Prioridades do líder, quebrar regras e intuição: Tim Cook e suas teorias comentadas por Andrea Iorio
“Nossa completa tarefa é lhe dar algo que você não sabia que queria. E que quando você tem, não pode imaginar sua vida sem aquilo. E pode ter certeza que a Apple estará fazendo isso.”
Timothy Donald Cook nasceu na cidade do Mobile, Estados Unidos. Ele se formou em engenharia de produção industrial pela Universidade de Auburn no início dos anos 80. Em 1988, ele tirou seu MBA na Fuqua School of Business da Universidade de Duke.
Diferente do que muitas pessoas pensam, além da Apple, a carreira do Tim também é marcada pela IBM. Ele ficou 12 anos na multinacional e ocupou cargos de vice-presidente sênior de operações na internet, além de ter sido diretor de operações do grupo (COO) por um tempo.
A história de Cook com a Apple começou no final dos anos 90, quando ele foi contratado para trabalhar na empresa. Em duas décadas na companhia, ele se caracteriza por ser o homem de negócios dentro da Apple, ocupando o cargo de COO da multinacional logo no início. Além disso, ele se tornou tornou o braço direito de Jobs à frente da reestruturação do grupo. Principalmente em um dos períodos mais complicados da história na empresa, no qual foi necessário buscar fornecedores externos para descentralizar a produção.
Em agosto de 2011, Tim foi convidado por Jobs para assumir o cargo de CEO da multinacional. A frente da Apple desde então, com o Tim no comando, as ações da gigante da tecnologia tiveram mais de 100% de valorização. E foi sob a gestão de Cook que o conglomerado se fixou entre as marcas de maior valor do mundo, atingindo a marca de 1 trilhão de dólares em valor de mercado.
É considerado uma pessoa bastante calculista que raramente se posiciona em relação à sua vida pessoal. Entretanto, diferente de Jobs, Tim Cook é defensor de inúmeras causas (algo que o Steve Jobs não fazia).
E muito disso acontece porque ele cresceu no Sul dos EUA e viu coisas terríveis de discriminação. Além disso, em 2014, ele se assumiu homossexual em uma entrevista, e se tornou o primeiro CEO abertamente gay na lista da Fortune 500.
Ufa, tá aí uma pessoa que eu queria muito ter a oportunidade de ter uma conversa! Que experiência e que pessoa incrível, não é mesmo? A trajetória do Tim é tão incrível que eu poderia ficar mais alguns minutos falando dela por aqui, mas vou pular logo pra uma frase dele em que ele fala sobre a relação de tempo entre estratégia e execução! Escuta só!
“Passo quase todo o meu tempo focado em estratégia, pessoas, e execução, e acho que quase todo o resto recai sobre elas. Se você tem as pessoas mais brilhantes, pessoas inteligentes e ousadas que colaboram bem juntas, se você definir elas como no nosso caso, onde somos tudo produtos, onde nossa estratégia é muito orientada para o produto. Se essa estratégia estiver correta e se você estiver executando como um louco, tem ainda problemas que podem surgir, mas se você acertar esses três, o mundo será um ótimo lugar.”
Prestou atenção na oratória do Tim Cook no áudio acima, além do conteúdo? Ele te convenceu, com a forma dele de falar, ou nem tanto? Nem tanto, né? Você talvez tenha notado, do tom de voz do áudio acima do Tim Cook, que ele não é um grande comunicador. Ou pelo menos, eu, ouvindo o áudio acima pela primeira vez, não fiquei super convencido que ele pudesse ser um bom líder. Falando assim, né?
Por que? De fato porque, assim como é a crença comum, eu associava liderança com boas dotes de comunicação, e personalidade extrovertida, como aquela do Steve Jobs, inclusive, que o Tim Cook veio a substituir.
Todo mundo ficou preocupado e pessimista, inclusive, sobre o rumo da Apple quando o Tim Cook assumiu como CEO após a morte do Steve Jobs. A verdade é que a reputação de Cook trabalhou contra ele, no início. Mesmo sendo um mestre em questões operacionais, muita gente no entanto achava que ele não passava de um robozinho desbotado e sem imaginação. Não tinha nada do carisma e da personalidade envolvente e mobilizadora do seu antigo chefe, e também parecia não ter a imaginação do Steve Jobs.
