Regeneração: um caminho de evolução do design frente ao problema da sustentabilidade

Regeneração: um caminho de evolução do design frente ao problema da sustentabilidade

No dia 02/12/21, tive a honra de participar do SDS 2021 (VIII Simpósio de Design Sustentável + Sustainable Design Symposium), onde fiz uma breve apresentação do artigo escrito por mim e pelo meu professor orientador Dr. Carlo Franzato. O artigo em questão tem uma forte relação com meu projeto de pesquisa de dissertação de Mestrado em Design Estratégico. Compartilho um trecho do artigo, que pode ser baixado e lido na íntegra a partir deste link.

"REGENERAÇÃO: UM CAMINHO DE EVOLUÇÃO DO DESIGN FRENTE AO PROBLEMA DA SUSTENTABILIDADE

Autores: NATALÍ ABREU GARCIA, Mestranda em Design | UNISINOS e CARLO FRANZATO, Doutor em Design | UNISINOS

RESUMO: Este artigo tem o objetivo de apresentar uma síntese e insights de uma revisão teórica dos desdobramentos do design frente ao problema da sustentabilidade. Resgatamos as contribuições de diferentes abordagens das últimas seis décadas (que em nossa perspectiva são complementares e sinérgicas) para então propor olhares e caminhos de desenvolvimento do design estratégico em relação ao conceito de regeneração.

PALAVRAS-CHAVE: Sustentabilidade; Regeneração; Metaprojeto; Design estratégico.

1. INTRODUÇÃO

Especialmente desde a década de 1970, a sustentabilidade tem sido pauta de discussões em diferentes âmbitos da sociedade. Tema importante no âmbito do design também, a procura da sustentabilidade foi promotora do surgimento de diversas abordagens projetuais.

Há uma mudança de paradigma em curso, que vai em direção a uma centralidade no pensamento ecológico, afastando-se progressivamente do pensamento cartesiano (em que há uma separação clara entre nós e o meio ambiente). As práticas do design sustentável, porém, ainda hoje estão sendo frequentemente criadas e avaliadas por paradigmas sociais e científicos não condizentes com o paradigma ecológico e sim orientados aos interesses econômicos e antropocêntricos (BRANDON; DU PLESSIS, 2015). Abordagens de design têm sido desenvolvidas a partir de uma  preocupação em inovar e adequar os sistemas produtivos com o intuito de minimizar os impactos negativos destes no meio ambiente.

Papanek, já em “Design for the real world ”, seu pioneiro trabalho de 1971, introduzia esta perspectiva ecológica no campo do design, que então passa a buscar inovações e melhoramentos de ecoeficiência nos produtos e seus ciclos de vida.

Ao longo das décadas, ao se perceber que a sustentabilidade reside não nas partes do ecossistema, mas em propriedades emergentes do ecossistema como um todo, progressivamente se foi expandindo o campo de atuação do design sustentável para sistemas maiores, ainda assim, enfrentando dificuldades em seu desenvolvimento e disseminação (CESCHIN; GAZIULUSOY, 2016).

Ceschin e Gaziulusoy (2016) descrevem abordagens que, em uma sucessão evolutiva, ampliam o seu escopo de atuação, através de níveis que vão da aplicação isolada à aplicação sistêmica, bem como da aplicação tecnológica (produtos) à aplicação em âmbitos sociotécnicos.

No presente estudo nos concentramos, sobretudo em abordagens que têm a sua aplicação mais orientada às lógicas sistêmicas, com as suas decorrentes implicações sociotécnicas: biomimética; design para a inovação social e a sustentabilidade; design sistêmico e design de transição. Além disso, introduzimos a abordagem do design e desenvolvimento regenerativo, não considerada no trabalho de Ceschin e Gaziulusoy (2016).

Embora a Biomimética tenha inicialmente tido maior repercussão na inovação em produtos, tecnologia e gestão ambiental, é importante ressaltar sua perspectiva visionária em nos apresentar um modelo de pensamento e atuação que se inspira no conhecimento da natureza, que após 3,8 bilhões de anos, pode ajudar-nos muito como “modelo, medida e mentora” (BENYUS, 1997, p. 8). A mudança no modelo orienta a pensarmos não em extrair da natureza, mas sim aprender e cooperar com ela, para dessa forma encontrar alternativas viáveis e sustentáveis para resolver os problemas produtivos e industriais dentro de um sistema ecológico e terrestre de recursos finitos. Os pontos-chave da metodologia da Biomimética são o entendimento de funções de um contexto em termos biológicos, o entendimento de sistemas e organismos naturais que servirão de inspiração por apresentarem os mesmos padrões, e a convergência de estratégias para a resolução de problemas que foram compreendidos como similares.

