Refém sanitário: da enfermidade física à doença social
Ninguém gosta de usar máscara de proteção, seja máscara profissional, amadora ou improvisada. Absolutamente ninguém. E Isto eu posso assegurar com convicção:
Jamais critiquei a doença em si, ou sua gravidade, em especial, quando os protocolos de tratamento tardio estimulados pelas autoridades, o famoso “aguarde a dificuldade para respirar” agravaram ainda mais a saúde dos contaminados, dificultando sua recuperação. Sei bem, pois também fui acometido.
Jamais zombei da capacidade do vírus em promover danos severos, mas sim, me entristeceu a politização a respeito dos tratamentos precoces, quando se esperava, em uma situação de crise e urgência decorrentes de causas pouco conhecidas, um esforço concreto em aplicar todos os métodos possíveis para amenizar o sofrimento, reduzir internações e evitar fatalidades.
Nunca desdenhei do alcance destruidor da infecção, por outro lado, perceber a porta ainda mais destruidora do potencial de corrupção escancarar-se, na avalanche de estados de emergência e calamidade decretados, me assustou, ao permitir, de compras sem licitação a ameaça ao teto fiscal.
Também alarmante, o tabu com que se tratou as potenciais sequelas, muito piores que a pandemia em si a longo prazo, pois pronunciá-las virou sinônimo de insensibilidade e falta de empatia:
E no meio disto, autoridades focadas no aumento da arrecadação sem planejamento devido, numa lógica medieval de feudalismo, para cobrir despesas que aumentavam, num evidente desrespeito e alienação social.
Preocupou também a indisponibilidade imediata e confiável de dados sobre número de testes confiáveis realizados, sobre causa mortis realmente decorrendo do vírus, sobre a real prevenção através de máscaras e eficácia dos lockdowns, e outros, especialmente, quando vimos correntes antagônicas de especialistas e palpiteiros dissertando e discordando sobre o tema e sobre os dados, deixando, nós, os leigos, desamparados e assustados, recorrendo ao instinto de proteção, terminando por escolher sempre o pior.
Mas o mais aterrador nesta pandemia foi a inversão do ônus, onde o cidadão tornou-se o vilão, um serial killer em potencial, disseminando o vírus da morte, uma ameaça a ser controlada e monitorada pelo Estado a qualquer custo. Esta narrativa inibiu e deslegitimou as iniciativas de questionamento da sociedade, conferindo irracionalidade ao debate, constrangendo a população através da culpa.
Nesta pandemia, não houve mais políticos e autoridades corruptas, já que foram “anistiados” todos os eventuais crimes passados de desvio de recursos para a saúde, e “perdoada” toda a incompetência de décadas na implementação de políticas públicas relacionadas, pois todos foram “redimidos” no esforço altruísta e santo de nos “salvar” a qualquer preço, mesmo que muitos não concordassem, conclamando para si, uma autoridade quase divina. Em outras palavras, as autoridades trataram a sociedade como “incapaz”.
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O fato é que jamais saberemos ao certo quais são as reais intenções que habitam a mente de uma autoridade, ou que se passa em seu coração. Mas uma coisa é certa, a ascensão a um cargo público não mudará sua índole. A democracia não cura os maus.
Resta a nós, sociedade, nos proteger de eventuais indivíduos mal-intencionados, preservando nosso sagrado direito de manifestação, de expressão, de mobilização, nosso benefício da dúvida, nossa individualidade e liberdade, jamais permitindo que o Estado nos controle, nos censure ou nos limite, e de forma alguma devemos conceder mais poder ao Estado, mesmo ante a custódia do medo, sob o pretexto de nos proteger.
Nos tornamos refém sanitários, dispostos a abrir mão de direitos, liberdade e garantias, desesperados para fugir do cativeiro. Mas não existe salvador. Somente a sociedade pode se salvar. O Estado é um mero administrador, operado por pessoas falíveis, e jamais devemos nos esquecer disto.
Temerário é quando o cidadão cumpridor da lei se sente ameaçado por duvidar das autoridades, onde o benefício da dúvida é “confundido” com desobediência, no limiar perigoso do autoritarismo.
A vacinação contra o coronavírus, a despeito das boas intenções, guardou incubada, uma potencial ameaça à liberdade, pois, apesar de revestir-se de pseudo voluntariado, foi pautada por restrições severas aos que escolheram não se vacinar, compelindo-os à vacinação para que pudessem exercer o direito de ir e vir, flertando com o controle social, quando vez por outra, não eram simplesmente hostilizados pelos cidadãos vacinados. Na verdade, ao não se vacinar, sua escolha foi tornar-se quase um “párea”.
Mas afinal, qual a razão para a compulsoriedade? Se um indivíduo ao vacinar-se tornava-se imune, por que todos os indivíduos deveriam se vacinar? Que fosse facultado tomar a vacina somente aqueles que realmente desejam ser imunizados, confiam nas autoridades e acreditam que a vacina não trará riscos de alergias, efeitos colaterais ou outras ameaças desconhecidas, em especial, quando ainda pairavam dúvidas sobre sua absoluta eficácia, e se pleiteava excluir a responsabilidade sobre eventuais efeitos colaterais. E quanto à potencial imunidade dos recuperados? Perguntas.
Embora plenamente ciente da dificuldade das decisões públicas num momento de crise, restrições severas aos não vacinados não pareciam razoáveis.
Fundamental não perdermos a lucidez:
Não carrego neste texto o propósito ou a pretensão de sustentar qualquer indicação de falha ou má intenção concreta na gestão pandêmica, mas refletir apenas, e aprender.
Ficou evidente que o que estava em jogo transcendeu o uso ou não de máscara, o isolamento social ou ainda a vacinação. No meio de todo o dilema sanitário e de suas incertezas, justificadas ou não, deverá residir a vigilância severa que todo cidadão deve exercer para salvar sua individualidade e liberdade, de seus filhos e de todos os que ama.
Diretor na Logística Criativa
8 mPrezado Jefferson, totalmente coerente as suas observações. O que houve, especificamente no Brasil, foram as escandalosas e escancaradas denúncias de genocídio, fique em casa ; a economia vemos depois, acusações levianas sem a menor sustentação. Ou seja, o governo anterior recebeu bombardeios de tudo quanto é lado, mas, conseguiu sair com imenso brilho deste período. O mais mortal, não foi o vírus em si, foram os "escorpiões em pele de joaninha" que agora fazem cara de paisagem, já que conseguiram estar no poder. Meus cumprimentos pelo excelente artigo/análise !