Projetos com orçamento reduzido também podem receber certificação ambiental

Case apresentado no Greenbuilding Brasil 2024 desmistifica a ideia de que a certificação só pode ser aplicada em grandes centros urbanos ou grandes investimentos.

Você sabia que é possível obter uma certificação ambiental mesmo em projetos com orçamentos mais baixos? A maior prova disso foi o caso de uma loja de Francisco Beltrão, no interior do Paraná. Apresentado no Greenbuilding Brasil 2024, o maior evento de construções sustentáveis da América Latina, ele comprova que, com pesquisa, planejamento e tecnologia, qualquer empreendimento pode ser mais sustentável, independentemente da localização ou dos recursos financeiros.

Para conquistar a certificação LEED BD+C (Building Design and Construction) em 2021, Pedro Augusto e Benjamin Boudler, engenheiros ambientais e consultores experientes da Benite Engenharia, tiveram que pôr em prática soluções estratégicas que uniram sustentabilidade, eficiência energética e conforto térmico em um contexto desafiador.

Os desafios e as soluções inovadoras

O primeiro aspecto avaliado foi a iluminação e a climatização do ambiente. Para isso, a análise da carta solar foi essencial para o posicionamento estratégico das janelas e o desenho de brises, maximizando a entrada de luz natural e minimizando o aquecimento interno. Claraboias foram instaladas na área de depósito, proporcionando um ambiente bem iluminado sem comprometer o conforto térmico. Para a escolha dos materiais adequados, foram realizadas simulações térmicas e de iluminação.

Diante do alto custo de sistemas de ar-condicionado eficientes, o projeto optou pela ventilação natural, com grandes aberturas inseridas nas fachadas para maximizar o fluxo de ar, ventiladores instalados no teto e paredes para complementar, e a implementação de  brises e abas para minimizar o aquecimento solar direto. Para garantir que o ambiente atendesse às exigências da certificação LEED ainda assim, os responsáveis fizeram testes de conforto térmico e fluidodinâmica computacional (CFD). Dessa forma, não comprometeram o bem-estar dos ocupantes e ainda tiveram uma significativa economia de energia. Além disso, a instalação de um sistema fotovoltaico maximizou a pontuação no crédito de desempenho energético.

Em uma região com escassez hídrica, a gestão de recursos foi uma prioridade. Por isso, foi implementado um sistema de captação e reaproveitamento da água da chuva, permitindo seu tratamento e uso em atividades não potáveis, como descargas e limpeza de pisos. Além disso, no final do terreno, foi projetada uma vala drenante que direciona o excedente para infiltração no solo, contribuindo para aliviar a sobrecarga no sistema de drenagem urbana.

Por fim, foram plantadas espécies nativas e adaptadas ao clima, o que eliminou a necessidade de irrigação. Um pomar e uma horta também foram criados, o que incentivou a sustentabilidade no ambiente de trabalho.

O impacto regional

Localizado no sudoeste do Paraná, o projeto enfrentou desafios logísticos para encontrar fornecedores capazes de atender às demandas de sustentabilidade, especialmente em relação à reciclagem de resíduos. Para mitigar essas dificuldades, a equipe adotou princípios de "não geração de resíduos" como sistemas construtivos pré-moldados, que reduziram desperdícios na obra e o uso de blocos de concreto aparentes, que evitou a necessidade de revestimentos adicionais.

Como resultado, o projeto atingiu uma taxa de geração de resíduos de menos de 10 kg por metro quadrado e reciclou quase 100% dos resíduos gerados. Além disso, ainda que tenha sido difícil encontrar fornecedores especializados na região, o planejamento desde a fase inicial ajudou a estabelecer parcerias estratégicas. Empresas locais de reciclagem de madeira e caliça desempenharam um papel importante, mostrando que é possível superar desafios regionais com organização e colaboração.

Saiba mais: Confira como foi o Greenbuilding Brasil 2024

Mais saudabilidade com menos recursos

O case da loja de Francisco Beltrão se tornou um sucesso ao observar os resultados das estratégias adotadas. A iluminação natural e estratégias de conforto térmico foram determinantes para alcançar o desempenho necessário sem sacrificar o bem-estar dos ocupantes.

Quando o assunto é conforto térmico, a eliminação do ar-condicionado não foi apenas uma questão de sustentabilidade, mas também de viabilidade econômica. A instalação de um sistema de climatização no padrão exigido pela certificação LEED representaria entre 35% e 40% do custo total do projeto, o que tornaria a iniciativa financeiramente inviável. Com as soluções implementadas, foi possível reduzir significativamente os custos sem comprometer o conforto dos usuários.

Durante o desenvolvimento, a equipe incorporou soluções como captação de água da chuva, sistemas fotovoltaicos, pavimentação drenante e valas de infiltração. Todas essas medidas foram projetadas para reduzir custos operacionais a longo prazo e minimizar impactos ambientais. O sistema fotovoltaico, por exemplo, não apenas atende à unidade certificada, mas também abastece outras sete unidades consumidoras da empresa, resultando em economia significativa.

Com o uso eficiente da água, foi alcançada uma redução de 76% no consumo em relação ao baseline. A vala de infiltração integrada ao paisagismo se mostrou eficaz na retenção de água das chuvas, reduzindo o escoamento superficial e evitando a sobrecarga de galerias pluviais.

Essas mudanças não apenas contribuíram para a certificação, mas também trouxeram retornos financeiros e melhorias na qualidade de vida dos funcionários. A satisfação dos colaboradores aumentou, com muitos relatando preferência em trabalhar nas instalações sustentáveis do projeto em relação às unidades tradicionais.

Esta foi a realização de Kleber Camera, engenheiro civil e cliente do projeto. Seu desejo de tornar a obra mais sustentável trouxe resultados que evidenciam que, mesmo em regiões afastadas e com limitações orçamentárias, iniciativas assim são viáveis com planejamento e tecnologias adequadas.

O impacto da certificação LEED

A busca por esta validação representou um acréscimo aproximado de 7% ao custo inicial do projeto. Esse valor inclui tanto a implementação de estratégias sustentáveis quanto os processos necessários para a certificação. Contudo, esse investimento se traduziu em economias significativas na operação do edifício, como a redução de 92% no consumo de energia em relação ao baseline. Esses ganhos operacionais impactam positivamente o fluxo de caixa da empresa, permitindo reinvestimentos em outras áreas.

Com resultados práticos e comprovados, este projeto demonstra que é possível alinhar sustentabilidade e viabilidade econômica, inspirando outras organizações a seguirem o mesmo caminho e buscarem por uma certificação ambiental como o LEED.

Como certificar um projeto? 

A fim de facilitar, organizar, orientar e contribuir para que tenhamos cada vez mais prédios verdes, o GBC Brasil desenvolveu uma série de selos e certificações.

Para conhecer todos eles e entender qual pode validar de forma mais completa seus projetos, acesse o site www.gbcbrasil.org.br.