Quando o Bullying Parte da Própria Escola

Quando o Bullying Parte da Própria Escola

É o final de maio em uma escola do estado de Indiana, nos EUA. Dentre as festividades de encerramento do ano letivo, uma das atividades programadas pela escola seria a premiação dos alunos em diversas categorias: o aluno mais popular; o mais carismático; o mais engraçado e assim por diante.

Tudo corria bem até quando o filho de Rick e Estella Castejon foi chamado ao palco para receber o “prêmio” de aluno mais irritante do ano. Os pais, atônitos, foram obrigado a assistir seu filho de 11 anos de idade e portador de autismo subir ao palco, perante dezenas de pessoas estranhas e sem entender o que realmente estava acontecendo, para receber o seu “troféu”.

Segundo o pai da criança foi a própria professora da turma que apresentou a premiação e, ao fim, tentou tratar a situação como uma grande brincadeira, o que acabou não convencendo a audiência presente. A professora ainda tentou argumentar dizendo que as próprias crianças votaram nos vencedores de cada categoria.

“Acho que eles [a escola] pensaram que era uma piada engraçada, não viram nada de errado. Mas eu nunca vejo meu filho ou qualquer criança como irritante”, lamentou a mãe da criança.

A notícia ganhou destaque nacional e a instituição de ensino pediu desculpas publicamente à família de seu aluno, prometendo abrir uma ação disciplinar para investigar a conduta da equipe pedagógica.

Um Desafio Constante

Fatos como o ocorrido com a família Castejon são mais corriqueiros do que possamos imaginar a princípio. A experiência cotidiana mostra que é muito raro que uma criança autista tenha uma vida escolar satisfatória. Segundo pesquisas da National Autistic Society (NAS), no Reino Unido as crianças autistas têm três vezes ou mais chances de serem expulsas de suas escolas em comparação com seus colegas de mesma idade e sem necessidades especiais.

Diretores e coordenadores pedagógicos costumam justificar os motivos para essas expulsões como fruto de ‘’agressão física contra um adulto’. Esquecem-se, portanto, que comportamentos disruptivos ou em certa medida tidos como agressivos podem ser uma forma de manifestação da condição de espectro autista do próprio aluno. Repreender, suspender ou expulsar um aluno nestas condições só contribui para aumentar a discriminação e o preconceito contra crianças que, para além de sua condição especial, merecem receber todo o carinho, atenção e dedicação dedicados aos demais alunos.

O Antídoto

Ainda de acordo com a National Autistic Society (NAS), antes que medidas drásticas sejam tomadas, a escola deveria buscar apoio e orientação de órgãos locais e profissionais especializados, além de capacitar sua equipe técnica e pedagógica para melhor compreender e atender de modo satisfatório seus alunos com necessidades especiais.

A Escola, como instituição, tem por missão ser um porto seguro; um local de acolhimento e segurança para todos que a frequentam, sejam eles pais alunos ou professores. A prática do Bullying jamais pode partir de uma escola ou de seus professores, coordenadores e pessoal de apoio, pois tais atitudes contrariam sua própria natureza. É de sua obrigação combater todas as formas de abuso – seja o cibernético ou o presencial – e apenas o conhecimento e a capacitação de seus profissionais prova-se ser o antídoto mais eficaz contra injustiças, preconceito e discriminação.

Nelson Biagio Junior é Co-Founder e COO da ELS Schoolsec


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