Protegendo a saúde mental no fim do ano

O fim do ano se aproxima. Por alguma razão inexplicável, espera-se que a partir desse momento a felicidade se instale em todos os pontos da Terra.

            Tis the season to be jolly.

            Fosse apenas um desejo, uma aspiração, uma esperança, ah, que bom seria. Mas não. Ser feliz nessa época é quase uma obrigação.

            Não importa se o ano que passou trouxe com ele inúmeras provações. Tis the season to be jolly.

            Desemprego, amores rompidos ou corrompidos, disputas em família, luto. Tis the season to be jolly.

            Inveja, ciúme, ganância, arrogância, medo, insegurança. Tis the season to be jolly.

            Mesmo que o ano tenha sido bom, ainda que o ano não tenha sido ruim, sua despedida precisa superar todas as expectativas.

            No entanto, paradoxalmente, justamente nessa época as dores parecem amplificadas, as frustrações se acumulam, nossa vida não tão perfeita, nosso jardim menos verde que o do vizinho, formam uma imagem distorcida de todo o ano e mesmo dos anos já passados. O fracasso chega como uma bofetada.

            Justamente nessa época, quando somos praticamente convidados a demonstrar felicidade, torna-se mais difícil corresponder à alegria das comemorações e dos desejos de boas festas.

            Ah, mas Tis the season to be jolly. Não há espaço para tristeza, para solidão, para descontentamento, para aflições, para lágrimas, para angústia, nem mesmo para o nada, para a neutralidade dos sentimentos.

            Tudo precisa ser especial, divino e maravilhoso. E quando a felicidade se torna uma obrigação, a infelicidade é certa.

            Fins de relacionamento se tornam mais dolorosos. Como passar as festas sem uma companhia amorosa? E o beijo da meia-noite no último dia do ano?

            Presentes? Como? O dinheiro nunca esteve tão curto. Estresse, preocupação, filas, aglomerações... como enfrentar o aumento dos preços sem aumento de salário?

            Obrigações inúmeras, com presentes, parceiros, família, mas a pior obrigação de todas: essa é época de sermos felizes. E esse é o segredo da sensação de fracasso que nos acomete sempre nesse período.

            Como escapar dessa armadilha? Como preservar nossa saúde mental especialmente nessa época? Embora sejam mais simples as palavras do que as ações, o segredo é se negar a carregar todo esse peso que nos é imposto.

            Vista roupas leves que reflitam a leveza que há em você. Dispa-se dos pensamentos nocivos que procuram te enganar mostrando um espelho que distorce a sua imagem. Dispa-se das propagandas enganosas que promovem cenas de romantismos, famílias perfeitas ou finais felizes. São apenas publicidades ilusórias para vender uma passagem para o fim do arco-íris, onde não existe nenhum pote de ouro. O pote de ouro está dentro de você. Não precisa procurá-lo em nenhum outro lugar.

            Use cores saudáveis. Jogue fora as cores que lhe foram impostas. Use o vermelho para sorrir ou para chorar. Use o verde para comemorar com amigos ou curtir um pouco de solidão, um passo tão essencial para nosso desenvolvimento. Use o amarelo para se retirar em silêncio ou para expor suas ideias, ainda que sejam contrárias às da maioria. Use o branco ou o preto. O azul ou o lilás. As cores são suas. Você pinta o quadro de sua vida como desejar.

            Encontre um lugar que seja o seu cantinho restaurador. Busque uma posição confortável e feche os olhos. Caminhe dentro de sua mente, dentro de sua alma, em busca do seu próprio arco-íris, em busca de você, sua verdadeira identidade e abrace sua essência.

            Obviamente, esse é um exercício que deveria ser feito o ano todo. Problemas que não têm tanta importância durante os primeiros meses, tornam-se monstruosos em dezembro, mas são os mesmos problemas. A saúde mental é um processo, uma jornada, uma evolução.

            O fim de ano é o reflexo do ano como um todo.

            Assim como o futuro é a consequência do presente, o fim de ano é a consequência de todo o ano que passou, é a planta que nasce das sementes que foram espalhadas entre cada tique taque do relógio. Nada além disso.

Se nada foi plantado, nada será colhido. E tudo bem.  Não deixe que isso se torne mais um peso para você carregar.

            Esteja sozinho ou acompanhado, alegre ou triste, cansado ou cheio de energia, o fim de ano é seu. Aproveite, ou não, como bem entender.  Não deixe que tradições ou imposições te arrastem para o buraco escuro das decepções simplesmente porque você descobriu que o Papai Noel não existe.

Esqueça o Papai Noel e as renas voadoras. Faça do seu final de ano uma época que seja do seu agrado. Crie seu próprio céu e faça seus desejos para a sua própria estrela cadente. Enfeite-se com suas próprias luzes, comemore com o seu próprio fogo. Produza sua própria magia. As comemorações então dentro de você, não fora. Brilhe do jeito que você quiser. Seja você sua própria festa de Natal e Réveillon.

Tis the season to be jolly free.

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