RESPONSABILIDADE PESSOAL NO AMBIENTE DE TRABALHO: LIDAR COM A AUTONOMIA E SENTIR-SE HONRADO NO FAZER
“O inconsciente do qual vamos tratar é aquele que leva o ser falante a responsabilizar-se pela invenção de seu estilo singular de usufruir de seu corpo e de sua vida” (Jorge Forbes – Livro Inconsciente e Responsabilidade)
O psicanalista Jorge Forbes destaca, lembrando Lacan, que por sermos humanos somos sempre responsáveis... E ratifica a responsabilidade como um ato humano, diferenciando-a da culpa. Um ato humano que o leva a assumir suas criações... Somos responsáveis seja por nossos atos conscientes ou inconscientes...
É com este princípio de “inconsciente responsável” [1], que leva o ser humano a assumir o risco por suas criações vida a fora, e construir com autonomia seu jeito singular de responder a cada acaso na vida, que também abordamos a ação humana no ambiente de trabalho.
Nossas reflexões por aqui já deram conta da multiplicidade de singularidades que se encontram num ambiente organizacional. Ambiente este, que por sua vez, também se estrutura numa forma singular de existir, muitas vezes nomeadas de cultura organizacional...
Sobre as possibilidades, ou não, de compreensões entre as pessoas no ambiente de trabalho já refletimos e parece-me que desembocamos no mesmo leito, do assumir responsavelmente nossa singularidade frente a cada situação que a nós se apresenta e na relação com o outro... E também, assumirmos neste conviver a impossibilidade da compreensão...
Mas, em todas estas e outras reflexões aqui levantadas, permanece a necessidade de seguir em frente, honrando o fazer do dia-a-dia, mesmo com as imprevisões, na construção de diversas formas de lidar com as relações humanas no ambiente organizacional, pois será a partir deste lidar que as organizações, deverão alcançar os resultados que se propõem... Não há como se “curar” das benesses e dificuldades destas relações...
Penso que algumas organizações, mesmo sem usar os termos psicanalíticos aqui utilizados, já se esforçam em dar sua contribuição para consolidar a expressão da responsabilidade das pessoas. Observo isto em práticas como: Capacitação e utilização de ferramentas para que os próprios funcionários estabeleçam seu processo de crescimento de acordo com sua vontade e demandas; Permissão para que os colaboradores alternem entre trabalho remoto e presencial em hubs de inovação. Além de outros, que ao meu ver, buscam aumentar a autonomia dos componentes de suas equipes.
Recomendados pelo LinkedIn
E dar autonomia, acredito ser um bom exemplo nesta prática de responsabilidades e via de mão dupla, onde a empresa assume responsabilidade de criar um ambiente com esta característica e os trabalhadores se responsabilizam também em assumi-la... E ações como: Encontros realizados periodicamente sem a presença do líder, por temas apresentados pelos próprios funcionários; Modelos onde a presença física e os horários rígidos estão sendo abolidos; são exemplos de como por um lado a empresa sensibiliza para assumir a autonomia, a pessoa inserida no contexto, cabendo a cada colaborador perceber e atuar com esta liberdade, junto à liberdade das outras pessoas com quem se relaciona no dia-a-dia de trabalho.
Como na vida, o ambiente organizacional, apesar das suas estruturas determinadas de poder e planejamentos, sempre será invadido pela indeterminação e impossibilidades de se encontrar respostas prontas para tudo... E em vários momentos, com a autonomia que lhe é estimulada, a pessoa inserida no ambiente organizacional vai se deparar com os imprevistos, com a necessidade de tomada de decisão, sem muitos elementos que lhe garantam que vai acertar ao final... Nestes momentos, a característica humana de ser responsável será imprescindível... Responsabilizar-se pelo fazer com o outro, vai fortalecer a honra de agir e criar soluções...
Responsabilizar-se então, e está pronto às surpresas e a possibilidade de criar, pois “não havendo o encontrar tudo pronto.... Inventa-se...”
Diria um analista, professor meu.
[1] Ideia ratificada pelo citado psicanalista em seu livro Inconsciente e Responsabilidade.