A raiva não é uma boa conselheira na hora do voto

A oportunidade de ir às urnas, nada mais é do que um momento de escolhas. Presumindo-se uma estabilidade democrática, temos a garantia de que de 4 em 4 anos poderemos julgar nossas decisões, entretanto, o preço para corrigir possíveis erros vai se tornando cada vez mais caro ao presente e, principalmente, ao futuro. Diante da eleição mais incerta desde 1989, talvez seja hora de dizer que, nesse ano, o maior risco para o Brasil não será o governo ou o Congresso; serão os eleitores.

Desde junho de 2013, o abismo entre a sociedade e o sistema político só se intensificou. Segundo um estudo realizado pela organização GfK Verein, que mediu a reputação de diferentes profissões no mundo em 27 países, o Brasil foi apontado como o lugar onde a população menos confia nos políticos, com apenas 6% dos brasileiros dizendo confiarem em seus representantes. Além disso, a última pesquisa CNI/Ibope, apontou que 59% dos eleitores estão indecisos ou não pretendem votar em ninguém para presidência.

Essa descrença de parte considerável da população não é sem razão, todavia, ela coloca o país diante de caminhos perigosos. A desilusão com a política pode levar os eleitores a votar em populistas tanto à direita quanto à esquerda do espectro ideológico, conduzindo o país novamente ao caos; ou a tão sonhada renovação política irá fracassar, com o eleitor optando por se manter distante do processo eleitoral.

Não será nem a demonização da política, muito menos a apatia cívica que ajudará o país a se reconstruir. A história já nos ensinou que a raiva não é uma boa conselheira na hora do voto, bem como, a abstenção no exercício do direito de votar apenas contribui para a manutenção dos responsáveis pelo desalento dos brasileiros.

Toda essa indignação deve ser usada como propulsor de uma mudança positiva e nossa principal arma para isso é o voto. Não podemos nos dar ao luxo de lamentar a falta de lideranças ou de permanecer limitados a falar mal do Brasil. Esse é o nosso país e cabe a nós atuarmos como agentes da transformação que queremos ver.

A eleição nos concede a oportunidade de votar em vários cargos, porém, dentre tantas propagandas e debates envolvendo esses postos, não podemos esquecer que o cargo mais importante que há dentro de uma democracia ainda é o de cidadão.

Publicado originalmente no Jornal Zero Hora.


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