Por isso, assim que ele assumiu, os especialistas não tiveram medo de afirmar que com o Tim no comando, a Apple iria perder o brilho e a liderança. Saíram artigos como um editorial no Huffington Post do título “Porque a Apple está condenada”.
O George Colony, CEO da Forrester, previa o fracasso da marca e chegou a dizer que “sem a chegada de um novo líder carismático, ela vai passar de grande empresa a boa empresa, com uma queda considerável no aumento de suas receitas e na inovação de produto”.
E o Tim Cook não era o líder carismático que todos queriam. Nossa, quantas pancadas e ataques por todo lado para o coitado Tim!
Óbvio, ele tinha uma missão super desafiadora de sair da sombra do Steve Jobs, o que é humanamente impossível para qualquer um. Mas o Tim Cook a abordou de forma serena, e nunca parecia estar nervoso ou preocupado. Óbvio, suas primeiras aparições públicas nos palcos, apresentando os novos produtos da Apple foram bastante desanimadoras e os fãs da Apple sentiram saudades da eloquência do Steve, mas afinal, o Tim provou que todos os céticos estavam errados: foi ele que levou a Apple a se tornar a primeira empresa da história a superar o marco de 1 trilhão de dólares, e no fim de 2019, a revista Wired chegou até a publicar um artigo do título: “Why Tim Cook is a Better Apple CEO than Steve Jobs”, ou seja “Porque o Tim Cook é um CEO da Apple melhor que o Steve Jobs”.
No artigo, analisam as principais métricas e o Tim ganha em todas: Tim Cook triplicou as receitas da Apple em seus quase 9 anos como CEO, através de acertos como Apple Watch, aquisição da Beats, e a transformação dos valores da Apple, fazendo dela uma companhia mais inclusiva, sustentável, e focada em privacidade (nesse último aspecto, sabemos que não tudo é perfeito, mas eles tem melhorado ao longo do tempo).
E por que quis contar tudo isso?
Para desmistificar uma crença muito forte no mundo da liderança, ou seja que você reconhece um líder por seus traços, tendo extroversão e oratória entre elas, além de outras.
Essa teoria é comum até hoje, e todos temos a tendência em cair nela fazendo julgamentos superficiais como “Ela sim faz um bom líder”ou “Ele não tem o que é preciso para ser líder”, na hora de escolher promoções ou fazer reviews de talentos em nossos times.
Mas esse é um dos maiores erros que poderíamos fazer, e demonstra que somos ainda influenciados de uma teoria de liderança, que já faz parte do passado.
Porque vamos por um momento repassar, rapidamente, a história da liderança: começando pelo Antigo Egito, o líder tinha o poder endossado pelos Deuses, e, com o passar do tempo, a liderança passou a ser dependente da sucessão genética, como por exemplo no império Romano ou no sistema feudal da Idade Média. Assim, filhos de líderes eram os líderes naturais de cada comunidade. Mesmo que o Machiavelli, em pleno século XVI, declarou primeiro no O Príncipe que é possível “aprender” a liderar, até o século XIX a teoria predominante da liderança era baseada na hipótese do “líder por traços” do Thomas Carlyle e Francis Galton. Em outras palavras, acreditava-se que uma pessoa nasce mais ou menos líder, de acordo com sua apresentação de traços cognitivos e comportamentais associados à capacidade de liderar (como por exemplo QI ou eloquência, como falamos antes). Foi só em 1960 que, amparada pela ciência, foi entendido que nada disso fazia sentido. O motivo principal era que a evidência demonstra que os mesmos líderes podiam ser bons em determinadas situações, e ruins em outras. Ou seja, a efetividade do líder dependia da interação entre o líder e o ambiente externo. Não que, antes, ninguém tenha questionado o status quo, mas foi só na metade do século passado que pudemos dizer, com certeza, que um líder não “nasce” predisposto a sê-lo. Ou seja, era possível formar-se líder ao longo da vida, e isso é provado pela neuroplasticidade, ou seja a capacidade que nossos cérebros de gerar novas sinapses mesmo em vida adulta.
O que tudo isso tem a ver com nosso papo de hoje? Simples: a ciência nos faz entender, e acreditar, que não é preciso “nascer com os traços do líder” para ser um. Em contrapartida, se você, de fato, nasce com esses traços, isso não é garantia de sucesso. Afinal, é preciso cultivar esses traços – sem contar que as características necessárias à liderança podem mudar. E essa é a história do Tim! E porque ela conecta tanto comigo? Deixa eu te contar.
