Qual é a tua obra? Um comentário independente.
Qual é a tua obra? Mario Sérgio Cortella, 2007
Comentários independentes Geraldo Barra, Maio de 2016
A vida é uma só. O que aprendemos no núcleo familiar de origem, trazemos para o trabalho, o que aprendemos em uma nova família formada, também. Da mesma forma trazemos os problemas, inevitável. Equalizar e amenizar as oscilações, deve ser um objetivo. Levamos para casa não somente o fruto material do nosso trabalho, mas também as consequências emocionais positivas e negativas, e igualmente devemos equalizar e amenizar as oscilações. Não dá para separar o que está fundido. Devemos harmonizar os ambientes.
O que deixamos por onde passamos se reflete na nossa ausência. O que os nossos filhos serão, o que os nossos amigos “levam” da gente, o que as nossas equipes, colaboradores, superiores e empresa se tornam com mais um dia de contribuição. O rastro que deixamos de certa forma nos eterniza. Ao lado da insignificância está a soberba. De um lado a “síndrome do impostor”, do outro o perigoso descolamento de imagem que cria monstros que pensam saber demais, são importantes demais, são grandes demais, e abandonam o autoconhecimento, a construção contínua, a desconstrução necessária. Consciência corporal é um bom primeiro passo.
Perguntar. Na minha leitura este é um dos exercícios mais importantes. Fazer bem feito depois do insucesso talvez seja a verdadeira forma de aprender. Somente errar não resolve. No mundo colaborativo de hoje, os erros são reverberados aos quatro ventos, muitas vezes pela própria “vítima”, mas por outro lado a colaboração também pode catalisar a busca por um entendimento melhor e pelo aprendizado coletivo. É uma questão de escolha.
Em se falando de repositório continuo de conhecimento, novamente a palavra chave é “colaboração”. Grande parte das repostas está mais perto do que pensamos, basta saber perguntar e promover a colaboração do conhecimento. Os seres humanos “normais”, digo, neuróticos, tem por natureza buscar ser melhores a cada dia. Querem ajudar, apesar de muitas vezes se esforçarem ao oposto. Tendo a oportunidade de ser útil, começa o ciclo virtuoso do compartilhamento.
A questão da lealdade recíproca entre empresa e empregado gera, não raramente, divergências de opinião. Empresa boa é aquela com bons pacotes de benefícios, auxilio isto, auxilio aquilo, etc... Profissional bom é aquele que busca teu desenvolvimento, tem por prioridade a busca pelo autoconhecimento e gerencia tua carreira como um negócio próprio. O perigo está na interação dos mundos perfeitos (que não existem), pois as empresas não são perfeitas e as pessoas tampouco. Se a companhia é assistencialista demais, pode estimular ainda mais o profissional que busca se desenvolver, mas pode paralisar outros tantos, que vão esperar a comida de boca aberta. O equilíbrio deve ser buscado nesta relação, com bastante delicadeza.
Sacudir a poeira e seguir em frente. Todos nós passamos por problemas, gerados por nós muitas vezes. Muitas vezes não. Se você não agrada à empresa ou se a empresa não te agrada, se o desafio não te agrada e não te motiva, se o ambiente não te agrada ou você não agrada ao ambiente, se o estresse está ganhando do cansaço saldável, certamente há algo errado. No entanto, normalmente não se pode resolver com uma decisão simples. O grande problema quando decidimos fazer uma mudança, é que dou outro lado vamos nos encontrar conosco novamente, aonde quer que seja.
Oportunidade é um conceito muito rico, amplo e fascinante. Nas crises, nossos olhos ficam mais sensíveis para perceber sinais de criatividade extrema. Charles Darwin, descrevendo sobre a seleção natural, nos trouxe ótimos exemplos de oportunidade. Aqueles que prosperam, não são os maiores, ou os mais fortes. Dinossauros não existem mais, mas as baratas estão por aí há 300 milhões de anos. A Kodak criou a foto digital, mas quebrou por tentar continuar a vender filmes fotográficos. A Nokia, criada em 1865, produzia papel. Na virada do século passou a produzir botas de borracha e armários de madeira. Passando a cabos elétricos, cresceu consideravelmente com a expansão do telefone. Flexibilidade é uma virtude essencial. Mudanças ocorrerão sempre.
