Regeneração para Organizações

Regeneração para Organizações

Este artigo foi apresentado no ENSUS 2023 - XI Encontro de Sustentabilidade em Projeto. O artigo foi publicado nos anais do evento e uma cópia do mesmo na íntegra pode ser acessada aqui.

Introdução

Como sociedade, estamos tendo problemas no enfrentamento das diversas crises sistêmicas (ecológicas, econômicas, sociais, de saúde pública, etc.). As ações organizacionais de instituições públicas, privadas e comunitárias, parecem insuficientes para nos desvencilhar de uma trajetória distópica, que aponta para um possível colapso dos ecossistemas terrestres que sustentam a vida (humana e não-humana). Não somente as ações organizacionais são insuficientes, mas também parecem acentuar a insustentabilidade de nossos modos de viver. Podemos pensar se há, nessas organizações, uma intenção deliberada em frustrar o atingimento de objetivos em prol do bem comum e da sustentabilidade. Mas também podemos pensar que a raiz de toda essa ineficácia e ineficiência pode ser atribuída a uma profunda ignorância sobre os modelos de pensamento que, em primeiro lugar, nos levaram a teorias e comportamentos tão nocivos, que culminaram em recorrentes crises, que só tendem a se agravar.

A despeito de algumas possíveis boas intenções, os problemas enfrentados no antropoceno são resultado de inúmeras forças ancoradas em uma determinada visão de mundo que trabalham de forma pervasiva e silenciosa. Talvez nosso maior inimigo seja a profunda incompreensão e ignorância de como, na verdade, a nossa realidade opera. E mais, como sociedade, há séculos adotamos uma incompleta e distorcida visão da realidade, que nos leva até hoje a premissas e metáforas que mais atrapalham do que ajudam na resolução dos problemas sistêmicos e da insustentabilidade de nossos processos.

A visão de mundo mecanicista nasceu de uma boa intenção orientada a uma emancipação do ser humano, por meio da evolução da racionalidade e de um processo científico. No intuito de nos desprendermos das amarras das instituições religiosas poderosas, separamos os domínios do intangível e do tangível. Esse pensamento de disjunção, como nos alerta Morin (2005), se alastrou e se aprofundou nas raízes de tudo o que pensamos e fazemos.

Separamos mente da matéria, homem da natureza, feminino do masculino, fenômenos interiores dos fenômenos exteriores e observáveis (subjetivo do objetivo), arte da ciência, e, mais recentemente, lado esquerdo do cérebro do lado direito do cérebro, e seguimos, separando e rotulando, colocando em caixinhas e criando categorias, especializando-nos em recortes cada vez mais específicos do mundo. Enquanto as polaridades são importantes e úteis instrumentos para o pensar, uma abordagem reducionista, que separa e isola, só nos torna mais míopes e inaptos para lidar com a complexidade da vida.

Na maioria das vezes, os seres humanos, especialmente no contexto de organizações, não estão conscientes da visão de mundo e dos paradigmas que estão ocultamente moldando a forma de verem e tomarem decisões/ações. É comum as pessoas partirem do pressuposto de que as coisas são como são, ou seja, algumas premissas sobre o mundo (e sobre o contexto de projetos) são adotadas sem que nem mesmo se pense sobre isso. Um exemplo evidente disso é como a metáfora da máquina influenciou e influencia enormemente a operação das organizações, especialmente desde a Revolução Industrial.

Hoje, são adotadas práticas, tidas como tradicionais e até “naturais”, que são inspiradas e copiadas dos modos de funcionamento das máquinas. E organizações não são, ou não deveriam ser, máquinas, sobretudo quando temos conhecimento das transformações que nos são requeridas para evitar o colapso da vida na Terra.

Práticas e estratégias organizacionais oriundas de um pensamento mecanicista tendem a levar as organizações a burocracias e insensibilidades, que as impedem de se adaptarem e se transformarem para não apenas sobreviverem, mas também contribuírem com o bem comum. Máquinas são sistemas fechados, que operam com base em metas, mas  não têm consciência das relações ecossistêmicas; máquinas não são programadas para coevoluírem com os sistemas aos quais estão submetidas, elas são programadas para serem rentáveis, ou seja, para operar a partir de uma lógica econômica que prioriza o retorno financeiro.

Dentro de uma visão mecanicista, há, também, o paradigma cartesiano, de Descartes, que foi o pioneiro de uma perspectiva segundo a qual a mente é separada da matéria e o homem é superior à natureza. Organizações são, em geral, profundamente antropocêntricas, mesmo quando benevolentes com causas socioambientais, e visam à manutenção do status quo, ou seja, a preservação das condições da vida humana em seu suposto direito à exploração dos recursos ambientais para a subsistência e o crescimento econômico. 

Acerca dos valores que motivam as organizações, podemos identificar um desequilíbrio insalubre, em que predominam os valores orientados à autoafirmação (competição, dominação, quantidade, expansão), em detrimento dos valores orientados ao integrativo (cooperação, parceria, qualidade, conservação) (CAPRA, 2006).

Nesse sentido, na seção seguinte, apresentaremos os resultados de uma revisão bibliográfica que teve como objetivo encontrar pistas para modos projetuais alternativos aos do paradigma cartesiano. Para esse trabalho, foram selecionadas publicações que têm como objetivo a regeneração para organizações, trabalhando com enfoque relevante ao tema metaprojetual desta pesquisa em questão.

>> Acesse aqui a versão na íntegra para ler as demais seções do artigo:

  • Implicações projetuais da Perspectiva Mecanicista
  • Regeneração
  • Regeneração para Organizações (Carol Sanford; Regenesis; John Hardman; Hutchins e Storm; Simon Robinson e Maria Moraes Robinson; Otto Scharmer; Hahn e Tampe; Caldera et al.)
  • Discussão
  • Conclusão: da necessidade de uma sustentabilidade mais regenerativa

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