A sociedade do cansaço é a vida em sprints de 100 metros
Nicolas Hoizey

A sociedade do cansaço é a vida em sprints de 100 metros

Nas 2 semanas que tirei de férias, encontrei uma amiga que também trabalha com RH, que prefiro chamar de área de gente ou de pessoas. Apesar de não falarmos de trabalho, naturalmente surgiu o tema da #qualidadedevida nas organizações e como as pausas se tornaram ainda mais necessárias. Eu tinha acabado de ler "A Sociedade do Cansaço" do Byung-Chul Han e ele traz uma reflexão sobre como a cultura atual tende a desencadear o #esgotamentomental e, por consequência, o #burnout. A conversa, o livro, a pausa, tudo foi bem oportuno, pois eu estava, de verdade, precisando de 2 semanas off de férias para me reenergizar.

De acordo com Byung-Chul Han, saímos de uma sociedade disciplinar: na qual, em geral, as pessoas aceitavam serem mais controladas por regras e disciplinas, com uma cobrança vinda de fora. E entramos na sociedade do desempenho: na qual, em geral, as pessoas tendem a ser orientadas pelas próprias motivações. Passamos a nos responsabilizar pela nossa carreira e a autocobrança se tornou até maior do que a feita por outras pessoas (característica da sociedade disciplinar).

Considero que essa mudança tem muita a ver com os objetivos das novas gerações e que acabaram por influenciar outras: cada vez mais buscamos trabalhar com o que acreditamos. Essa diversidade intergeracional acrescentou, ao longo das décadas, perfis mais questionadores, sonhadores, inovadores, independentes. Sem rotular gerações porque estaria limitando as pessoas, o que vimos tem sido um movimento por ambientes mais abertos aos "erros", à experimentação, a seguir os próprios propósitos e valores, às perguntas. Passamos também a nos auto gerenciar mais, nos tornamos intraempreendedoras.

Como toda transição, antes de encontrar um ponto de equilíbrio, pendemos para o extremo oposto. No caso da sociedade do desempenho, de acordo com Byung-Chul Han, nos energizamos tanto por trabalhar no que acreditamos que começamos a nos cobrar mais e ultrapassamos, por vezes, os nossos limites em nome de algo que acreditamos valer muito a pena. Se o que faço faz sentido, então tudo bem. Mas não está tudo bem se começar a prejudicar a nossa saúde.

“A autoexploração é muito mais eficiente que a exploração estranha, pois caminha de mãos dadas com o sentimento de liberdade. Paradoxalmente, o primeiro sintoma do burnout é a euforia. Lançamo-nos eufóricos ao trabalho. Por fim, acabamos quebrando." -
Byung-Chul Han

A sociedade do cansaço tem potencial de ser causadora de doenças. E reflete o nosso Fazer em excesso e não do Ser. Provavelmente, está por trás, também, do movimento de resignação, das demissões em massa pelo mundo e também no Brasil, da eterna insatisfação.

Quero deixar claro que apoio, fortemente, o trabalho pelo propósito, pelo que acreditamos. E também na educação para o autoconhecimento como fundamental para encontrarmos o equilíbrio entre Fazer e Ser. Uma habilidade muitas vezes esquecida e que é a base para entender as motivações pessoais, a perceber os próprios limites, a entender por que é desafiador simplesmente parar e cuidar de si.

Recentemente, me dei conta de que estou SEMPRE fora da zona de conforto porque os desafios me energizam! O que adoro! Mas igualmente importante foi perceber o quanto preciso parar, me oferecer tempo livre, ócio criativo mesmo.

Foi o que fiz nessas 2 semanas de férias, de Descanso, que me ajudaram a relembrar da importância das pausas. Voltei para a rotina com a cabeça reorganizada e decidida a falar mais Nãos. Não posso, não consigo são limites. Junto com os nãos, priorizar é pra mim chave aqui.

Uma reflexão importante que penso que podemos tirar do livro do Byung-Chul Han é entender tudo que a sociedade do desempenho, do trabalho em prol de algo maior nos oferece de positivo, ao mesmo tempo em que nos oferecemos mais cuidado, mais atenção, mais autoconhecimento. Que nossas escolhas nos ajudem a viver uma vida mais plena e saudável mentalmente, inclusive. E que façamos desta uma sociedade do equilíbrio, que se cansa mas sabe descansar. Afinal, estamos na maratona da vida, e não em uma série de sprints de 100 metros, não é mesmo?

Leo Toco

Inteligência Artificial & Gestão para o mundo jurídico | Podcast | Newsletter | Cursos | Workshops | Implementação |

2 a

Excelente reflexão! Precisamos reescrever esta falsa crença de que quando estamos fazendo o que gostamos ou buscando o nosso propósito não existe esgotamento.

Carla Nadeu Bushatsky

Gerente Executiva Jurídica Regional na Aegea Saneamento e Participações S.A.

2 a

Adorei a reflexão, Milena!

Bárbaro seu artigo, Milena Brentan Nao poderia ser mais pertinente para o que estamos vivendo hoje. Parabéns!

Carine Roos

Especialista em DE&I e Palestrante. Preparo organizações para um futuro mais inclusivo por meio de sensibilizações, treinamentos e consultoria de diversidade. A mudança começa com a gente e é agora. CEO & Founder Newa

2 a

Excelente reflexão Milena Brentan . É interessante pensar como a exaustão e o esgotamento mental vem justamente de trabalho que amamos e com muito propósito. O Alexandre Coimbra Amaral fala muito sobre isso. Eu como empreendedora tenho refletido sobre essa autopunição imposta e aprendido a navegar com mais autocompaixão e menos autocritica. É um desafio diário.

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