RESISTIR

Estamos vivendo um momento histórico muito estranho. De exceção mesmo.

Não que este tipo de crise não tenha já ocorrido em outros momentos da história humana, mas parece que sempre havia, tinha uma referência, que a população, no limite da crise, se apoiava, se agarrava e ia tocando sua vida enfrente, até a tempestade passar, de um jeito outro ia passando. Sobrevivia.

O grave deste momento histórico que vivemos é que parece que todas as referências se diluíram, se desmancharam no ar, no espaço, no tempo e não há a onde se apoiar, agarrar, como parece que havia no passado. Ai vem a insegurança, a angustia, a falta de perspectiva, de perigo.

Todos aqueles valores que eram considerados sagrados parece que desapareceram.

Na arte, há uma comercialização de tudo. Tudo virou mercadoria. A indústria cultural transformou tudo em mercadoria, em produto a ser consumido no mercado, no comércio, tudo é comercializáveis. Nada escapa. Há um rebaixamento da cultura, não há diferença entre consumo de uma obra de arte e o consumo de mercadorias em si mesmo.

A obra de arte acaba por fazer a reprodução do próprio sistema capitalista. Produção e reprodução. A industria cultural não fornece possibilidade de rompimento do sistema capitalista, não fornece nenhuma meio de rompimento, nenhuma alternativa. A critica não é efetivamente critica. Há um processo de contração.

Hoje a industria cultural está em tudo. Não existe o fora da industria cultural.

É um beco sem saída. Será?!

Na política há uma tentativa de esvaziamento do ato de fazer política, de participar da ação política, pior ainda, a uma criminalização da ação política, uma tentativa de forçar a um tecnicismo, como se ele fosse neutro, tirar a política do jogo, como se isso fosse possível. Ai, afasta o povo da ação politica.

Afasta a ação intuitiva do ator político, a construção de saídas coletivas, a construção do bem comum. A superação das contradições, dos conflitos, do bem comum via ação política, negociada, do consenso e entra os técnicos, os tecnocratas, frios, distantes, superiores, iluminados, sábios, acima de qualquer suspeita, punitivista, punir é a regra, causar medo e causa, não a fraternidade, construir relações individuais e comunitárias, o amor, ouvir, o diálogo, recuperar o ser humano, mas a ordem é punir, prender, humilhar publicamente, se possível acabar com a ação política, com a liberdade, ter controle. Causar medo. Tristes tempos!

Na educação, há um movimento no sentido de desconstruir toda a possibilidade do pensar livre. Há uma luta para desacreditar o humanismo. Tentam incutir que o que é bom é a educação técnica, profissionalizante, vazia, há uma fantasia, um improviso de educação profissionalizante, que na verdade, nunca profissionalizou ninguém, de verdade. Tenta deixar de lado, tirar do currículo escolar obrigatório, disciplinas tais como: Filosofia, Sociologia, Artes, História e muitas outras, pois seria um luxo o estudante ter essas disciplinas que levam a pensar criticamente. Não uma necessidade básica do ser humana, pensar para que?!

Ainda surge esse debate da escola sem partido. Sem partido para quem?! Isso tudo gera uma imensa insegurança e medo nos educadores. É uma iniciativa que tenta matar a liberdade de pensamento dentro das escola. Gera também muita desconfiança. É a volta de um tempo que todos achavam que já tinha superado, vencido. Na verdade é uma tentativa de matar a escola como espaço da liberdade e da construção da liberdade plena, é uma tentativa de controlar o espaço escolar. Quem a combate? Por que? A escola ainda é o único espaço de resistência e construção da liberdade, querem acabar com isso.

Na sociedade há um individualismo exagerado. Falta solidariedade, tempo para o outro, se preocupar com a dor do outro, falta compaixão.

Tem saída? Qual?

Sim. Tem saída.

É preciso fazer a critica imanente. Criticar de dentro. Criticar a partir de nós mesmos, da ação.

Tudo gira em torno da educação, da formação humana, da importância de inverter isso tudo, ter um novo olhar, mais humano.

Em relação a arte, é necessário ressaltar, a importância do indivíduo ter contato com a obra de arte, com a literatura, com a boa obra de arte, com a boa literatura. Possibilitar contato com os grandes espíritos. A partir dai, quem sabe desenvolver pessoas melhores, ter referência, sonhos, sair do aprisionamento que querem nos meter. Fazer reflexões, pensar, a partir daqueles que iluminam com suas obras.

Aqueles que amam a beleza não desenvolve uma ética, uma ação, uma atitude, contra a humanidade, mas muito pelo contrario.

O que é dado não é definitivo. Tem que pensar, mudar, sonhar, humanizar.

Pensar é um ato revolucionário hoje e sempre.

Hoje a tarefa é de resistência. É preciso resistir.

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