Retrospectiva 2022: um ano para ficar na história
Último dia do ano. Estou em Florianópolis, em casa próxima do mar, rodeada pela natureza e tentando ficar o mais desconectada possível.
Em 2007 adotei o hábito de reservar os últimos dias do ano para reflexão. Reservo slots na agenda para voltar no tempo e resgatar, mês a mês, os pontos que considerei mais relevantes no ciclo que chega ao fim.
Nos últimos 3 anos, por conta da pandemia, também adquiri um novo hábito: escrever meus sentimentos em um diário. Retornar nessas escritas é mágico e restaurador. É possível perceber o quanto algumas coisas simples me tiraram do eixo. O quanto uma partida me fez sofrer e me dar conta da riqueza das coisas que aconteceram com o passar do tempo.
Hoje acordei cedo, bem cedo, como já é meu costume. Caminhei até o mar, sentei na areia e fiquei observando a natureza, sua perfeição, os sons, o visual, a incidência do sol na minha pele. Agradeci por tudo que vivi nos últimos 365 dias.
Dentro de algumas horas 2023 estará batendo em nossas portas e um filme passou pela minha cabeça. Voltei para casa e sentei para escrever este artigo. Convido você a vir junto nesta retrospectiva. Talvez ela possa contribuir para algumas reflexões aí do seu lado também.
Um ano em que falei muito de morte
2022 começou com o surto de uma nova variante do coronavírus: a omicron. Altamente contagiosa, essa nova cepa se espalhou rapidamente e afetou mesmo quem já tinha 3 ou 4 doses de vacina. Apesar da proteção da vacina, perdi um tio muito querido para a covid-19 ainda em janeiro.
Em um determinado dia ele nos avisou, no grupo da família, que estava com covid e que precisaria ir para o hospital. Seis dias depois recebia a notícia do seu falecimento. Foi tudo tão rápido, que não parecia ser real. Ele era irmão do meu pai, que sofreu calado, do jeitinho dele mais introspectivo.
Não tivemos tempo para nos despedir e muitas perguntas ficaram no ar. Por que não nos abraçamos mais? Por que não nos vimos mais? Não viajamos mais? Não falamos mais “eu te amo”. Por que? Por que e por que? Eram tantas perguntas sem respostas que eu me peguei questionando o papel da morte em nossas vidas.
Acho que a gente só se dá conta da loucura que vivemos quando a vida nos oferece um “presta atenção”. Tinha interrompido a terapia por uns 2 meses e o luto familiar foi o gatilho para um recomeço. Comecei o processo com uma nova profissional, a Ana Paula Dias . Naquele momento não imaginava o quão rico seria esse novo processo.
Começamos falando de perdas, do meu papel no núcleo familiar, falamos sobre finitude e isso se desdobrou, obviamente, para a minha relação com o trabalho.
Os meses se passaram e veio uma outra notícia trágica. A notícia da morte de um amigo de infância, que lutava contra um câncer. Eu tomei conhecimento do quadro dele dois dias antes do seu falecimento. Estava em Recife, na ocasião, e me planejei para uma visita tão logo chegasse em Sampa. Não deu tempo. Soube da sua partida, ainda durante a viagem, e só consegui correr para o aeroporto e antecipar o voo de volta para fazer minha última despedida.
Lembro de ter chorado durante todo o voo de volta. Relembrei momentos doces da nossa adolescência, dos sorrisos, dos abraços, das brincadeiras. A vida adulta nos levou para destinos diferentes e distantes. Ele morava nos EUA há vários anos, mas sempre que nos reencontrávamos era como se o tempo não tivesse passado. Vê-lo no caixão foi muito difícil e doloroso.
De novo uma série de perguntas invadiram meus pensamentos. Vieram os inúmeros porquês e “e ses”, que para sempre ficarão sem respostas. Mais uma vez a finitude da vida estava diante de mim.
Fiquei muito abalada com aquela partida tão cedo. O medo acionou em mim um gatilho de autoproteção. E, nesse movimento, ao fazer um autoexame descobri, semanas depois, um nódulo em uma das mamas. Nem sei descrever o que senti. Usei os rabiscos do diário para resgatar as emoções. Tive medo, fiquei apavorada, introspectiva, chorei horrores. Literalmente pirei.
Partilhei o momento com meus pais e alguns poucos amigos, que proporcionaram um super suporte emocional. Foram algumas semanas de angústia até descobrir que o nódulo não era maligno. Semanas sombrias, onde eu me esforçava para não pensar o pior.
Enquanto aguardava o dia da consulta e depois os resultados dos exames, meus pensamentos oscilaram entre está tudo bem e o medo da palavra câncer. Catastrofizei? Com toda certeza.
Em 2022 também falei muito de vida
Nunca tinha pensado na morte e no seu significado. A perda de pessoas queridas e o medo de ser diagnosticada com uma doença grave me fizeram refletir sobre a vida.
Em meus momentos introspectivos, pude reavaliar muito do que havia feito ao longo dos meus 41 anos. Nesse período tive contato com as obras da geriatra e paliativista Ana Cláudia Quintana Arantes.
