Precisamos deixar de seguir dicas universais
As discussões sobre diversidade, pluralidade e coletividade estão mais acesas do que nunca. Sendo assim, estamos aos poucos trazendo para o cerne das reflexões e dos debates, o entendimento de que as nossas dificuldades, fracassos e desvantagens têm muito mais uma natureza sócio-político do que individual.
No entanto, ainda vivemos em meio a profissionais que desenvolvem seus trabalhos e proliferam seus perfis nas redes sociais baseados em dicas e conselhos universais que, supostamente, garantem sucesso para quem segui-los, especialmente nos relacionamentos e no trabalho.
O ponto de partida destes considerados preceitos de sucesso são sempre experiências individuais. “Funcionou pra mim, funciona pra você. É só querer”, “Eu consegui, então você precisa ter força de vontade”, “Veja como me tornei uma mulher poderosa”, “Siga os passos para se tornar um empresário de sucesso” e etc. constroem os argumentos de quem propaga uma solução para tudo a curto prazo.
Estes atalhos também burlam diversos processos individuais e desconsideram as nuances estruturais da realidade de cada um, trazendo uma proposta genérica que faz a pessoa acreditar que tudo que ela deseja depende apenas dela.
Esta visão individualista foi muito bem embalada pelo Coaching (que vem de COACH = treinador em inglês). No entanto, no universo dos esportes é necessário a competição, já que existe, na maior parte deles, um vencedor e um perdedor. Na “vida real”, a conquista por sucesso nessa perspectiva egocentrada, em que se desconsidera a construção, o meio e o conjunto de outros agentes envolvidos, é extremamente perigosa e fadada ao insucesso.
Bom, pensando que cada um é diferente, tem uma localização social variável (e aqui consideramos as questões de gênero e raça, por exemplo) e está inserido em realidades distintas, o que pode causar quando se tenta seguir essas “verdades”? A resposta: frustração e ansiedade, no mínimo. “Se o outro consegue por que eu não consigo da mesma maneira?” Aí, a partir desse ponto, um problema que pode ser também circunstancial, passa a ser apenas um problema individual. Como se as ausências de foco, esforço e disciplina fossem os únicos responsáveis pelo fracasso de alguém.
Claro que precisamos tomar as rédeas da nossa vida, exercitar sempre reassumir o controle e sermos o responsáveis pelas nossas ações, mas fazer o exercício de reconhecer os privilégios e as vantagens sociais de cada um (inclusive os nossos) e analisar todos os contextos, é fundamental para desenvolver nossas próprias técnicas, saídas e formas para chegar onde se deseja.
É essencial prestarmos atenção aos discursos motivacionais que promovem atalhos para o êxito rápido e facilitado para não transformar um problema coletivo em uma questão individual. Afinal de contas, ser feliz e obter sucesso não é apenas uma questão de escolha e força de vontade.
Palestrante | Mentora e Facilitadora em Desenvolvimento Pessoal e Profissional | Redatora na Área de Economia e Finanças, Tecnologia e Marketing Digital Criadora de Conteúdo sobre Livros, Literatura e Sociedade no IG
5 aÉ de fato notório que a experiência de cada um , só serve para si mesmo! Bom dia..
HRBP | DHO | DE&I | Mentora
5 aEduardo Mota lê esse negócio maravilhoso aqui! Michele do Carmo extremamente assertivo seu artigo! Ano passado recebi um feedback de que deveria trabalhar meu autoconhecimento. Me orientaram a buscar Coaching. Como sou descrente da fórmula, fui buscar coisas que faziam sentido para mim e assim cheguei na comunicação não-violenta.