Quem deve educar: a família ou a escola?
“Não vejo a hora do meu filho voltar à escola para ver se lá dão um jeito nele. É muito desobediente, malcriado, e não ajuda em nada”, dizia um pai nesta pandemia. Quem é o dono desse problema: a escola ou a família? Esse pepino deve ser desentortado pelos pais.
Quem gerou deve educar! Eis o motivo do protagonismo dos pais na educação dos filhos. A responsabilidade dos genitores não termina na procriação, pois espera-se que continuem com a obra educativa, função que não pode ser suprida por ninguém.
A família educa para o bem ou para o mal
A família é a primeira e fundamental escola porque é comunidade de amor, onde os filhos são queridos não pelas qualidades que possuem, mas porque são filhos. O ambiente familiar marca o indivíduo para sempre, sendo a influência mais profunda e duradora em sua vida. Nesse espaço se constrói a personalidade e o amadurecimento afetivo que condicionam todo o desenvolvimento humano, cultural e social de seus integrantes. O entorno natural de afetos proporcionado pela família é o mais adequado à dignidade da pessoa, sempre necessitada de carinho, instrução personalizada, compreensão e estímulo para superar-se e crescer em virtudes. A influência familiar dá-se tanto para o bem quanto para o mal, dependendo da qualidade de seu ambiente e da educação oferecida.
A educação familiar é informal e profunda
A educação familiar não é formal como a escolar, mas espontânea e descontraída. Esse clima de informalidade é o mais adequado para os pais se ocuparem de questões profundas como as de caráter, temperamento, transmissão de valores, virtudes humanas, atitudes cívicas, orientação profissional alicerçada no autoconhecimento e espírito de serviço.
A educação escolar é insuficiente
Não basta a educação escolar para as pessoas darem certo na vida. Muitos pais estão satisfeitos com esse tipo de educação e acreditam que ao proporcionar uma instituição de grife sua responsabilidade está cumprida. Resta então torcer para que o tempo e a sorte ofereçam uma boa oportunidade profissional ao filho, e este corresponda com as qualidades humanas − que terá que desenvolver sozinho −, para ser um profissional de excelência em todos os aspectos. Será que é esse o papel dos pais e da escola?
A valorização do aprendizado científico em detrimento da formação integral da pessoa (que inclui a educação da vontade e dos afetos), faz-nos presenciar horrorizados a atuação de “competentes” técnicos em altos cargos no governo e na sociedade civil, que se corrompem facilmente pelo dinheiro e se destroem moralmente.
Os filhos devem ter um estilo de vida simples e austero
Os filhos devem ser educados para os valores essenciais da vida humana, e essa tarefa cabe à família, que evidentemente poderá contar com programas de formação comportamental em boas escolas. Porém, os filhos só crescerão numa justa liberdade diante dos bens materiais se os pais derem exemplo de que o homem vale mais pelo que é do que pelo que tem, ajudando-os a crescer numa justa liberdade diante dos bens materiais, e adotando um estilo de vida simples e austero.
A família forma nos valores essenciais
A família é a principal transmissora de valores éticos, culturais, sociais, espirituais e religiosos. Quando interiorizados, esses valores se tornam bússolas que apontam para o correto agir e orientam a vontade até o bem, norteando a pessoa para mover-se retamente em todos os âmbitos de sua vida. Os valores que se cultivam no lar fixam-se de forma indelével e performativa. Ao inerir num filho convidam-no à continua superação de seus limites e a realizar com esforço e perfeição crescentes seus deveres familiares, acadêmicos e sociais, sem se acomodar com o nível alcançado, pois quem não avança retrocede.
A falta de valores impede superação dos limites
Sem valores uma pessoa desiste da tarefa que se tornou cansativa, foge do dever árduo a cumprir, ouve uma murmuração ou calúnia sem reagir, ferra-se em sua opinião e discute de forma agressiva, claudica diante do ganho fácil dos subornos.