Quem me conhece, sabe que sou uma pessoa muito reservada, introvertida e às vezes até solitária. Imagine então meu choque quando, no Brasil, meu primeiro emprego foi de liderar equipes de venda do Groupon, onde passava o dia todo falando no telefone, negociando, me comunicando de uma forma ou outra. Eu certamente não tinha os traços do líder que todo o mundo esperava, mas comecei a trabalhar em ser um.
Isso me esgotava, por um lado, mas me fez entender ao longo do tempo, que não existe uma correlação entre o quanto você comunica, e a força da sua liderança. O que eu quero dizer é que muitas vezes, isso tem uma relação inversa. Como assim, Andrea?
Deixa eu te explicar em uma situação hipotética: se você tivesse um limite de 100 palavras por dia a disposição, e você não pudesse falar mais do que elas, você seria um melhor ou pior comunicador do que hoje, que podemos falar a vontade?
Cada um de você pode ter uma interpretação diferente, mas ao meu ver você seria um melhor comunicador. Por que?
Por 2 motivos: primeiro, você vai escolher suas palavras com muito mais cuidado, e isso faz com que você foque nas coisas importantes. Pense bem, nós dizemos muitas coisas por impulso, hoje, e falamos a vontade, mas isso faz com que nossos times tenham que distinguir e selecionar o que é realmente importante. Quando você se controla e foca no que é importante, determinar prioridades.
E segundo, ao falar menos, você faz com que o poder da sua mensagem seja mais forte, aos olhos da equipe.
Quando estava no Groupon, realmente vivi um conflito interno e tentei inicialmente me adaptar e tentar estar alinhado mais aos traços do líder eloquente. Só que já esse não era eu mais, e eu estava ficando esgotado ao nao ser eu mesmo. Ai que apliquei essa teoria acima, que eu desenvolvi e que eu chamei da teoria do Líder Silencioso, que tinha rabiscado em um caderninho da época que achei de novo após minha última mudança e pude reler bastante emocionado, e onde consegui dar maior peso às palavras e consequentemente focar mais o meu impacto nos gestos, do que nas palavras.
Pois afinal, olhe que interessante o que o Tim Cook fala na frase: o grande foco dele está em Pessoas, Estratégia e Execução. Quando ele tiver esses elementos certeiros, ele consegue com que de forma proativa os times implementem junto com ele a visão do futuro que, como um bom líder, ele traçou.
Isso quer dizer, particularmente na parte de pessoas, é que elas não necessariamente precisam ser gerenciadas…será que ele pegou isso do Steve Jobs? Quem lembra que foi o Steve que já tinha falado isso, no episódio 2 do Metanoia Lab?
Pois bem, quando você tem as pessoas certas, você tem pessoas que inovam se sentindo donas do negócio…e por muitos lados, quebram regras. Ou que segundo o Tim Cook no próximo audio, não é ruim, pelo contrário. Ouça só.
“Eu acho que você raramente deve seguir as regras. Eu acho que você deveria escrever as regras. Eu acho que se você seguir as coisas de uma maneira como se fosse uma fórmula, você acabará sendo o mesmo que todo mundo. Talvez você tenha perdido algo e fique até pior. E se você quer se destacar, não pode fazer isso. Eu vi muitas empresas fazerem isso, e acho que é uma estratégia podre. Talvez eles sejam bons por alguns meses ou algo assim. Mas acho que você precisa escrever suas próprias regras. Acho que o que esse lugar te ensina tão bem é como aprender e como colaborar e como pensar em algo, como abordar algo e como trabalhar com pessoas que têm um ponto de vista muito diferente e vêm de uma perspectiva diferente da sua. E, então, todas essas coisas para mim representam o valor avassalador de estar aqui, não as regras específicas de marketing ou regras ou estratégia ou regras de operações ou qualquer que seja o curso. É o que realmente penso sobre isso. Escreva suas próprias regras.”
Alguém sabe qual era o lema do Mark Zuckerberg na época que ele fundou o Facebook?
Era “Move Fast and Break Things”, ou seja “se movimente rápido e quebre coisas”.
Fundamentalmente com isso queria ressaltar a importância de executar rapidamente e de quebrar os padrões do passado, ou afinal, quebrar regras.
