Refém sanitário: da enfermidade física à doença social

Refém sanitário: da enfermidade física à doença social

Ninguém gosta de usar máscara de proteção, seja máscara profissional, amadora ou improvisada. Absolutamente ninguém. E Isto eu posso assegurar com convicção: 

  • Houve aqueles que usaram por razões de proteção, e na pandemia ocorrida do coronavírus em particular, muitos usaram por estrito medo induzido, já que o vírus personifica uma espécie de espírito do mal, invisível, ameaçador, incutido facilmente na mente debilitada pelo terror da morte iminente, onipresente, habitando desde o interior de veículos fechados até a vastidão das ruas desertas;
  • E houve os que usaram pela imposição das autoridades, imbuída da ameaça velada das multas, armas de choque, máquinas de solda e coerção física, tudo amparado na mais absolutista legalidade;
  • Houve também os que usaram porque acreditam na sua eficácia. Mas volto a dizer. Ninguém gosta de usar.

  Jamais critiquei a doença em si, ou sua gravidade, em especial, quando os protocolos de tratamento tardio estimulados pelas autoridades, o famoso “aguarde a dificuldade para respirar” agravaram ainda mais a saúde dos contaminados, dificultando sua recuperação. Sei bem, pois também fui acometido. 

Jamais zombei da capacidade do vírus em promover danos severos, mas sim, me entristeceu a politização a respeito dos tratamentos precoces, quando se esperava, em uma situação de crise e urgência decorrentes de causas pouco conhecidas, um esforço concreto em aplicar todos os métodos possíveis para amenizar o sofrimento, reduzir internações e evitar fatalidades.

  Nunca desdenhei do alcance destruidor da infecção, por outro lado, perceber a porta ainda mais destruidora do potencial de corrupção escancarar-se, na avalanche de estados de emergência e calamidade decretados, me assustou, ao permitir, de compras sem licitação a ameaça ao teto fiscal.

  Também alarmante, o tabu com que se tratou as potenciais sequelas, muito piores que a pandemia em si a longo prazo, pois pronunciá-las virou sinônimo de insensibilidade e falta de empatia:

  • o número imenso de desempregados;
  • o aumento da miséria que traria consigo inúmeras outras doenças;
  • a degradação da saúde mental;
  • a redução drástica da imunidade por razões psicossomáticas;
  • o aumento da obesidade;
  • o fechamento de pequenos e médios comércios e indústrias;
  • a erosão severa dos índices de educação;
  • o agravamento de doenças que poderiam ser diagnosticadas ou tratadas precocemente e não o foram por receio de se ir aos hospitais.

E no meio disto, autoridades focadas no aumento da arrecadação sem planejamento devido, numa lógica medieval de feudalismo, para cobrir despesas que aumentavam, num evidente desrespeito e alienação social.

Preocupou também a indisponibilidade imediata e confiável de dados sobre número de testes confiáveis realizados, sobre causa mortis realmente decorrendo do vírus, sobre a real prevenção através de máscaras e eficácia dos lockdowns, e outros, especialmente, quando vimos correntes antagônicas de especialistas e palpiteiros dissertando e discordando sobre o tema e sobre os dados, deixando, nós, os leigos, desamparados e assustados, recorrendo ao instinto de proteção, terminando por escolher sempre o pior.

Mas o mais aterrador nesta pandemia foi a inversão do ônus, onde o cidadão tornou-se o vilão, um serial killer em potencial, disseminando o vírus da morte, uma ameaça a ser controlada e monitorada pelo Estado a qualquer custo. Esta narrativa inibiu e deslegitimou as iniciativas de questionamento da sociedade, conferindo irracionalidade ao debate, constrangendo a população através da culpa.

Nesta pandemia, não houve mais políticos e autoridades corruptas, já que foram “anistiados” todos os eventuais crimes passados de desvio de recursos para a saúde, e “perdoada” toda a incompetência de décadas na implementação de políticas públicas relacionadas, pois todos foram “redimidos” no esforço altruísta e santo de nos “salvar” a qualquer preço, mesmo que muitos não concordassem, conclamando para si, uma autoridade quase divina. Em outras palavras, as autoridades trataram a sociedade como “incapaz”.

O fato é que jamais saberemos ao certo quais são as reais intenções que habitam a mente de uma autoridade, ou que se passa em seu coração. Mas uma coisa é certa, a ascensão a um cargo público não mudará sua índole. A democracia não cura os maus.