A família educa até por osmose
Na família se dá uma forma de aprendizagem por impregnação ou osmose onde as crianças, desde muito pequenas, imitam os adultos ao ver seus costumes, forma de agir, modos de se conduzir e falar. Isso ocorre porque a família é uma comunidade de convivência intensa, onde as relações informais fazem as pessoas se comportarem espontânea e naturalmente, revelando-se como são e tornando-se, os adultos, referências para os pequenos.
A escola tem função subsidiária
A tarefa educativa compete primeiramente aos pais, dada a primária incumbência de que quem gerou deve educar, e não pode ser transferida à escola. É natural que os pais deleguem, sob vigilância, algumas funções a esta, como o ensino de várias disciplinas apropriadas à faixa etária dos filhos. Mas, não se pode concluir que ao delegar devam abandonar a educação dos filhos nas mãos de outros. Por isso, os pais têm o direito e o dever de conhecer o ideário e objetivos da escola, seus programas e corpo docente. Infelizmente, a necessidade de trabalhar fora faz que muitos pais transfiram a educação à escola e, como Pilatos, lavam as mãos e se desobrigam da responsabilidade de dar uma formação integral a cada filho.
O que constrói a família não pode ser destruído pela escola
Nem todas as escolas se preocupam com a formação integral de seus alunos, ou possuem um bom programa para transmitir valores humanos. Porém, não deixam de indicar padrões de comportamento quando um professor, ao explicar o conteúdo de sua disciplina, revela aos alunos suas crenças, visão de mundo, virtudes ou vícios. Se a conduta do mestre não é exemplar provocará no aprendiz confusão e diminuição de valores. Por isso, não é razoável que a família se despreocupe com a qualidade ética do professorado e do material didático que utiliza. O que constrói arduamente a família não pode ser destruído pela atitude irresponsável do docente.
Há pais que reclamam da correção feita aos filhos
Os professores estão desmotivados porque ganham pouco e seu trabalho não é valorizado. Soma-se a isso o fato de que muitos jovens enfrentam desrespeitosamente seus mestres e, quando corrigidos, seus pais vão à escola para repreendê-los, ao invés de agradecer a ajuda prestada. Com isso, aplaudem os erros dos filhos, e fixam-nos na conduta da qual um dia serão suas vítimas.
Escolas inteligentes reconhecem o protagonismo dos pais
As escolas inteligentes sabem que a falta de um bom ambiente familiar faz surgir nos adolescentes transtornos comportamentais, medos, ansiedades, agressividades, pessimismos, incapacidade para relações sociais profundas, falta de respeito ou interesse pelos demais. Por serem inteligentes, essas escolas também reconhecem que os adolescentes mais adaptados à instituição geralmente têm um histórico de famílias coesas, transmissoras de valores e onde a comunicação entre seus membros está sempre presente. Por isso, essas escolas reconhecem o protagonismo dos pais na ação educativa dos seus alunos, e sabem que a família não pode ser substituída nem por elas − instituições de ensino −, nem por outros entes privados ou púbicos.
Valoriza-se as escolas que trazem os pais para dentro de seus muros
Conscientes também das dificuldades que os pais enfrentam na educação do comportamento de seus filhos − dada a descarga desinformativa e manipuladoras das diferentes mídias −, as escolas inteligentes trazem os pais para dentro de seus muros, a fim de ajudá-los por meio de programas como Escola de família, Pais que educam, Escola de pais, entre outros, e aproximam deles conteúdos acadêmicos e práticos desenvolvidos por profissionais seguros e competentes no âmbito da orientação familiar. Se a escola se faz eco do que os pais devem ensinar aos filhos, tal coerência e unidade educativa reforçam nos alunos a convicção de que seus pais estão com a verdade e que vale a pena seguir suas orientações.
Unidade de princípios entre a família e a escola
Entre a família e a escola deve existir sintonia, unidade de princípios e de valores. Quando as instituições de ensino atuam conjuntamente com os pais na transmissão dos valores humanos, mesmo tendo presente que sua ação não é tão profunda como a da família, os resultados no ambiente escolar são excelentes e de curto, como o respeito pelos professores e funcionários, ambiente de verdadeira amizade e ajuda mútua entre os alunos, além da valorização do conceito da própria instituição.
Texto produzido por Ari Esteves (www.ariesteves.com.br)
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