Recém-Formados: Realmente Preparados?
Atualmente, o número de jovens que adquirem um diploma e ingressam no mercado de trabalho para as mais diversas áreas tem crescido no Brasil. Devido ao grande aumento substancial de ofertas para a formação do ensino superior (fator que ajuda a diminuir os preços de instituições particulares) combinado à políticas sociais que vem facilitando o ingresso das classes econômicas mais baixas da sociedade resultam num demanda massiva por cursos superiores.
Dentro desse cenário podemos concluir que temos mais jovens profissionais capacitados tecnicamente para atuar em diversas áreas do mercado de trabalho, mas, de acordo com uma pesquisa feita pelo site Curriculum.com no ano passado, apenas 18,8% das empresas consideram ótima ou excelente a qualificação de trainees e estagiários. Esses dados confusos nos remetem a dois possíveis problemas:
- Falha na formação acadêmica da instituição de ensino. Justamente como citado anteriormente, o crescente aumento de instituições ofertantes do tão sonhado diploma de Ensino Superior vem abrindo espaço para universidades de mais variados métodos de aprendizagem e também de qualidade. Os preços pelo serviço da educação universitária, ainda que altos, vem se tornando gradualmente mais acessíveis. Isso contribui fortemente para o aumento de interesse de muitas pessoas (principalmente de baixa renda) para ingressar numa faculdade/universidade. Infelizmente, nos deparamos com um cenário onde grande parte das instituições privadas de baixo custo não oferecem um serviço educacional de alto nível, essas que são alvo de aproximadamente 64% dos estudantes universitários brasileiros. Logo, esse "desnível" educacional (se assim podemos chamar) ajuda a reforçar a ideia de que o mais caro é o de mais qualidade, mesmo que com algumas exceções à regra. Além disso, observamos também falhas de ensino e gestão pedagógica em varias universidades, tanto privadas quanto públicas, fazendo com o que os alunos tenham uma formação deficitária.
- Falhas nos aspectos comportamentais e personalidade da nova geração. De alguns motivos de insatisfação dos gestores empresariais para com os estagiários e trainnes, o mais citados são aspectos comportamentais, como falta de comprometimento e pontualidade. Segundo Maria Tereza Maldonado, mestre em Psicologia pela PUC-Rio, as pessoas da geração Y (geração de jovens nascidos entre 1990 à 1999) tendem a ter boa auto-estima e a apresentar dificuldades de relacionamento com as figuras de autoridade. Em um dos seus artigos faz uma análise curta sobre o comportamento médio da geração: "Reivindicam seus direitos, às vezes, com dificuldade de perceber os direitos dos demais, são curiosas, impacientes e imediatistas". Esses aspectos e diferenças entre gerações parecem não ser bem interpretados pelos gestores, que buscam cada vez mais estudantes com o perfil que foge o máximo de sua personalidade habitual. Como consequência disso, o professor de Escola de Administração da FGV João Baptista Brandão, defende a ideia de que os jovens têm encontrado dificuldades de adaptação. “O tempo todo eu vejo estudantes que não conseguem encontrar nas empresas aquilo que querem.”
Portanto, podemos perceber que temos em mãos alguns possíveis caminhos para tentar resolver esses obstáculos que limitam a participação e entrada mais saudável do jovem no mercado de trabalho. Um deles é o investimento das próprias universidades na qualidade de ensino profissional e acadêmico, seja por capacitação mais intensiva ou até mesmo resolução de problemas ligados à gestão pedagógica. Outro caminho é o trabalho de maior compreensão por parte dos gestores e, juntamente, a busca de novos mecanismos de relação com seus novos subordinados, no intuito de conseguir resultados satisfatórios ligados à produção e também aos relacionamentos. Nas palavras de Paulo Freire:"Não há ninguém que tudo saiba, nem ninguém que nada saiba. Tudo se resume a uma troca de saberes."