de relevância, e pra isso, é preciso que haja espaço para o diálogo, para as divergências e convergências. Só assim,formamos alunos críticos e que conseguem se manifestar com argumentação.