QUAL É O VALOR QUE OCUPAM AS CRISES NA NOSSA VIDA?
Para iniciar esta reflexão, gostaria de associar ao tema a teoria do Big Bang, o qual deu origem ao universo e que, por sua vez, originou as galáxias, as estrelas e os planetas. Como podemos relacionar essa teoria às nossas crises? Assim como o Big Bang, as crises são identificadas como um acúmulo de energia muito potente que necessita ser canalizada.
Ao longo da história, as crises têm se tornado grandes promotoras de transformação. Um exemplo que revolucionou e transformou a nossa história foi Thomas Edison, o inventor da lâmpada.
Conta-se que foram mais de mil vezes que ele fracassou até encontrar a lâmpada que realmente funcionasse. Alguns alunos ficavam impressionados com tamanha persistência e, quando lhe perguntavam se ele não se cansava de seguir em frente diante dos sucessivos fracassos , ele sempre respondia: Fracasso? Não sei do que você está falando, em cada tentativa descobri um motivo pelo qual uma lâmpada não funciona. Agora já sei mil maneiras de não fazer uma lâmpada. “Não foram mil tentativas falhas, foi uma invenção de mil passos”.
Quando li mais acerca dessa história, percebi como ainda tenho muito a aprender com os meus fracassos. Ainda lembro de momentos da minha infância, nos quais algo saía mal ou fora do controle e tudo a minha volta ficava cinza, deixando-me triste. Recordo-me que minha família enfrentava alguns entraves para lidar de forma positiva com aquilo que se apresentava “aparentemente” como negativo.
Depois de me aprofundar no estudo do comportamento humano, observo como a nossa forma de reagir a momentos ou situações atuais está intimamente relacionada com o modo que os adultos a nossa volta relacionavam-se com estas questões em nossa infância. Mas, agora, como adultos, o que podemos fazer a respeito para não ficarmos presos a isso que foi aprendido de forma tão natural? Será que é possível viver a crise de outra forma? Como ter esperança em momentos em que nada parece estar dando certo?
Para iniciar uma possível resposta, gostaria de citar a frase de Thomas Mann: “Uma das situações da vida mais cheia de esperança é aquela em que estamos tão mal que já não poderíamos estar pior.”
Muitas vezes, estamos tão enganados por nossos instintos e desejos, pelas emoções baixas e a mente coletiva, que perdemos o olfato ou nos tornamos cegos e surdos ante os sinais da vida. E sem força de vontade ou poder pessoal suficiente para corrigir os nossos erros, sem o amor necessário para escutar a voz da intuição, carecemos da consciência fundamental para perceber a verdade que nos liberta do erro. Então, a vida nos ensina drasticamente através das crises.
Olhar para as crises com bons olhos é desafiante, é ter ousadia para sair da nossa zona do conforto.
Momentos de crise, em geral, são rotulados como: catástrofes, obscuridade, fracasso, maldição etc. Mas, hoje, quero te fazer um convite a olhar para esses momentos como oportunidades de renascer das cinzas, como uma fênix.
Quando estamos passando por situações de crise parece que na nossa frente só existe uma tela branca sem imagens ou formas, muito parecida a de um quadro branco, no qual tudo pode ser escrito de novo e de uma outra forma.
Podemos cair na armadilha de nos sentirmos presos a essa situação e até vítimas do que está acontecendo, já que aparentemente não existem respostas, formas ou caminhos a serem seguidos. Então, sentimo-nos vulneráveis.
A vulnerabilidade nos conecta de forma profunda com o momento presente. Em geral, o sentimento interno nesses momentos é muito negativo e pessimista. A nossa mente reconhece que algo de ruim está acontecendo conosco e, imediatamente, manda sinais de proteção diante da situação. Assim, cria-se um cenário de autodefesa, em que custamos a aceitar a realidade tal qual ela é e, muitas vezes, até temos pensamentos autodestrutivos. Quando estamos em crise, não existe outro caminho, a não ser aceitar a realidade. Isso não significa ficar parado sem fazer nada ou resignado perante a situação atual. Mas, sim, deixar de resistir ao momento presente e se jogar desse escorregador em direção a algo muito melhor.
Uma das maiores razões ou dificuldades em aceitar as crises está relacionada a sentir uma ameaça inconsciente às pretensões ou às idealizações do ego.
As crises são forças que desafiam nossas máscaras e couraças, destruindo as referências que queremos manter diante do mundo.
Chegam momentos na vida em que é necessário realizar alguns movimentos ou mudanças internas e até externas. Caso você esteja muito acomodado na sua zona de conforto, queixando-se da sua situação atual ou se sinta insatisfeito em alguma área da sua vida, não fazendo nada para mudar, a vida vai se encarregar de te dar a chance de fazer o que tem de melhor por você e isso, em geral, aparece com cara de crise.
Reconheço que depois de cada crise vivida, eu me tornei uma melhor pessoa e consegui dar passos na minha evolução enquanto ser humano.
Gostaria que você não interpretasse que viver de crises seja a solução para os nossos problemas. Pelo contrário, acredito que nós mesmos podemos provocar as mudanças ou movimentos similares àqueles vivenciados nas crises.
Incentivar ou provocar situações que questionem momentos de acomodação ou de queixa constante pode ser o start para uma mudança positiva. Receber feedbacks, trabalhar numa equipe em que as relações sejam baseadas na confiança e na honestidade, ter relações saudáveis nas quais pessoas que te rodeiam queiram evoluir em busca da sua melhor versão pode ser de grande estímulo para não cair, de tempos em tempos, em crises em que tudo se afunda e nada permanece.
No meu trabalho como coach, tenho a oportunidade todos os dias de apoiar aos coachees no contato com a sua essência, com aquilo que há de melhor neles, já que tudo que acreditamos ser são máscaras e imagens projetadas de nós mesmos.
Despertar para a nossa vida é um ato de coragem e ousadia.
Estás pronto para viver a vida que mereces?