Eu não sou um grande fã do Mark Zuckerberg, e hoje ainda vemos os impactos negativos de ter quebrado o elo de confiança com seus usuários, através dos vários escândalos de privacidade. Mas quis trazer a tona esse conceito, tão comum no Vale do Silício, de quebrar padrões, de quebrar regras.
E é disso que o Tim Cook fala no áudio acima, e isso que ele fez ao longo da carreira dele, nem só na Apple, quando ele sempre veio para quebrar as regras que existiam no ramo de operações da Apple, para começar. Olhe o histórico dele de quebrar regras e padrões, e olha só que não foi preso por isso, mas recompensado a cada vez por seu impacto!
Afinal, o Tim Cook é um engenheiro, que se formou na Universidade de Auburn, e o seu primeiro emprego foi na IBM, onde aprendeu cada detalhe da produção Just-in Time, que fundamentalmente é uma forma de produzir o quanto mais alinhado com previsão de vendas para minimizar estoque e que foi criado pela Toyota no Japão. Na IBM, o Tim porém já demonstrou ser um cara que quebrava regras. E isso o diferenciou dos outros, sendo logo identificado como funcionário de alto potencial e promovido constantemente ao longo dos 12 anos que ele passou na IBM, cuidando de operações. Mais tarde, ele foi para a Compaq, que na época era a maior produtora de PCs no mundo…quem já teve PC da Compaq? Eu lembro ainda, talvez esteja entregando a idade, mas faz parte. Só que ele ficou 6 meses apenas, mas nesses 6 meses ele conseguiu adotar o sistema de produção sob encomenda, que é uma evolução do sistema Just in Time, onde praticamente a Compaq começava o processo de produção após receber a encomenda – ou seja, em vez de construir em base a previsões, a empresa passou a atender encomendas reais, o que da muita flexibilidade.
Ele conseguiu em 6 meses! Eu nos primeiros 6 meses numa empresa estou ainda me adaptando, e o Tim conseguiu implementar esse novo sistema…extraordinário!
Aí foi quando ele foi pra Apple, e iremos falar dessa mudança mais tarde, mas onde foram inúmeras as regras e os padrões que ele quebrou, in primis fazendo uma terceirização da produção de vários componentes, que a Apple produzia até lá de forma verticalizada e direta, e que o Tim Cook começou a terceirizar a grandes produtores ao redor do mundo, o mais conhecido dos quais é a famigerada Foxconn, que tem uma reputação terrível devida aos ritmos de trabalhos quase escravos e uma alta taxa de suicídio entre os trabalhadores.
Pense bem, junto comigo, sobre esse tema das regras: elas frequentemente são criadas para proteger os sucessos do passado através uma padronização e alinhamento de nosso comportamento em relação a esse sucesso.
Só que o mundo muda, o consumidor muda, e a tecnologias mudam, e se a gente fica preso a regras, simplesmente não inova.
Estava recentemente lendo um artigo na Época Negócios, do título: “A transformação da errado em 70% das empresas. O que fazer para evitar o fracasso?”, onde um consultor da McKinsey, Harry Robinson, explica quais são os principais erros. Ele diz que hoje, em média, a expectativa de vida de uma empresa é de 15 anos, em média, e obviamente quase todas elas percebem o começo do declínio, e tentam se transformar e reinventar mas não conseguem: 70% delas falham no processo de transformação digital e organizacional.
Na entrevista, ele diz algo bem interessante: “As empresas mais bem-sucedidas tendem a pensar como atacantes: elas não se apegam às mesmas formas de fazer as coisas só por que esse é o status quo, ou por que é como faziam antes. Hoje elas assumem uma postura que as permite pensar no consumidor, se perguntar o que o consumidor quer e desenhar a evolução do negócio para se adequar às necessidades do cliente. Se isso significa acabar com uma linha de produtos, mudar a organização ou fazer aquisições que garantam capacidades que a empresa não tem, tudo bem”. Ou seja, elas quebram regras. Quebram coisas. São ativas, não passivas.
E isso me fez refletir sobre a relação entre iPod e iPhone em 2007. Já pensou que a escolha de lançar o iPhone praticamente matou o sucesso do iPod? Oh, se o iPod teve sucesso: ele foi o primeiro mega sucesso no mundo do consumidor sem ser computador, da Apple, transformou a indústria da música, e fomentou a renascença da Apple. Agora, pense bem: o iPhone praticamente matou o iPod: qual outra empresa teria a coragem de matar o seu produto principal, na aposta de algo que não fazia parte do core business deles, pois afinal a Apple não sabia muito de telefones celulares e certamente menos que Blackberry e Nokia na época? Poucas, ou nenhuma que certamente seguiria as regras escritas dos negócios.
