Qual é o seu calibre?

A primeiro momento, o título deste artigo pode lhe soar estranho. Mas depois de dividirmos essa experiência, provavelmente concordará que todos nós temos um calibre.

Alguns anos atrás, meu pai trabalhava comigo na fábrica de alimentos. Ele era encarregado da produção, e sendo assim, nos víamos constantemente. Certo dia, quando ele entrou na minha sala para discutirmos sobre o planejamento da produção, percebi que ele estava mais gordo. Para quem conhece meu pai, sabe que ele emagreceu 35 kg. Pensei, onde estava que não percebi que ele havia engordado tão rapidamente? Passado aquele pensamento, perguntei para ele: Pai, você engordou novamente? Ele ficou apreensivo e como quem queria dizer alguma coisa, mas não sabia por onde começar. Pediu que o seguisse até o vestiário e removendo sua calça vi que suas pernas estavam extremamente inchadas.

Larguei tudo para trás e corri a procura de um nefrologista, que examinando meu velho e bom pai, encontrou um linfonodo, que é uma espécie de íngua que revela que o corpo tem um câncer. Foi internado e teve que parar de consumir líquidos para evitar que fosse obrigado a passar por hemodiálise.

Fez vários exames, passou por diversos especialistas, mas ninguém conseguia fazer um diagnóstico conclusivo.

Sendo assim, procurei indicações dos melhores oncologistas de São Paulo. Fui conduzido para conversar com um PHD em cirurgia, que naquele momento era responsável pelo setor de transplantes de órgãos no HC de São Paulo. Marquei uma consulta em seu consultório particular. Meu pai foi examinado. Todos os seus exames foram postos nas mãos desse especialista, que depois de 2 horas de análise, nos chamou e deu a seguinte informação. Senhores, estou diante de um caso raro. Com todos os meus estudos e competências, me sinto incapaz de ajuda-los. É como se tivéssemos que usar como medida uma régua, utilizando uma escala de 1 a 10 centímetros, penso que tenho 5 pontos e que a situação exija 9 pontos. Para tal indico o Dr.... Vou pedir que a minha secretária ligue para o consultório dele e marque uma consulta para hoje ainda.

Saí de lá com meu pai diretamente para essa nova indicação. Meu pai foi novamente examinado. Dessa vez por 3 horas fizeram uma varredura em seu corpo. Uma outra doutora é quem fez essa primeira triagem. Esperamos na recepção mais umas duas horas, quando finalmente nos apresentaram ao então especialista. Se tratava de um senhor de 70 anos. Atrás dele, um painel de mais ou menos 4 x 2 metros, onde estavam projetadas todas as imagens de exames do meu pai... Do primeiro ao último. Haviam várias observações feitas por ele. Depois de 30 minutos de bate papo, ele solicitou uma lauda de um exame feito pelo meu pai muitos anos antes e um exame atual. Disse o seguinte: Sr. Valter, estamos diante de um caso raro. Nos meus 50 anos de profissão, só vi nos livros. Indicou que voltássemos com os exames em mãos e feito isso, nos tranquilizou. Meu pai está vivinho da Silva, dando alegria a todos da nossa família.

Outros profissionais queriam retirar o fígado do meu pai... Outros entrar com quimioterapia, e assim vai... O que salvou a vida do meu pai foi o calibre deste último especialista. O que quero ensinar com essa experiência?

Durante nossa vida profissional e pessoal, certamente nos depararemos com alguma situação em que nos sentiremos incapazes de entregar o resultado necessário. Se isso acontecer, pense que todos temos um calibre, e que ele muda conforme nossas experiências. Ter tranquilidade e consciência de que não somos obrigados a saber de tudo e entender de tudo, nos trará a sensação de que somos todos alunos!

Eu mesmo já recorri a diversos colegas de profissão para discutir um projeto cujo tema me fosse estranho. Essa multipluralidade de ideias, o mundo em constante mudança nos faz não conhecer de tudo. Tente dividir seu conhecimento enquanto colhe informações. Isso fará a sua jornada mais interessante.

Abraço do Maurício!