Quantos Joãos de Deus encontramos no mundo corporativo? Por que preferimos fechar os olhos como fizeram a mídia e a justiça por tanto tempo?
Quando o João deixou de ser de Deus? Ou será que nunca foi? Longe de mim escrever um artigo contestando seus poderes ou sua obra. Seria um insulto a milhares de pessoas de todo o mundo que se dizem curadas e a outras milhares assistidas por suas obras sociais. Me questiono...
Pode alguém ser realmente especial e fazer com que a vaidade venha sucumbir o seu dom?
Se a própria mitologia religiosa diz que até Lúcifer foi um anjo criado por Deus (sem o João) e sucumbiu às tentações, quem dirá um médium mortal.
Existem muitos Joãos de Deus no mundo corporativo.
Quantas vezes em suas áreas profissionais (e pessoal também) não presenciamos pessoas fazendo o mesmo? Calma! Não estou levando em consideração a graduação do ato (crimes e falhas podem ser mais ou menos ofensivos para a sociedade). Falo do princípio da vaidade de se considerar melhor e não compartilhar a potencialidade em prol dos demais.
- O CEO que se coloca acima do bem e do mal
- O chefão que ainda usa o teste do sofá como critério
- O recrutador de RH com dinâmicas e requisitos absurdos
- O professor que pelo menos por algum momento) se achou muito bom para o nível dos seus alunos.
- O executivo que se considera superior aos subordinados
- O famoso (de qualquer segmento) que se acha diferente dos anônimos.
- O gênio reconhecido numa determinada área (já que as inteligências são múltiplas) que se acha diferenciado dos demais... E por aí vai...
A fama e a vaidade podem destruir dons
O poder, a fama, a celebritização trazem consigo a vaidade, a arrogância e onipotência. É muito difícil para nós mortais conseguirmos não sucumbir a essas tentações abusivas. Afinal, se realmente nos considerarmos melhores ou especiais fica muito mais fácil de driblar a consciência já que auto-justificamos nossos atos como menos ofensivos já que praticados diante de seres que julgamos inferiores. Isso aconteceu com milhares que figuras históricas e até sociedades inteiras como a alemã no Nazismo e a própria brasileira durante a escravidão.
O médium das Celebridades Internacionais
Bem… Não quero aprofundar esse artigo nas questões de fé, religiosas, históricas ou políticas (embora sejam temas que aprecio, mas existem pesquisadores muito mais qualificados nesta área do que eu). Também não quero polêmica. Se esse fosse o objetivo teria sido feito esse texto originalmente para o Facebook e não o Linkedin, que felizmente, por enquanto, ainda não rasteja no umbral das baixarias. Me resumo a parte da qual acho que conheço bem: a comunicação e o relacionamento humano.
João de Deus não foi somente endeusado por seus supostos poderes paranormais, mas pela exposição pela mídia brasileira e internacional, frequentado por políticos, jogadores de futebol, empresários e celebridades - como a maior âncora do mundo- Oprah Winfrey. Porém, coube ao tupiniquim, Pedro Bial ter a coragem de puxar a ponta desse novelo (que parece não acabar de desenrolar nunca). Até tentei esperar a poeira baixar para escrever essas linhas de desabafo do meu pensamento dividido. Mas não deu para esperar, pois a cada dia multiplicam as denúncias.
O ser humano pode ser bom e ruim ao mesmo tempo?
Pensamento dividido sim! Não consigo conceber que já sejam mais de 300 denúncias e boa parte das vítimas tenha voltado a continuar frequentar a casa de Deus, perdão casa de João de deus ( agora grafado propositalmente com letra minúscula). Não duvido que elas possam ter sofrido os abusos relatados, muito pelo contrário. Entendo que denunciar envolva uma série de fatores e consequências. Mas o que as moveu a continuar indo em direção ao algoz?
A justiça é realmente cega? Muitas perguntas...
O que estava fazendo a justiça que arquivou e abafou por tanto tempo as isoladas denúncias anteriores a esse escândalo? Porque não foi dado nenhum prosseguimento as investigações? E quando chegou ao primeiro julgamento? Por que não aprofundaram no inquérito ou deram garantias práticas e psicológicas para que surgissem testemunhas, da mesma forma como fazem quando quer a justiça em outros segmentos?
Onde estava a imprensa que silenciou e nunca apurou os indícios?
Aonde estava a mesma mídia que vive correndo atrás de denúncias e pautas ( muitas vezes ainda nem confirmadas) envolvendo mortais padres pedófilos, pastores abusadores e pais de santos degenerados? Precisou ele, Pedro Bial, depois de décadas de seu talento desperdiçado em futilidades do Big Brother e há um ano concorrendo com talks shows de madrugada onde o humor vale mais que a informação, para ter a coragem de desmistificar João de deus.
O questionamento não vai para o brilhantismo de Pedro Bial. Isso todos sabem. Mas como alguém que está há tanto tempo afastado do factual do dia a dia tem acesso a essa denúncia inédita? Ou seja, para essas informações chegarem até ele, já deviam estar saltando a olhos vistos há muito tempo para quem trabalha com hard news.
- E o que vedava os olhos tanto da imprensa como da justiça?