Resta a nós, sociedade, nos proteger de eventuais indivíduos mal-intencionados, preservando nosso sagrado direito de manifestação, de expressão, de mobilização, nosso benefício da dúvida, nossa individualidade e liberdade, jamais permitindo que o Estado nos controle, nos censure ou nos limite, e de forma alguma devemos conceder mais poder ao Estado, mesmo ante a custódia do medo, sob o pretexto de nos proteger.

Nos tornamos refém sanitários, dispostos a abrir mão de direitos, liberdade e garantias, desesperados para fugir do cativeiro. Mas não existe salvador. Somente a sociedade pode se salvar. O Estado é um mero administrador, operado por pessoas falíveis, e jamais devemos nos esquecer disto.

Temerário é quando o cidadão cumpridor da lei se sente ameaçado por duvidar das autoridades, onde o benefício da dúvida é “confundido” com desobediência, no limiar perigoso do autoritarismo.

A vacinação contra o coronavírus, a despeito das boas intenções, guardou incubada, uma potencial ameaça à liberdade, pois, apesar de revestir-se de pseudo voluntariado, foi pautada por restrições severas aos que escolheram não se vacinar, compelindo-os à vacinação para que pudessem exercer o direito de ir e vir, flertando com o controle social, quando vez por outra, não eram simplesmente hostilizados pelos cidadãos vacinados. Na verdade, ao não se vacinar, sua escolha foi tornar-se quase um “párea”.

Mas afinal, qual a razão para a compulsoriedade? Se um indivíduo ao vacinar-se tornava-se imune, por que todos os indivíduos deveriam se vacinar? Que fosse facultado tomar a vacina somente aqueles que realmente desejam ser imunizados, confiam nas autoridades e acreditam que a vacina não trará riscos de alergias, efeitos colaterais ou outras ameaças desconhecidas, em especial, quando ainda pairavam dúvidas sobre sua absoluta eficácia, e se pleiteava excluir a responsabilidade sobre eventuais efeitos colaterais. E quanto à potencial imunidade dos recuperados? Perguntas.

Embora plenamente ciente da dificuldade das decisões públicas num momento de crise, restrições severas aos não vacinados não pareciam razoáveis.

Fundamental não perdermos a lucidez:

  • Num cenário hipotético, para indivíduos maus, a redução dos direitos civis, a ampliação do poder do Estado e a desestruturação social representariam uma oportunidade concreta para a prática de corrupção e respectiva limitação da capacidade de reação da sociedade, por exemplo, ameaçando ou criminalizando atividades coletivas, sob pretexto de proteção sanitária;
  • Ademais, ações de monitoramento digital dos contaminados poderiam ser levianamente utilizadas para identificar os indivíduos com ideologias de oposição e persegui-los, invocando a manutenção da ordem social;
  • O desvio de recursos oriundos de fraudes licitatórias emergenciais poderia ser utilizado para minar as instituições, subornando ou operando com conflito de interesse na indicação de atores-chave nos poderes executivo, legislativo e judiciário, imprensa e órgãos de controle, resultando em impunidade generalizada, fragilização regulatória, insegurança jurídica, censura, perda de foco no bem público e concentração de poder, tornando estes indivíduos intocáveis, perpetuando-se no poder através de comparsas;
  • Em pouco tempo, estes indivíduos maus dariam um jeito de subornar também a sociedade, aleijando-a com a apologia ao proletário protegido pelo Estado, e discriminando as iniciativas empreendedoras, já que toda a resistência nasce do indivíduo próspero, esclarecido e organizado. Retirá-los do poder será quase impossível.

Não carrego neste texto o propósito ou a pretensão de sustentar qualquer indicação de falha ou má intenção concreta na gestão pandêmica, mas refletir apenas, e aprender.

Ficou evidente que o que estava em jogo transcendeu o uso ou não de máscara, o isolamento social ou ainda a vacinação. No meio de todo o dilema sanitário e de suas incertezas, justificadas ou não, deverá residir a vigilância severa que todo cidadão deve exercer para salvar sua individualidade e liberdade, de seus filhos e de todos os que ama.

Walter Cesar Gomes

Diretor na Logística Criativa

8 m

Prezado Jefferson, totalmente coerente as suas observações. O que houve, especificamente no Brasil, foram as escandalosas e escancaradas denúncias de genocídio, fique em casa ; a economia vemos depois, acusações levianas sem a menor sustentação. Ou seja, o governo anterior recebeu bombardeios de tudo quanto é lado, mas, conseguiu sair com imenso brilho deste período. O mais mortal, não foi o vírus em si, foram os "escorpiões em pele de joaninha" que agora fazem cara de paisagem, já que conseguiram estar no poder. Meus cumprimentos pelo excelente artigo/análise !

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