Respeito às instituições acima de tudo
Jogando mais lenha na já alta fogueira da cena política nacional, o presidente da República, Jair Bolsonaro, compartilhou para sua rede de contatos via WhatsApp de seu telefone celular particular, dois vídeos conclamando à população a comparecer nas manifestações de rua que irão ocorrer no próximo dia 15 de março.
Os vídeos, produzidos em tom amador, emocional e de fácil assimilação, exortam o “heroísmo” do chefe do Poder Executivo Federal e elencam eventuais “virtudes” como patriotismo, conduta ilibada, seriedade e cristianismo e pedem o comparecimento da população nas atividades que têm como pautas principais ataques (e fechamento por parte de alguns) ao Congresso Nacional e ao Supremo Tribunal Federal, classificados pelos apoiadores da ação como “letárgicos”, “corruptos”, “chantagistas” e que não deixam o presidente governar.
Descoberto graças a um fogo amigo que vazou a mensagem para a imprensa, Bolsonaro assumiu o compartilhamento da mesma, mas minimizou a atitude classificando-a como de cunho pessoal. O gesto gerou calorosa reação de diversos setores da sociedade da classe política, repudiando a atitude e lembrando o presidente de que ele cometeu crime de responsabilidade passível de perda do mandato e suspensão dos direitos políticos.
O Brasil é um país com histórico de autoritarismo. Conta com golpes, trapaças, viradas de mesa e ditaduras desde ao menos o Golpe da Maioridade de D.Pedro II em 1840, passando pela quartelada que instaurou a República em 1889 e as ditaduras de Getúlio Vargas (1930-1945) e Civil-Militar (1964-1985). A democracia por essas bandas é a exceção e não a regra e por isso mesmo devemos respeitá-la e defendê-la por ser o sistema político mais igualitário que há.
Não cabe sob nenhuma argumentação (ou mesmo de caráter reservado como alegou Bolsonaro) ao chefe de um poder constituído insuflar e jogar a população contra os outros poderes. Essa ação é irresponsável, afronta a Constituição e o Estado Democrático de Direito. É mais um lance do modus operandi de ir testando e esgarçando os limites aos poucos.
O presidente foi eleito de forma democrática e soberana sob as regras atuais do jogo e tem seu mandato até o dia 31/12/2022 . Deveria se esforçar em melhorar sua articulação política com o Legislativo e respeitar a independência do Judiciário, não confrontá-los. O Brasil, a democracia e as instituições agradecem.
Caio Bruno é jornalista, pós-graduado em Comunicação e especialista em Marketing Político. Acesse: www.caiobruno.com.br