Questionando o óbvio
“Ah, mas não é óbvio que….”
Recentemente, comecei um projeto voluntário com foco na credibilidade de ONGs.
E desde quando comecei a tratar este tema sensível, é comum ouvir as pessoas divagando sobre diversos desafios e terminando uma ou outra frase com “mas, no final, é meio óbvio que vai ser sempre assim…” ou “era claro que precisaria de x e y para funcionar”.
E desde então, comecei a chamar isso de Espaço Comum.
O Espaço Comum é um espaço onde as pessoas já sabem o resultado de algum esforço: negativo, insuficiente. Ele vem, geralmente, com um suspiro e um ar de frustração. Ou indiferença.
No espaço comum, alguns tentam se movimentar e se sentem exaustos. Outros, nem tentam. É um espaço que não se questiona. Se aceita o que é ruim como se Deus é quem tivesse criado, como se fosse força da Natureza. Não se pensa sobre, é assim que as coisas são.
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Junto das obviedades citadas em vários diálogos, comecei a ler um livro de Don Norman: Design For a Better World. Ele fala do quanto nossa sociedade é artificial. Quantos dos nossos métodos de medição são criados por nós e, de repente, são inquestionáveis.
Um desses casos são as estações do ano. Lembro, quando era criança, de ouvir a TV avisando: "vai começar o horário de verão". Pra mim, aquilo era uma loucura. Veja bem: eu sou paraense, morei muitos anos pertinho do equador. Lá não tem outono, inverno… lá tem tempo com chuva e sem chuva. E muito rio, muita floresta. O pôr do sol nunca me desapontou. Ele surgia sempre no mesmo horário: a hora de ir pra casa.
Alguns caminhos são mais fáceis de serem questionados quando viemos de espaços novos, somos os estranhos. Onde determinados hábitos não nos cabem. E talvez por isso que São Paulo tenha virado um grande laboratório: tão curioso, esquisito, incoerente, divertido.
Desde de quando comecei a ouvir tantas obviedades, comecei a me dar um pequeno exercício: como um completo estranho entenderia minha rotina? Como veria esse desafio? Com quem tenho que falar que é de outra realidade? Quais lentes que não tenho?
Aproveitei que sou dançaria de salão e muitas pessoas de diferentes países vem para São Paulo aprender o ritmo que gosto. Tiro eles pra conversar, pra dar uma volta. “O que é novo pra você?”.
Qual óbvio você vai tirar pra dançar hoje?