Reconhecimento de si na quarentena e mudança de carreira
Aos 17 anos nos é mostrado uma cartela de profissões e precisamos saber nos adequar ao que nos foi dado. De A a Z, as profissões se mostram nos panfletos, nas propagandas das faculdades, na pressão da família e do colégio. Aos 17 anos, quando não sabemos ainda qual a nossa comida favorita, temos a quase nula noção do mundo adulto, nos é dada a - aparentemente - única chance de fazer uma escolha para o resto das nossas vidas.
Aos 17 anos a minha cartela era bem limitada. Entre as faculdades disponíveis dentro do raio quilométrico da minha casa e as angústias e sonho dos meus pais, escolhi Direito. Certa de que teria escolhido a melhor de todas as opções do mercado universitário. No quinto período da faculdade eu pensei em desistir. No sexto, igualmente. A partir dali a universidade se tornava martírio e minha glória era fingir que nada me atingia.
Ao término da faculdade, já com a OAB na mão, pensei que poderia melhorar a minha visão do mundo jurídico se estudasse uma matéria que eu realmente tivesse afinidade. Me especializei em Direito Internacional e garanti, com toda a sinceridade que em mim cabia, que definitivamente não estava na minha área. Ainda me forcei a acreditar na minha escolha por mais quatro anos. E depois de quase dez anos da minha escolha dos dezessete eu entendi que era o fim: eu tinha feito a escolha errada. E agora?
Qual não foi a minha surpresa quando, por curiosidade, li o novo catálogo universitário. Diversas novas faculdades, novos cursos e campus pela minha cidade. Uma infinidade de possibilidade para os novos quase adultos de dezessete anos.
Ainda tomada de alguns preconceitos e medos, fui tateando devagar as novidades mostradas e tentando esquecer a idade e lembrando da quantidade de vezes que li sobre a idade não importa. Hoje, aos 26 anos de idade, ainda descobrindo a minha comida favorita, estou em processo de mudança de carreira. Mais pra cá do que pra lá, vale salientar. Os dias - obrigatoriamente - em casa me fizeram ler mais do que eu li o ano passado inteiro. Cursos e mais cursos, livros e artigos. Conversas com pessoas de todas as idades, estilos e vivências. Conhecendo tanta gente, me reconheci.
Hoje, já mais calejada, me vejo finalmente abraçada por uma das opções da cartela. Não daquela que me foi apresentada anos atrás. Mas a nova cartela. Essa, dos que, agora, têm a idade de fazer a escolha. E hoje eu faço questão de dizer a eles em conversa, nas escolas, nas rodas de conversa por aí, que não é uma escolha pra sempre. Nos reinventamos o tempo todo e, as vezes, numa dessas reinvenções é que nos deparamos com o nosso verdadeiro eu. O que o faz feliz e completo.
E um aviso a todos aqueles que, assim como eu, escolheram algo hoje, mas não sabem se isso os faz feliz: a cartela de amanhã muito provavelmente será bem mais recheada de opções do que a de hoje.