A reforma da Previdência será aprovada?
Acabei de fazer um Call para o mercado financeiro. Entre os clientes, estavam presentes mais de 50 diferentes instituições financeiras (bancos nacionais e estrangeiros, administradoras de recursos ― as chamadas “assets” ―, fundos de pensão, seguradoras etc.).
Depois de falar durante uns 20 minutos, apresentando o cenário atual, vários participantes me fizeram perguntas. Em resumo, o “mercado” queria saber o seguinte: “Afinal, a reforma da previdência vai ser aprovada e, se sim, quando?”
A resposta foi simples. Se a votação fosse hoje, não. Se for no dia 6, para quando estava marcada, também não. E no dia 13, para quando deve ser adiada? Visto de hoje, a resposta também é negativa. E no ano que vem? Não sei, depende do que vai acontecer até lá. Mas a tendência e o risco de novos imbróglios, que surgem a todo dia em Brasília, também não me deixa nada otimista. E nem o governo. É sempre difícil prever o dia de amanhã no Brasil. Quanto mais o que vai acontecer em 2018.
Tanto interesse para ouvir hoje opinião sobre o assunto surgiu ontem pela manhã. Todos os dias, bem cedo, leio todos os jornais, blogs, etc., e envio para os meus clientes um Relatório Diário de Imprensa, com a meia dúzia de assuntos, artigos, editoriais, notas etc. realmente relevantes no noticiário político publicado pela imprensa. Não é um clipping, mas sim uma análise qualitativa da cobertura. Normalmente uma única página, para o leitor bater o olho e saber o que aconteceu e acontecerá de importante. Por vezes faço também comentários explicando, dando a minha visão; e envio informações exclusivas. Pois ontem, ao final do relatório, escrevi o seguinte:
“Comentário: ontem, em Brasília, conversei com inúmeros líderes da base aliada e da oposição. A avaliação geral é de que a reforma não será aprovada. O Planalto está longe de ter os 308 votos necessários para a aprovação. Nem sequer o apoio de 280 deputados alardeado pelo governo estaria garantido. Em resumo, pelo andar da carruagem, se os aliados insistirem em votar o projeto no dia 6, há enorme risco de derrota. A conferir.”
Essa não foi uma percepção só minha. Mas de todos os que caminharam no mesmo dia pelo Congresso. Eu andei 8 km! Foram mais de 10 mil passos, contados no relógio.
Acontece que os operadores financeiros trabalham com um sistema de “chat” e a má notícia, da qual fui apenas portador, se espalhou.
Há tempos o mercado vinha operando com otimismo por conta da garantia de aprovação. Ontem o humor azedou bastante, como você deve ter visto nos jornais. À tarde, o Planalto e seus aliados fizeram comunicados que ajudaram a piorar ainda mais o clima.
Hoje, o presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), afirmou em São Paulo, onde esteve a convite do J.P. Morgan para um encontro com o mercado, que colocará o projeto em votação no dia em que houver votos suficientes para aprová-lo.
Se é que esse dia vai chegar.
A reforma da Previdência é fundamental para o País não quebrar em poucos anos, como a Grécia. Talvez não essa que está aí e que o governo tentou enfiar goela abaixo do Congresso, antes da delação da JBS. Sem falar que há 85% de rejeição na sociedade. Existem modelos bem melhores nos países desenvolvidos.
O fato é que mesmo que o Planalto consiga aprovar um arremedo da sua proposta original, o próximo presidente ainda terá muito trabalho para conseguir fechar as contas nesse setor.
(Publicado originalmente em no Blog do Ibsen no dia 30/11/17)