Porque não necessariamente as regras escritas dos negócios são boas para ele, ou para você, mas muitas vezes são boas para quem as escreveu e pronto. No caso da Apple, vimos como o Tim Cook quebrou vários paradigmas na área de operações da Apple, e isso acabou sendo ótimo para a companhia. E para quem trabalha na área comercial, sabe muito bem como algumas regras elas são ruins para as vendas.
Vou contar um caso extremo que aconteceu comigo, e que quero até ter a sua opinião se acha que eu agi de forma certa ou errada (considerando que não acredito muito tenha certo e errado nesses casos), e de novo o exemplo vem do Groupon.
Em Salvador, tinha um buffet infantil, uma casa de festas, que vendia tão bem que nos meses que fazíamos oferta com ela, sempre batíamos a meta do mês da cidade. Quando assumi como gerente de Salvador, fui para Lauro de Freitas encontrar com a dona, e combinamos mais uma oferta. Foi sensacional, estouro de vendas. Como esperado. Mas após a oferta, surgiu um problema: o Groupon estava atrasando pagamentos para ela, e isso estava gerando um forte problema de caixa, até um dia ela me ligar gritando no telefone que estava com um fornecedor aí e ela não tinha dinheiro para pagá-lo e exigindo dinheiro. Eu não sei se isso era verdade ou mentira, e nunca irei saber. Foi assim, que sob pressão, eu tomei uma decisão de impulso: eu teria antecipado o dinheiro pra ela da minha conta pessoal, e depois achado uma forma do Groupon me pagar de volta.
Eu simplesmente não queria perder ela! Fiz isso, e assim que compartilhei isso com o time do Groupon, foi o caos: levei esporro do diretor comercial, e foi até difícil eu ter esse dinheiro de volta. Eu sei, e entendia: quebrei uma regra importante, mas alguns meses depois eu vi de novo o buffet ofertando no Groupon – mesmo que eu não estivesse mais na empresa, e sim, eu sei que você deve estar se perguntando se eu fui demitido por isso mas não foi essa a razão, eu sai mesmo para ir pro Tinder rs.
Ou seja, para destacarmos como profissionais, empresas e até pessoas, precisamos aprender a quebrar regras, e sermos diferentes. Mas é difícil: eu assisti um vídeo no Youtube recentemente de um canal de filosofia que adoro, chamado Einzelganger, do título: “A necessidade de aprovação te torna invisível”, recomendo assistir.
A tese dele é que como seres humanos, nós temos uma necessidade ancestral de que os outros gostem da gente: antigamente, a aceitação das tribos era fundamental para sobreviver, e em um sistema tribal, você precisava cumprir as regras para ser aceito. Mas o grande ponto é que no mundo de hoje, já não precisamos da validação dos outros, para sobreviver. Mas ainda desenhamos nossas vidas para que os outros gostem da gente, e se os outros são os que escreveram as regras, como nossos chefes, familiares, parceiros, amigos, ou ídolos, pois bem, significa que o fazemos cumprindo as regras que eles estabeleceram. Mas o preço disso é, como diz o ator Jim Carrey, ficarmos invisíveis, pois simplesmente somos iguais a todo mundo, e indistinguíveis.
E com isso não tem inovação, não tem pensamento crítico, não tem transformação.
E isso é extremamente perigoso. Agora, é interessante notar que quando não tem regras, não tem mais uma cartilha de instruções sobre o que devemos fazer, e abordar isso seguindo apenas um raciocínio lógico tradicional é perigoso: precisamos resgatar mais nossa intuição, e é disso que o Tim Cook nos fala no próximo audio. Ouça só.
