Qual é o seu número?
(Artigo originalmente publicado no portalnovarejo.com.br)
*Por Jacques Meir
Um bom número representa algo que funcionou bem nesse ano em que a crise mostrou a sua cara feia
Final de ano é tempo de comparar e projetar. Comparar os números realizados com o prognosticado 12 meses atrás. Checar indicadores atingidos, ultrapassados e não alcançados. É provável que essa análise seja frustrante para muitas empresas neste momento. Principalmente se projetar um 2016 ainda mais decepcionante.
Na economia brasileira em geral, os números de 2015 são quase uma sequência de terror “B”, em que ao invés de sangue, jorram prejuízos e decepções: queda na renda, lojas fechadas, inflação em alta, recessão, desemprego, déficit público indecente, vendas menores, lucros minguantes, fluxo de caixa apertado, torniquete no crédito. Dentro de cada empresa, o departamento financeiro exorta pela redução de custos, o que, não por acaso, representou uma quase paralisia das contratações de temporários para o período de Natal. E como se não bastasse a hemorragia, ainda há a sombra de um processo de impeachment no horizonte.
NA ECONOMIA BRASILEIRA, OS NÚMEROS DE 2015
SÃO QUASE UMA SEQUÊNCIA DE TERROR "B", EM QUE AO INVÉS
DE SANGUE, JORRAM PREJUÍZOS E DECEPÇÕES
Ainda assim, gostaria de pedir aos leitores varejistas e empreendedores que fizessem um exercício disciplinado e metódico e olhassem novamente os números disponíveis. Um exercício paciente que vai além do lucro (ou do prejuízo) e das dificuldades de fluxo de caixa. É inevitável que cada empresa tenha um número robusto, consistente, sólido para exibir. Pode ser um acerto de produto – um hit de vendas – pode ser a queda no turnover dos funcionários (um senhor alívio nos custos – considerando seleção, treinamento, indenizações), ou ainda a melhoria da produtividade na reposição de estoques. Eventualmente, uma renegociação das taxas cobradas pelos adquirentes ou pelos bancos. Quem sabe até um azeitado processo de expansão de lojas, metodicamente pensado que propiciou mais vendas a custos menores. Não importa. O que vale é identificar um número que aponte um caminho para a sua empresa seguir. Um número no qual ela possa vislumbrar um caminho estratégico, um diferencial competitivo.
Não falo aqui de cultivar falsas esperanças ou de exercitar o autoengano. Falo de se debruçar sobre cada detalhe do negócio, partindo do princípio de que tudo pode ser mensurado, medido, comparado, analisado, entendido e projetado. Mais do que nunca, indicadores sólidos podem ajudar empresas a criar estatísticas melhores – dar novas visões e novas respostas para problemas que se avolumam e para superar momentos adversos como o atual.
IDENTIFICAR O NÚMERO QUE REPRESENTA
UM PADRÃO DESEJÁVEL, UM VALOR INTRÍNSECO POR SI SÓ,
É UM AFIRMAÇÃO DE COMPETÊNCIA E DE INDEPENDÊNCIA
Um bom número representa algo que funcionou bem nesse ano em que a crise mostrou a sua cara feia. E o que funcionou bem pode muito bem ser estudado e fornecer ideias que, por sua vez, permitam estabelecer novos padrões de performance. Melhor do que isso: identificar o número que representa um padrão desejável, um valor intrínseco por si só, é uma afirmação de competência e de independência. Muitas empresas, ao analisar os números na superfície, correm para contratar consultorias esperando soluções mirabolantes, um “olhar externo” que ajude a remodelar a operação.
Má notícia: consultorias são excelentes para aprimorar justamente (e somente) o que a empresa faz bem. Elas são craques em desenhar soluções voltadas nas melhores práticas existentes. O mais do mesmo benfeito. Para isso, são especialistas em identificar o número que funciona. Mas não espere delas o insight brilhante, a inovação inesperada, a criatividade capaz de mudar negócios, a partir do que pode ser feito que ainda inexiste.
Por incrível que pareça, a fonte de soluções, boas ideias e até mesmo de inovação mais qualificada da maior parte das empresas está dentro de casa. Basta identificar o número fora da curva, escondido, talvez solitário, despercebido em meio à profusão de indicadores tingidos de vermelho gritante, quiçá apenas os do mercado e não os do seu balanço.
Recomendo este exercício para este final de ano. Descubra qual é o seu (grande) número e veja o que ele pode mudar na sua empresa.
Para o mal e para o bem, os números não mentem.
*Jacques Meir é Diretor de Conhecimento e Plataformas de Conteúdo do Grupo Padrão