Já no Design Estratégico temos uma convergência da sustentabilidade e inovação social, que se convertem em um mesmo objetivo (FRANZATO, 2020), aqui há uma busca de sistemas alternativos (de produção, de consumo, de convivialidade, de valores) em relação aos sistemas vigentes insustentáveis, focando no desenvolvimento da qualidade dos sistemas produto-serviço. Ou seja, o design deixa de projetar somente o produto, para projetar todo o conjunto de estratégias (identidade organizacional, serviços, produtos, processos) que têm interface com o ecossistema. O foco muda dos produtos físicos para os resultados almejados, compreendendo processos e atividades para se obter determinado benefício. Isso é feito por meio de pesquisa e codesign para proposição de cenários sustentáveis e soluções que promovam uma abordagem sistêmica, que reinventam e reenquadram serviços e bens comuns, em uma abordagem dialógica e mais bottom-up, em que há um maior empoderamento e agência dos membros de comunidades (MANZINI, 2008; MANZINI, 2016). Franzato (2017, p. 101) argumenta que, para as descontinuidades sistêmicas propostas pelo Design Estratégico, o que se encontra em jogo não é somente uma mudança radical da nossa organização socioeconômica, mas também “nossa noção de ser-no-mundo e de ser-com-os-outros”, perspectiva esta que será aprofundada neste artigo.

O Design Sistêmico é uma outra proposta de abordagem que tem como um dos objetivos evoluir a produção industrial tendo a sustentabilidade como premissa. Busca criar soluções sinérgicas e sustentáveis, considerando sempre as relações entre sistemas e entre organizações, estimulando um fluxo circular de materiais e energias – estabelecendo diretrizes e premissas para a proposição de soluções, sobretudo almejando redesenhar o modo de fazer das indústrias com tecnologias e processos mais perenes e positivos para os sistemas socioecológicos (BISTAGNINO, 2011).

Há ainda a abordagem do Design de Transição, que é concebido como proposta de uma nova área do design para o estudo, prática e pesquisa para a construção de novos estilos de vida através de visões de futuro de longo prazo (IRWIN, 2015). Irwin (2015, p. 231) constrói sua proposta em continuidade ao pensamento do Design Estratégico para Inovação Social e Sustentabilidade propondo o projetar a partir de paradigmas políticos e socioeconômicos radicalmente diferentes, ou seja, baseados em “um entendimento da interconectividade e interdependência de sistemas sociais, econômicos, políticos e naturais”.

Finalmente, entre a década de 1990 e 2010 (LYLE, 1994; REED, 2007), surge o Design e Desenvolvimento Regenerativo, que propõe conceitos e abordagens construídos a partir do paradigma da sustentabilidade ecológica e não da sustentabilidade tecnológica. Há um maior enfoque no trabalho de desenvolvimento – transformação de consciências individual e coletiva a serviço da transformação sistêmica. Busca-se uma mudança de modelos mentais e paradigmas – orientando-se às teorias de whole systems e sistemas vivos para viabilizar e acelerar conquistas das mudanças necessárias no desenvolvimento da sustentabilidade. E tem princípios ecológicos, éticos e espirituais da interexistência e interdependência dos sistemas integrais e sistemas vivos para uma coevolução do todo (MANG; REED, 2012).

Nas abordagens acima mencionadas é possível perceber uma visão a favor da sustentabilidade verdadeira – ou seja, que ambiciona permitir não só a sustentação do mundo, mas a criação de condições para transformações da sociedade, através de aprendizagem social para o bem-estar – em que o design estratégico tem papel fundamental na catalisação da mudança em orientação aos futuros sustentáveis (FRANZATO, 2017).

Ao cocriar futuros sustentáveis, tanto dos ecossistemas físicos e biológicos como de sistemas sociotécnicos, é preciso entender que já não é suficiente apenas evitar danos, é preciso ativamente trabalhar para a regeneração da saúde e qualidade desses sistemas. Ou seja, é preciso não apenas parar de propagar vetores nocivos, mas restabelecer as condições para que esses organismos possam recobrar a saúde, florescer e frutificar.

2. O CONCEITO DE REGENERAÇÃO

Então, levantamos a questão “quando uma abordagem de design pode ser entendida como regenerativa?”

Para responder a esta pergunta naturalmente nos voltamos ao conceito de “regeneração”, buscando uma definição que nos oriente nesta análise. Apesar de ser uma palavra utilizada com frequência, pensamos ser adequado esclarecer os seus possíveis significados.

(...)" CONTINUA.... Leia o restante neste link.


Carol Tomaz

Economista Heterodoxa | Designer Estratégica | Projetos de Impacto Socioambiental | Desenvolvimento Sustentável

3 a

Já vou usar seu artigo como referência! Como fico feliz de ver que estamos na mesma batida e ter a sorte de ter vc perto! Rumo a uma cultura regenerativa 💜

Fabiana Rangel 🏳️🌈

Digital Transformation | Safe Agilist | CX Leader | Nutritionist | Service Designer | Entrepreneur and Digital Transformation Manager at Ericsson

3 a

Excelente perspectiva !!!

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