“Intuição é algo com que você nasceu, ou é algo que você desenvolveu ao longo de sua carreira para refinar seus instintos? Eu acho que é mais o último. Eu não acho que você nasceu com intuição. Eu acho que a intuição amadurece e fica cada vez melhor ao longo do tempo, e o desafio que a maioria das pessoas tem, eu acho, é aprender a ouvir a sua intuição e descobrir como acessá-la de alguma forma. No meu caso, porém, o que descobri foi que, embora eu seja engenheiro e analítico, as decisões mais importantes que tomei não tiveram nada a ver com isso. Eles sempre foram baseados na intuição. E o da Apple é um excelente exemplo disso. Sabe, eu me lembro de formar minha lista de pros e cons, e não consegui fazer o gráfico funcionar da maneira que eu queria, porque queria algo que dissesse: “Eu sabia que eu deveria ir para a Apple”, mas de fato na funcionava. Não havia nada financeiramente que dizia que eu tinha que fazer isso. Conversei com pessoas em quem confiava que me conheciam e elas disseram: não é isso que você deve fazer. Não foi tão fácil. E as pessoas diziam “você é louco”. Você está trabalhando para a principal empresa de computadores do mundo. Como você pôde pensar em fazer isso? Você perdeu a cabeça. E, no entanto, essa voz dizia: vá para o oeste, jovem. Vá para Costa Oeste.”
O filósofo inglês John Locke, que viveu no século 17, é mais conhecido por ser um dos pais do liberalismo e autor da teoria do contrato social, que governa a relação entre estado e sociedade. Mas em realidade ele é também conhecido, se bem menos, por sua análise filosófica do conceito de Intuição, que vamos explorar agora.
Ele criou um modelo para mapear as fronteiras da intuição, e a coloca entre percepção sensorial de um lado, e demonstração por outro. Pense bem, falando em percepção sensorial: nesse caso, você usa seus sentidos para perceber que sei lá, a pizza na sua frente é redonda, mas é a intuição que te diz que um círculo não é igual a um quadrado.
Ao mesmo tempo, você pode bem através da intuição perceber que um círculo não é igual a um quadrado, mas você precisa de uma demonstração mais complexa para entender que, por exemplo, a somatória de dois ângulos em um triângulo é equivalente a um ângulo reto.
Simplesmente isso não acontece através da intuição.
Pois intuição é imediata.
Mas o que é intuição?
Vamos pra uma primeira definição: “faculdade ou ato de perceber, discernir ou pressentir coisas, independentemente de raciocínio ou de análise”. E em termos filosóficos, outra definição é: “forma de conhecimento direta, clara e imediata, capaz de investigar objetos pertencentes ao âmbito intelectual, a uma dimensão metafísica ou à realidade concreta”.
É difícil de tangibilizar, não é? Mas essa é exatamente a essência da intuição…a boa notícia é que a ciência pode nos ajudar a tangibilizar melhor de onde vem a intuição, e isso é fundamental para os líderes pois uma pesquisa recente da Smith School of Business chamada de “Intuition in the Age of Big Data”, ou “Intuição na era dos Dados”, aponta que a maioria dos líderes usam a própria intuição na hora de tomar decisões.
Como funciona isso?
Bom, o cérebro humano está programado a ver padrões. O cérebro não só armazena informações na medida que entra, mas também armazena insights e aprendizados de suas experiências passadas. A sua intuição se desenvolveu ao longo da sua vida inteira, e por isso o Tim Cook justamente diz que da pra treinar sim! Cada interação e experiência é categorizada em sua memória, a partir da sensação que ela gera, e a intuição se alimenta dessa memória profunda para te ajudar a tomar decisões sobre o futuro.
Percebe então que a chave para desenvolver e treinar a sua intuição é justamente de ter múltiplas experiências variadas, e não só rotinas, para que de fato você ajude a sua intuição ser mais assertiva?
Bom, em outras palavras, nossas decisões intuitivas são baseadas em dados, de alguma forma. Quando nos identificamos padrões de forma subconsciente, o seu corpo começa a disparar neuroquímicos para seja o cérebro e seja seu estômago. Esses marcadores somativos são o que nos dão aquela sensação que algo não está certo…quem já não teve essa sensação, como se fosse um sexto sentido? E atenção: esses processos automáticos são mais rápidos do que o pensamento racional, e isso os faz fundamentais quando você precisa tomar decisões rápidas sob informação incompleta.
Se imagine sendo o piloto de um avião que enquanto está em voo, o motor entra em pane.Isso me lembra muito o filme Sully: o herói do Rio Hudson, protagonizado por Tom Hanks. Quem não assistiu, recomendo muito pois traz muita reflexão legal sobre tomada de decisão em momentos de crise.
