Profissionais Híbridos: a nova exigência do mercado da Engenharia
É bem provável que você pense que o assunto deste artigo é “mimimi”.
Eu te entendo, mas não te defendo.
Por que este tipo de pensamento mantém ótimos profissionais na escassez, situação de desemprego, em empregos desinteressantes, exploratórios e até mesmo tóxicos. E eu não desejo isso para ninguém.
Você pode até dizer que já sabe de tudo o que eu vou falar. Mas se já sabe, por que você não age?
Sua carreira é sua responsabilidade.
Honrando o título desta newsletter, sempre vou falar da Engenharia além do óbvio.
Profissionais de engenharia, em sua maioria, encontram dificuldade em valorizar e falar sobre habilidades interpessoais e emocionais devido a uma combinação de fatores culturais, formativos e estruturais que moldaram historicamente essa profissão. A formação tradicional e conservadora e o ambiente de trabalho frequentemente colocam uma ênfase maior nas competências técnicas, o que cria barreiras para o desenvolvimento e a valorização de habilidades humanas. E quando esse desenvolvimento se faz necessário, surge o discurso do “mimimi”.
A maioria dos cursos superiores de Engenharia treina os alunos em uma abordagem muito focada no raciocínio lógico e técnico, onde a resolução de problemas objetivos e a aplicação de conhecimento científico são prioridades. Durante anos de estudo, o foco está em aprender teorias, equações e metodologias que resolvam problemas complexos, deixando pouco espaço para o desenvolvimento de habilidades emocionais e interpessoais.
Tudo isso cria uma percepção de que sucesso na engenharia está direta e exclusivamente ligado ao domínio técnico, enquanto as habilidades humanas são vistas como secundárias ou até irrelevantes para muitos.
Mas sempre há tempo de mudar a mentalidade para evoluir, concorda?
O mercado está mudando bem na sua vez
Sim, e essa mudança é fundamental para o futuro da sua carreira.
Durante muito tempo, o foco do mercado da Engenharia esteve nas habilidades técnicas. A excelência em cálculo, precisão e execução de projetos sempre foi a base do sucesso na carreira de um profissional de engenharia. No entanto, nos últimos anos o cenário começou a mudar. É só olhar à sua volta ou para o aparelho eletrônico que está na palma da sua mão agora.
Hoje, além de dominar as ferramentas técnicas, o mercado espera que esse profissional seja capaz de se comunicar, colaborar e liderar. Essa transformação começou a ganhar força à medida que as empresas perceberam que, por mais brilhantes que sejam os profissionais tecnicamente, muitos projetos enfrentam desafios relacionados à falta de integração entre equipes e falta de uma comunicação alinhada aos objetivos do projeto ou da empresa, ou seja, interações humanas.
Problemas começaram a surgir pela dificuldade de alinhar expectativas entre diferentes partes interessadas, como clientes, gestores e equipes multidisciplinares. Em um ambiente cada vez mais colaborativo e global, a capacidade de lidar com essas interações humanas se tornou tão importante quanto o domínio técnico, em alguns casos até mais, sendo decisivos para o sucesso ou fracasso do projeto.
Além disso, a crescente digitalização e automação de processos dentro das empresas está exigindo um novo tipo de profissional. São as habilidades humanas, como empatia, criatividade, visão integrada e sistêmica dos processos, gestão de conflitos, tomada de decisão, que fazem a diferença na resolução de problemas complexos e na inovação. Mas você consegue defender com clareza que já tem essas soft skills desenvolvidas? É muito provável que não.
Hoje, o mercado da Engenharia valoriza profissionais que saibam comunicar suas ideias com clareza, segurança e assertividade, que consigam negociar e persuadir, além de liderar equipes em busca de soluções inovadoras e sustentáveis. A capacidade de se adaptar a novos cenários, de entender as necessidades de diversas partes e de promover a integração entre diferentes setores é o que diferencia os profissionais.
Essa mudança de paradigma reflete a demanda por profissionais mais completos, capazes de entregar resultados que vão além da técnica, impactando positivamente o ambiente de trabalho, a sociedade e o mercado como um todo.
A engenharia do século 21 valoriza um perfil híbrido de profissional.
Você não teve o preparo necessário
A engenharia é uma área que historicamente valoriza a execução e entrega de resultados concretos e soluções práticas. Nesse ambiente, falar sobre emoções, relacionamentos e comunicação pode ser visto como algo menos tangível ou mensurável, e até mesmo como uma distração dos resultados técnicos, inclusive por ser uma área majoritariamente masculina, também. O famoso “mimimi”.
Há também uma pressão dentro da engenharia para manter uma imagem de competência técnica e racionalidade. Profissionais dessa área muitas vezes acreditam que demonstrar habilidades interpessoais e emocionais pode ser interpretado como uma fraqueza, ou como um desvio de foco de sua principal função. Isso se reflete em comportamentos como evitar falar de falhas, emoções ou dificuldades pessoais no ambiente de trabalho.
Outro fator importante é a falta de treinamento em habilidades interpessoais e emocionais ao longo da formação acadêmica e profissional. Muitos profissionais de Engenharia simplesmente não foram expostos a práticas de desenvolvimento dessas habilidades e não receberam incentivos para vê-las como parte importante da sua carreira.
Além disso, faltam modelos de referência dentro da própria profissão que demonstrem o valor da inteligência emocional e relacional no sucesso profissional. Quando esses modelos estão ausentes, é mais difícil para o profissional de Engenharia enxergar a importância dessas habilidades no seu cotidiano de trabalho.
