QUE MOBILIDADE?
A gestão das estradas nacionais que não concessões ou subconcessões e das estradas municipais, não obedecem à exigência de um padrão mínimo de qualidade, como acontece no sector concessionado. O sector público é indiferente à qualidade/performance. Existem estradas esburacadas, mal pintadas, mal sinalizadas, algumas praticamente abandonadas e sem manutenção. Um activo valioso que se está a deteriorar com consequências graves na economia, em particular em matéria de sobre custos com acidentes e vítimas.
· A sinistralidade em Portugal custa ao país cerca de 600 mortes e mais de 3.000 milhões de €/ ano. Introduzindo melhorias criteriosas na qualidade, o investimento do setor traria benefícios enormes na redução da despesa do Serviço Nacional de Saúde, na proteção social e, acima de tudo, nas famílias que suportam este desperdício de vidas irrepetíveis e um sofrimento sem sentido.
· O investimento em Sinalização e Segurança em Portugal é inferior a 1/3 do que a AFESP considera ser o necessário para garantir níveis paulatinamente mais reduzidos de sinistralidade. A Indústria da sinalização e segurança rodoviária tem caído num total esquecimento por erros na definição de prioridades do sector.
· Só o preço mais baixo interessa, já não a Qualidade. Em Concursos públicos é recorrente qualquer empresa que não do sector apresentar propostas e ganhar, em prejuízo do próprio sector e das empresas especializadas, que contribuem para a atividade económica do país e, não sem grande esforço, para a manutenção do emprego.
· Falta a exigência de regras e certificação da qualidade na escolha. Um verdadeiro “salve-se quem puder” no sector público e privado do Estado. O primado do Custo prevalece cegamente, sem atender ao Benefício. Mas a vida útil dos materiais adquiridos sem qualidade é curta e a sua reposição exige novos investimentos para os quais não há capacidade financeira e por isso a degradação prolifera.
· A imagem de um país perigoso em termos rodoviários pode voltar a surgir nos órgãos de comunicação social internacionais com efeitos devastadores no turismo, além dos que já a todos nos aflige. Por isso, é preciso Conservar e Repor a Sinalização de acordo com as melhores práticas e com as Normas europeias a que o país se obrigou. Acrescem responsabilidades criminais com consequências indemnizatórias em caso de sinistros, se assim não for.
É indispensável proteger as competências de engenharia civil, na componente das infraestruturas e obras publicas, das empresas do sector, que estão aptas a produzir e a exportar serviços. Só o conseguem fazer se o seu mercado de origem for suporte para alavancar a sua expansão.
O Covid-19 trouxe para o diálogo político o valor da vida humana e a necessidade de a preservar em detrimento de outras prioridades. Como é possível, então, continuar a assistir à perda de vidas humanas que poderiam ser poupadas se houvesse uma atenção reforçada pelas infraestruturas e uma cultura de conservação do património?
Não se pode aceitar que as vidas que se perdem na estrada não tenham o mesmo valor das que se perdem numa Unidade de Cuidados Intensivos.