Ressignificar a jornada!
As vezes ( confesso que ultimamente muitas ), me surpreendo pensando na minha existência finita.
Sim, existência finita.
Não me refiro ao fato de acreditar que enquanto humanos ou humanas, temos a natureza tricotômica (corpo, alma e espírito ) e nesta visão um ser infinito, mas sim ao fato da minha existência enquanto matéria, corpo (carne, ossos, pelos), a qual envelhece, adoece e um dia será apenas uma memória.
Até janeiro deste ano, trabalhei em um bairro onde ainda existem e resistem, vários casarões majestosos, amplos, cujos estilos de construção e arquitetura remontam a muitas décadas passadas e construídas quando a região ainda era rural e dividida por riachos de águas límpidas, os quais deram o nome ao bairro.
Não cansava de admira-los e ficar filosofando sobre seus possíveis idealizadores e moradores. Quem eram, quais foram seus planos, projetos. Como viviam. Quem habitou entre aquelas paredes, quais conversas tiveram, quais foram seus sonhos.
Um dos restaurantes que frequentava, está instalado em um desses casarões e por isto, tinha a oportunidade de algumas vezes ocupar um desses espaços, percorrer o local, subir e descer as mesmas escadas de quem viveu no local em uma outra época, quando talvez a residência foi o palco de grandes e prestigiados eventos sociais.
Porém, as mudanças de modelo da vida em sociedade também começaram a impactar e mudar o local. E com isto, muitas construtoras adquiriram várias casas para demolição e construção de grandes edifícios.
E com isto, tudo se torna apenas memória.
Andando pela região, duas casas praticamente históricas que eu conhecia e admirava, foram ao chão. E ao ver isso, pensei o quanto as pessoas que construíram essas casas, haviam sonhado com o local, idealizado suas vidas e suas casas, planejado como seria o estilo de vida das suas famílias. Quais sonhos, alegrias e tristezas foram partilhados no local.
E agora são apenas entulho, pedras, pó e ferro retorcido.
Seus fundadores, hoje são apenas memória.
O quanto somos finitos no tempo e espaço.
O quanto damos importância ao que não é importante. Tratamos como relevante o que é irrelevante.
Talvez porque eu já vivi uns 2/3 do meu tempo finito caminhando sobre esta terra, consiga ter outros parâmetros (penso que maiores e melhores). E o envelhecer nos fornece isto, esta visão. Nos despe de tantas coisas que na realidade nunca nos pertenceram, mas que na jornada incorporamos e nos moldamos pela medida dos outros. E o quanto se despir de tudo isto é confortável e bom.
Já surtei por muita coisa. Chorei e fiquei muito mal por outras. Já ri bastante. Escolhi certo e não tão certo e paguei o preço de cada ação. Fiz amizades pra vida toda e amizades por alguns minutos. Fui muito feliz e muito triste. Conheci pessoas, fatos, coisas. Mas hoje, ah o tempo hoje, são apenas lembranças e referências (umas boas outras não)...
Por isto, hoje faço a escolha de esvaziar bem a bagagem pra continuar a caminhada, pois já foi muito pesada.
Por quanto tempo mais? Somente Deus sabe. E tentar fazer escolhas mais acertadas. Mais felizes. Mais leves.
Sim, pela minha natureza a humana, sei que ainda farei escolhas não tão acertadas e sofrerei por muitas outras.
Mas levarei menos tempo pra retomar o caminho o qual eu acredite ser o certo.
Neste tempo, onde infelizmente temos muitas histórias tristes, inclusive a algumas semanas perdi um amigo muito querido decorrente desta pandemia que tem afetado o mundo, resolvi buscar um outro olhar sobre tudo isto.
O olhar do ressignificar.
Me reaprender, me entender, me buscar. Já me perdi muito nesta caminhada e fiz um pacto comigo mesma, de que não me permitirei mais ficar onde não sou necessária e não fazer coisas que me dilapidam e roubam minha alma, minha essência, o propósito da minha jornada.
Somente assim poderei me olhar de frente e consequentemente, olhar o outro como se fosse eu.
Porque amanhã quando minha existência finita transformar tudo em pó, entulho, amontoados de pedra e ferro retorcido e eu ser apenas uma memória, que ela remeta a boas lembranças.
E que desta forma esta boa memória me transforme e me liberte para viver minha existência infinita!