Tudo o que estabiliza entra em decadência. A primeira vez que ouvi esta frase foi em 1987, em minha primeira aula de história, com a professora Cláudia. É natural do ser humano buscar a zona de conforto, muitas vezes inconscientemente. Mas não é nem na zona de conforto nem na zona do estresse que devemos nos concentrar, mas na zona intermediária, na qual se cria valor.
Em 13 de outubro de 1972 um avião colidiu com os andes com um time de rugby com seus familiares e amigos. As buscas foram encerradas em 21 de outubro. Roberto Canessa, então estudante de medicina foi quem sugeriu aos demais que deveriam, para continuar vivos, se alimentar dos que morreram na colisão. Ele e Fernando Parrado saíram em uma caminhada de 10 dias pelos andes em busca de civilização. Os sobreviventes foram resgatadas em meados de dezembro. A virtude e a ocasião, juntas, fazem surgir os lideres de fato.
No inicio do século XX, acreditava-se que em 100 anos os carros voariam e que a tecnologia faria com que a humanidade tivesse mais tempo para a família, lazer. Ledo engano. O ser humano não é assim, quer melhorar. Mudanças sempre houve, o que não tem precedentes é a velocidade com a qual atualmente acontecem. Estabilizar leva ao fracasso. A inquietude deve ser constante para buscar fazer o melhor com o que temos.
Inspiração e intensidade. Não há mistura melhor para promover um bom exemplo de liderança. “Experiência comprimida” também é uma forma de viajar no tempo. Oferecer esta abordagem para quem suporta a experiência é uma obrigação.
Disponibilizar experiência real do negócio a todos faz toda a diferença. Mostrar o que realmente é importante. Ajudar a entender o final da história da indústria, que normalmente coincide com o começo da experiência do cliente, pode ser um importante passo, compartilhando prioridades e entendendo o real motivo do nosso trabalho.
Compartilhar do mesmo alimento talvez seja o grande segredo da colaboração, atualmente. É imperativo desmancharmos as torres departamentais criando ambientes sem fronteiras definidas. Cada um no seu quadrado, desde que todos entendam que entre eles há uma área de intercessão. É nela que a colaboração é máxima, aonde se cria valor, de fato. É nela que o cliente é colocado no centro de tudo, o tempo todo.
Quando minha filha mais nova mudou de uma escola do bairro para um colégio maior, começaram as disciplinas especificas. Ainda no primeiro mês ela me perguntou: “- Papai, você sabe o que é Ética?” Fiquei sem palavras, inicialmente. Pensei por alguns segundos e respondi o que achava ser algo adequado a uma criança de 5 anos. Ela ouviu minha resposta (que pouco importa) e discordou dizendo: “-Não, papai. Ética é quando você não faz nada de errado, mesmo quando não há ninguém te olhando.” Quero? Devo? Posso? Realmente estas perguntas ajudam muito, mas minha filha me deu a cereja do bolo.
Este livro cita uma de minhas frases favoritas: “A vida é muito curta para ser pequena”. Arrogância talvez seja a pior inimiga de quem trabalha para servir ao outro. Colocar o cliente no centro de tudo o que fazemos é, muitas vezes, uma renúncia dolorida. Fazer o que deve ser feito parece simples, mas de simples não tem nada. O arrogante não pergunta, pois já tem todas as respostas. O exercício da pergunta humilde-fica.
Me permito um comentário paralelo entre a crítica ao comportamento humano em relação ao planeta e o comportamento por vezes observado em relação a muitas empresas. O planeta não é nosso. As empresas também não. Muitas vezes decisões são tomadas nos mais diversos níveis das organizações, como se a empresas pertencessem aos ilustres supervisores, gerentes, chefes, coordenadores, tomadores da decisão. Consequências, por vezes, são auferidas do desejo pessoal, ou do interesse individual deste ou daquele, sem a menor consciência. Este é um dos grandes desafios das organizações: balancear autonomia e “accountability” (que ainda não consegui definir em Português).
O ser humano é o único que morre, porque é o único que sabe que vai morrer. Felizes daqueles que têm tanta consciência da sua insignificância quanto da sua importância.