Nele, o avião entra em pane pouco após a decolagem e perde a propulsão dos dois motores. Diante disso e da necessidade de tomar uma decisão imediata, o piloto descarta manobras de voltar para o aeroporto de partida, assim como de ir para Teterboro, no próximo New Jersey, mas segue o instinto e acaba salvando todo o mundo ao decidir de pousar no rio Hudson. Mesmo que celebrado como herói pelos passageiros e pela imprensa, ele é duramente acusado por oficiais da aviação: “Vamos falar sobre como calculou esses parâmetros”, ele é perguntando. Ai o Sully responde de forma cândida: “Não havia tempo para calcular. Confiei em minha experiência em lidar com altitude e velocidade em milhares de voos ao longo de 4 décadas”. “Está dizendo que não fez as contas” retrucaram eles. Aí ele disse “Eu estimei”, deixando os caras sem acreditar.
Bom, esse trecho é muito interessante pois nos faz refletir sobre a necessidade que o líder tem em momentos de crise ou mudança externa drástica de condições, de tomar decisão rápida baseada na intuição (as vez nao tem o tempo hábil para acionarmos a parte lenta de nosso cérebro, como diria o prêmio Nobel Daniel Kahneman no livro dele, Pensar rápido, pensar devagar, que fala sobre os dois lados do nosso cérebro, o racional e o intuitivo, justamente), ao mesmo tempo que temos que tomar sob informação incompleta, pois a rapidez da mudança nos não permite esperar ter informação incompleta.
Ou seja, um processo de tomada de decisão muito assustador por qualquer um. Agora, pulando até o fim do filme – sem dar muito spoiler – o Sully e seu copiloto estão no tribunal da aviação tentando se defender: e após várias simulações mostrarem que ele teria conseguido pousar sim em um dos aeroportos mais próximos. Aí ele questiona: ‘’claramente os pilotos da simulação foram instruídos a se dirigirem ao aeroporto imediatamente após o choque com as aves, Não consideraram o tempo para análise e tomada de decisão. Nessas simulações , vocês tiraram a natureza humana desse cabine.
Isso é intuição, e esse é o impacto que pode ter em momento de crises.
Mas nós evitamos isso, por medo: Hoje, estamos acostumados a tomar decisões de negócio como se dirigíssemos um carro olhando pelo retrovisor, ao invés de olhar para frente. Pense bem: analisamos nossos balancetes e DREs, juntamos resultados de venda e os comparamos com o passado para a tomada de decisões sobre o futuro. Vamos devagar, inseguros, e logo menos batemos. Por que isso? Porque tomamos decisões sobre o presente com base em informações do passado. E o fazemos por medo de mergulharmos na informação incompleta do big data, em tempo real, porque temos medo da intuição pois não sabemos como ela funciona.
Para mergulhar no mundo do big data e das informações infinitas, precisamos aprender a tolerar a ambiguidade e botar na cabeça, e no coração, que não temos controle da informação completa, resgatando a intuição que é tão precisa no mundo tão complexo de hoje.
Só isso.
E para encerrar esse episódio, quero usar mais uma frase do Tim Cook em que ele diz:
“Algumas pessoas enxergam inovação como mudança, mas nós nunca vimos dessa forma. É sobre melhorar as coisas.”
Quem é Metanoia Lover sabe que nós falamos bastante sobre inovação e como desmistificá-la em nossos episódios, mas dessa vez eu quero usar essa frase escolhida para o encerramento para te fazer uma pergunta.
Partindo da premissa que, de acordo com o Tim, inovação é melhorar as coisas, você está inovando na sua vida? Com você? Com a sua saúde? Com a sua forma de ver o mundo? Com a sua relação com o trabalho e com a família?
Dentre diversos projetos que você vai precisar gerenciar na sua vida, o mais valioso e também mais importante é você. Sim, você é o principal projeto da sua vida. Portanto, inove o seu projeto, melhore ele. E seja feliz.
Reflita nisso como dever de casa, e me conte.
Se quiser que a sua resposta faça parte do próximo episódio do Podcast, compartilha comigo pelo WhatsApp 11 972262531 mandando um áudio de boa qualidade de até 1 minuto, se apresentando no começo. As melhores respostas irão estar no podcast. Qualquer ideia, dúvida, comentário ou até mesmo reclamação é só entrar em contato pelos sites Andrea Iorio.com.br, metanoialab.com.br , ou por meu linkedin ou instagram!
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Um grande abraço e até a próxima quarta feira às 8h30 da manhã com um novo episódio do Metanoia Lab!
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