Qual a herança da pandemia nas escolas?
POR VANDI DOGADO
Após quase dois anos distantes da escola devido à pandemia, alunos retornaram às salas de aula no fim de 2021. Permaneceu tudo como antes? Não! Conforme a Organização das Nações Unidas para a Educação, “a Ciência e a Cultura (UNESCO), a pandemia da COVID-19 impactou no ensino e na saúde mental de mais de 1,5 bilhão de estudantes em 188 países, cerca de 91% do total de estudantes no planeta.”
No Brasil, um fenômeno impôs enorme desafio aos educadores. Além das perdas no aprendizado, crianças e adolescentes regressaram demasiadamente ansiosos, agressivos e desconcentrados. Constata-se vertiginoso aumento de violência, incapacidade de lidar com conflitos e crises generalizadas de ansiedade. Ademais, os alunos desaprenderam a ouvir e focar, fato que impede os trabalhos pedagógicos.
A educação formal objetiva o desenvolvimento cognitivo, afetivo e social dos educandos. É nas inter-relações pessoais que ocorre a construção de saberes, compreensão do respeito às regras e vivências emotivas.
As escolas particulares conseguiram por teleaulas êxito no processo de desenvolvimento cognitivo no decorrer pandemia. Entretanto, não escaparam dos efeitos danosos nos aspectos socioafetivos. As escolas públicas sofreram os impactos nos três aspectos, sendo o social e emocional tão afetados quanto o cognitivo.
A princípio, professores tentaram solucionar a indisciplina com aplicação de bastante conteúdo e atividades para compensar as perdas do longo tempo sem aulas. Perceberam, então, que estratégias antes funcionais, não surtiam resultados. Isso causou angústia nos docentes. Sobraram questionamentos, por exemplo, qual a razão de tal fenômeno? Ele passará naturalmente?
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É complexo alavancar todas as causas, mas algumas são notórias. Dois livros anteriores à pandemia, já revelaram os males ao cérebro provocados pelo uso exagerado da ‘internet’. São eles: Geração Superficial de Nicholas Carr e Fábrica de Cretinos Digitais de Michel Desmuget.
Segundo os autores, o emprego excessivo de redes sociais, impôs o declínio intelectual da Geração Z (nativos digitais). Jovens têm grandes dificuldades de foco, percepção, memória, linguagem e raciocínio complexo. Tal efeito se deve às características rápidas e fragmentadas do meio digital. Crianças e adolescentes consomem escrita e vídeos curtos. Passam o dedo na tela por horas sem ler um único texto que contenha mais de uma frase ou um vídeo maior que um minuto. Sem contar que o modismo de "dancinhas" do Tick Tock que gerou ansiedade nos alunos que não conseguem mais ficar sentados.
Na pandemia, o uso de dispositivos tecnológicos disparou, intensificando os efeitos mencionados pelos autores. Assim sendo, é evidente que as consequências foram devastadores ao intelecto. Claro que isso não explica tudo. Há decorrência da própria ausência das aulas e aos conflitos nos lares impostos pelo confinamento.
Os profissionais do magistério estão apavorados com a situação. Há estratégias para solucionar a nova problemática? Sim! Primeiramente, abordar as causas do fenômeno aos alunos é o primeiro passo. Deve-se provocar reflexão sobre o comportamento. A segunda estratégia seria desenvolver projetos esportivos e artístico-culturais relacionados à noção de ética e cidadania. Oficinas artísticas (leitura, teatro, música, dança…) e esportivas (capoeira, xadrez, atletismo, esporte coletivos…) causam efeitos opostos aos da tecnologia. Os alunos aprenderão a lidar com regras e emoções, compreenderão as nunces de relações sociais e melhorarão a cognição.
Quanto ao atraso nos conteúdos, o melhor a fazer é instituir projetos paralelos às aulas regulares. Contudo, sem cuidar da saúde mental dos alunos, será dificultoso obter sucesso no processo de ensino-aprendizagem. Os novos desafios não serão resolvidos apenas pelos profissionais da Educação. Compreender o que cada aluno experimentou em seus lares é fundamental. Psicólogos, principalmente, precisam fazer parte deste trabalho.
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Psicanalista, Terapeuta e Consteladora Familiar e Organizacional, Psicopedagoga, Educadora Especial, Neuropsicologia, Psicoterapeuta Holísticas, Bacharel Teologia | Consultora Associada à Corporate Gestão 360o
2 aNesse novo momento os pais devem fazer parte dessa história. Desenvolver a saúde mental é fundamental para começar o aprendizado. Essa pandemia deixou muitas cicatrizes na alma e no corpo, exigir dos alunos, dos educadores e pais será "impossível" Temos que começar uma nova história, ensinar é difícil, apreender é nesse momento doloroso. Vamos pensar, agir e sentir reformando nossas crenças limitantes. Sei que equidade, justiça, valores, resiliência, superação ... São necessárias agora. Excelente conteúdo. 😘 Quantas perdas e lutos que não podemos esquecer como mágica, ainda tem os lutos coletivos que afetam a mente.