Suicídio: uma sombra que ronda também a Escola
O problema vai muito além do sintoma. Estamos numa sociedade exigente em termos de padrões estéticos e financeiros, o que, por si, gera uma sobrecarga emocional em qualquer pessoa de mínimo juízo. Soma-se a isso, a insegurança de futuro com a qual convivemos. Ela é mais tangível do que em gerações anteriores. A desorganização social e econômica em que se encontra o país. A ausência de parâmetros saudáveis para o cultivo de valores, de uma espiritualidade nutridora de esperança, faz parte desse conjunto.
No olho desse furacão, que está balançando a nós todos, estão os jovens em idade escolar. Sua própria idade já os impõe sérios e necessários questionamentos. E nosso contexto aumenta a temperatura para uma explosão emocional. E ela acontece, diariamente, em nossas escolas. O excesso de conteúdos a serem vencidos e a pressão natural que causam os exames de admissão ao ensino superior são ingredientes ainda mais ácidos nesse turbilhão.
Com a tomada de decisão extrema, de finalizar a vida, a pessoa sempre deseja transmitir uma mensagem. Mesmo que inconsciente. Para a Escola, se a pessoa está na idade escolar, uma mensagem a ser ouvida é sem dúvida a do fracasso como educação. Não um fracasso definitivo, como se tudo estivesse errado. E nem é uma responsabilização, pela complexidade da situação. No fim das contas, encontrar culpa e responsabilidade é uma tarefa ingrata e só faz piorar a situação.
Sem desrespeitar a inominável dor dos que ficam, a Escola precisa escutar essa mensagem, porque essa é a função primordial e abençoada do sintoma: indicar que há uma parte doente e que precisamos cuidar dela, antes de sua falência completa.
1. A partir de um determinado momento escolar, talvez entre 8o. e 9o. anos, é preciso instituir, oficialmente, uma estratégia de escuta efetiva dos alunos, de suas histórias, angústias, dúvidas. Isso pode ser feito de muitas formas. Nem sempre a Escola conta com profissionais liberados para isso. Mas é possível criar uma escala entre os professores que entram na turma e uma ou duas vezes por semana, um professor oferta 15 minutos de sua aula para essa escuta. Todos ganham e ninguém compromete o seu planejamento.
2. É imprescindível abrir as portas da escola para profissionais que cuidam dos alunos. Essa interlocução é uma relação em que todos ganham. Não é preciso que a escola perca sua autonomia, ao contrário, ela deve zelar pelo seu lugar específico. Mas o diálogo com profissionais externos lança luzes para aquele caso específico e para muitos outros que vamos aprendendo a identificar.
3. Quando há algum indício, mínimo que seja, de mudança comportamental do aluno, a família precisa ser comunicada e, junto com a escola, estabelecer um compromisso de franqueza. Situações como essas não devem ser tratadas como tabus. Toda informação favorece a prevenção. E a escola deve criar esse ambiente que deixe a família confortável para confiar a intimidade da situação.
4. É muito útil envolver outros alunos no cuidado com seus colegas. Entre os alunos, há sempre o que pode convidar para uma ida ao cinema, para uma conversa no intervalo. E há alunos que sinalizam a situação de seus colegas para a escola. Ter profissionais que transmitam aos alunos essa confiança, de forma que eles se sintam confortáveis em relatar algum problema deles próprios ou de outros é fundamental.
5. Programas, grupos interativos, projetos transdisciplinares são importantes, no nível da informação. Eles são indispensáveis. Mas não são suficientes, pois estão num nível intelectual. Proporcionar vivências, experiências mais concretas, envolvimento em projetos sociais costumam surtir um ótimo efeito preventivo.
O tema é delicado e deve ser tratado com um espírito muito íntegro, com sincera vontade de valorizar a vida, o sentido da vida. Todos temos os momentos sombrios e quem nunca se viu em uma situação limite na vida ? A escola é uma parceira muito importante nesse coletivo esforço de renovar o sentido de esperança em nossa linda juventude.