A quem interessa o desconto no setor farmacêutico?

O preço médio dos medicamentos no Brasil é um dos menores em comparação a outros países também em desenvolvimento. Também somos recordistas no quesito Carga Tributária.

O Brasil possui uma das legislações mais rígidas do mundo em relação à produção de medicamentos. Nos EUA, onde a rigidez do FDA é propagada como exemplo de regulamentação para outros países, os produtos são registrados uma única vez. Depois, basta apenas seguir as boas normas de fabricação e controle.

Já no Brasil a licença deve ser renovada a cada cinco anos. Ou seja, muitas vezes as Indústrias têm que ratificar a sua competência refazendo testes farmacêuticos (bioequivalência e biodisponibilidade) em produtos já comercializados, o que acaba onerando os custos de fabricação.

Ainda na área industrial, as certificações dos processos de fabricação e controle são extremamente rígidas, o que é interessante para o consumidor, pois garante a oferta de produtos de qualidade. Mas isso também implica em custo para a indústria.

Vale lembrar que não somos um País produtor de matéria-prima e, por consequência, importamos insumos em dólar. Diante de tal situação, podemos afirmar que temos um custo de fabricação significativo – fator que pode inviabilizar investimentos em pesquisas. Sabemos que a descoberta de novas drogas e até mesmo a evolução das drogas já existentes depende basicamente da iniciativa privada. Entretanto, baixando a lucratividade do setor fica quase inviável que esta atitude venha dos empresários do setor farmacêutico brasileiro. Sendo assim, seremos sempre reféns das patentes internacionais.

No setor da distribuição, o cenário não é muito diferente. Nossas estradas encontram-se em péssimo estado de conservação, a segurança oferecida pelo Estado é insuficiente e esses fatores oneram o custo de logística no País.

No varejo, a venda média por estabelecimento é muito baixa e os custos fixos são altíssimos – quer seja em função dos impostos, da necessidade da presença dos profissionais farmacêuticos em tempo integral nos PDV’s, quer seja pela agressividade comercial praticada pelas grandes corporações.

Uma parcela significativa de Indústrias oferece descontos como forma de horizontalizar sua linha de produtos, principalmente aquelas que atuam com produtos similares e também as que produzem genéricos. Os distribuidores, por sua vez, também praticam descontos agressivos para poder gerar volume. No varejo, a prática de desconto como estratégia de venda perdeu o controle e – não é raro – vemos estabelecimentos oferecerem descontos superiores aos custos de entrada do produto.

É preciso repensar o mercado de descontos agressivos para não prejudicarmos o nosso próprio mercado.


Pedro Antunes , PMP, PMI-ACP, CSPO, PSM, ITIL

CTO | Diretor de Tecnologia | Diretor de Produtos

7 a

Excelente artigo. No tocante ao PDV, atualmente infelizmente os descontos são um dos únicos diferenciais competitivos das drogarias. O canal digital no setor farmacêutico ainda está engatinhando comparados aos outros mercados. Hoje 80% dos imóveis para venda e aluguel são encontrados pela internet. No setor de alimentos, mais da metade dos deliveries têm origem online. A abertura do canal digital para as farmácias de varejo abriria um novo leque de diferenciais como o marketing digital, inteligência de mercado e entendimento do comportamento do shopper. Hoje, ainda vemos novas farmácias de um mesmo dono e mesma rede, sendo abertas na tentativa e erro, com distância de 50 metros uma da outra.

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