Para que profissionais de Engenharia comecem a valorizar e discutir habilidades interpessoais, é necessário que se estabeleça uma mudança cultural e educacional dentro deste mercado, por que a visão tradicional, conservadora e rígida da Engenharia são grandes barreiras para essa mudança realmente acontecer. E visão é coisa de ser humano!
O reconhecimento de que as competências humanas são primordiais para o sucesso em projetos, liderança e inovação está crescendo, mas ainda é preciso derrubar o estigma de que essas habilidades são secundárias. Todos os agentes envolvidos têm um papel fundamental ao incorporar esse entendimento e reverbera-lo em suas ações.
Recomendados pelo LinkedIn
Como desenvolver um perfil híbrido
Existem três inteligências em especial que, quando integradas ao perfil de um profissional de Engenharia, formam a base de um profissional híbrido que alia competências técnicas a habilidades humanas.
Esse perfil é especialmente valorizado em ambientes de alta complexidade, como grandes empresas, projetos interdisciplinares ou em cargos de liderança, onde o profissional precisa não apenas resolver problemas técnicos, mas também gerir pessoas, influenciar decisões e promover inovação.
O profissional de Engenharia híbrido, com Inteligência Relacional, Emocional e Social desenvolvidas, é capaz de adaptar-se a mudanças, construir alianças estratégicas, liderar com empatia e entregar soluções que vão além do técnico.
A Inteligência Relacional permite ao profissional de Engenharia construir e manter relacionamentos de qualidade, fundamentais para a cooperação e o trabalho em equipe.
Projetos de engenharia são, em grande parte, colaborativos e envolvem profissionais de diferentes áreas. Um profissional com essa inteligência consegue criar um ambiente de confiança, onde as ideias fluem livremente, os conflitos são geridos com eficiência e as equipes trabalham de forma mais integrada. Isso se traduz em uma capacidade maior de liderar projetos interdisciplinares, resolver problemas de maneira conjunta e garantir que todos os envolvidos estejam alinhados com os objetivos do projeto.
A Inteligência Emocional capacita o profissional de Engenharia a gerenciar suas próprias emoções e compreender as emoções dos outros, o que é fundamental em ambientes de alta pressão e mudanças constantes.
A engenharia envolve decisões complexas que muitas vezes devem ser tomadas rapidamente e sob estresse. Profissionais emocionalmente inteligentes são mais resilientes e mantêm o controle em situações desafiadoras. Além disso, ao reconhecer as emoções de seus colegas e clientes, esses profissionais são capazes de ajustar suas abordagens de comunicação e negociação, promovendo um ambiente de trabalho mais harmonioso e produtivo.
A Inteligência Social permite que o profissional de Engenharia entenda e navegue pelas dinâmicas de diferentes ambientes.
Em grandes empresas e projetos, onde há múltiplas partes interessadas com interesses variados, a capacidade de compreender essas dinâmicas e adaptar o comportamento de acordo com o contexto é uma vantagem estratégica. Profissionais com alta Inteligência Social sabem como influenciar decisões, construir redes de contatos e se posicionar de forma a maximizar suas contribuições e oportunidades. Essa inteligência é fundamental para o desenvolvimento de networking estratégico, necessário para um crescimento sustentável na carreira.
Você está construindo o Futuro da Engenharia
A evolução do mercado de engenharia revela que os profissionais que vão se destacar no futuro serão aqueles que aprenderem a combinar excelência técnica com inteligência humana.
Não é “mimimi”.
As exigências atuais vão além de entregar soluções técnicas brilhantes ou inovadoras. Desenvolver soft skills não é mais uma opção, mas uma necessidade estratégica para quem deseja crescer na carreira e se destacar em um cenário altamente competitivo.
Agora é o momento de você dar o próximo passo.
Reflita sobre as suas interações diárias:
Afinal, você não é uma máquina
Antes de ser tudo que você se intitula ser hoje, você é um ser humano.
Habilidades interpessoais que integram o perfil híbrido transformam o profissional de Engenharia em alguém capaz de integrar e mobilizar pessoas, antecipar e mitigar conflitos, e, sobretudo, entregar resultados que agregam valor tanto do ponto de vista técnico quanto humano. Isso é prioridade em um mercado que exige inovação, agilidade e colaboração em todos os níveis.
Existem outras mentalidades que contribuem efetivamente para o desenvolvimento de um profissional com perfil híbrido que deseja se destacar na Engenharia:
Comente qual das mentalidades acima você gostaria de entender melhor.
Vou abordar a mais votada no próximo artigo!
E você, já tem perfil híbrido ou é da turma que "pensa que é mimimi"?
Neusa Coelho
Mentora de Engenheiras | Estratégias para Linkedin, Currículo, Entrevistas, Transição de Carreira e Social Selling | Treinadora de Soft Skills | Construção de Carreira Sustentável na Engenharia | Palestrante | Nexialista
Eletrotécnica | Subestações | Energias renováveis
3 mO “arroz com feijão” (conhecimento técnico acentuado) por si só já não basta. Muito interessante.
Engenheiro Eletricista/ Operador de Subestação
3 mDicas proveitosas, gostei demais do conteúdo.
Energy Engineer, Engenheira de Energia | Renewables, Renováveis | Commissioning , Comissionamento | Solar and Wind Power Systems, Geração Centralizada Solar e Eólica | O&M
3 mAdorei o conteúdo, Neusa! Apontamentos extremamente pertinentes e colocações impulsionadoras. Obrigada por compartilhar aqui sua visão diferenciada. Sobre a enquete: tenho muita curiosidade no que pode ser trazido acerca das mentalidades Estratégica e Resolutiva.