Li, primeiramente, a obra denominada “A morte é um dia que vale à pena viver”. Depois vieram para a vida toda vale à pena viver, mundo dentro e histórias lindas de morrer. Aprendi tanto com essas leituras. Fiz um verdadeiro mergulho dentro de mim.
Como disse a Ana, minha psicóloga, desde o começo de 2022 falamos muito de morte, mas também falamos muito de vida.
Lembro de ter compartilhado com ela a energia que eu senti por ter ficado até mais tarde em uma festa. Quem me conhece nos dias atuais sabe que eu tenho uma rotina de sono bem regrada: durmo cedo, acordo cedo e uso o início da manhã para me exercitar e meditar. Logo, curtir uma balada não é exatamente algo corriqueiro.
Em uma das nossas sessões disse a seguinte frase: Ana descobri que tem vidaaaa nesse corpo. Nós duas rimos juntas. É óbvio que tem vida ahaha, mas eu estava me referindo a uma energia, uma vibração, que não sentia há bastante tempo.
Falamos muito de vida, de equilíbrio, de escolhas, de idealização, de não existir perfeição, e muito mais. Os acontecimentos do caminho serviram de ponta pé inicial para um período de reavaliações.
Recomendados pelo LinkedIn
Quem sou eu? Do que eu realmente gosto? Por que escolhi este caminho? O que é importante para mim? Foi necessário olhar para dentro para renascer, florescer, como uma planta que floresce a cada primavera.
Nunca falei tanto de vida.
Tem uma revolução magnífica acontecendo dentro de mim. Interessante é perceber que a prática leva à eficiência. Depois de mais de uma década de terapia, vejo o quanto cada nova sessão consegue ser rica e produtiva. Cada sessão é uma explosão de ideias. Parece adubo em alta potência. Não sei explicar, apenas sentir. E como tem sido bom poder usar o processo a meu favor.
Um 2022 potente
Pensa em um ano que olhei bastante dos vales, para os dias sombrios e para o medo. Teve muita introspecção, mas também teve uma avalanche de dias alegres.
Que ano potente e poderoso esse tal de 2022. O ano começou com uma intensa agenda de diligência. Na Vittude estávamos trabalhando para realizar uma nova rodada de investimentos, que foi concluída em março. Os 3 primeiros meses do ano deixaram os nervos à flor da pele.
Como disse no post de ontem, aqui no LinkedIn, em um ano onde o dinheiro parece ter sumido da praça, nós celebramos na Vittude uma baita rodada de investimento. Foram R$35 milhões para aumentar a escala de um projeto que, há 7 anos, era um sonho só meu e do Everton.
Nove meses se passaram desde a conclusão da rodada. O faturamento da Vittude dobrou em relação a 2021, nosso time amadureceu, novas pessoas se juntaram ao grupo e vejo que estamos muito unidos e engajados. Eu amadureci muito como líder e CEO. E é super bacana olhar para trás e conseguir perceber a evolução.
Fui convidada para me tornar Venture Partner da Antler , um fundo de Singapura que convido todos a conhecer. Gravei um curso de Inteligência Emocional e virei mentora do G4 Educação . Fiz meu primeiro investimento anjo na Kultua , startup fundada e liderada pela Lívia Brandini .
Viajei para lugares muito legais. Tive a oportunidade de conhecer empreendedoras do mundo todo em um encontro da Cartier em Dubai. Conclui uma formação em empreendedorismo social no Insead, uma das melhores escolas de negócios do mundo. Li muito muito muito. Em breve vou compartilhar um artigo com uma recomendação de livros para 2023.
Produzi muito conteúdo, falei sobre saúde mental, liderança, empreendedorismo, violência doméstica... Teve até estreia no cinema. Sou uma das personagens do documentário Inovar é um parto, produzido pela inspiradora Patrícia Travassos. O filme está disponível na globo play para quem quiser assistir. Desafio a não se emocionar!
O que vem por aí!
Recentemente fui convidada pela Marcela Leviz para me tornar uma LinkedIn Creator. Este foi um dos presentes legais que ganhei este ano. Costumo dizer que sou uma leitora voraz. Amo ler, me desconectar do resto do mundo e mergulhar nas histórias. Também adoro escrever, não à toa tenho o hábito de registrar pensamentos, emoções e devaneios em um diário.
Ter a possibilidade de produzir conteúdo aqui é ao mesmo tempo uma baita responsabilidade, mas também um prazer. Produzir conteúdo é delicioso, mas ele fica mais rico quando tem colaboração e engajamento. Espero contar com você, com seus feedbacks e com sugestões para que eu consiga de fato agregar valor aqui.
Pensei bastante em uma linha editorial que faça sentido. Uma linha onde eu possa compartilhar minha experiência como empreendedora, como mulher, como líder, como profissional, como leitora e também como ser humano, imperfeito, que sou.
A partir de 2023 vocês verão por aqui conteúdos sobre saúde mental, bem-estar, qualidade de vida, empreendedorismo, debates sobre futuro do trabalho, carreira, liderança e muito mais.
Nesse sentido, após trocar umas figurinhas com a Marcela, também decidi criar uma newsletter intitulada “Pega leve na jornada”. Não podia ser nada diferente depois de um ano onde o contato com a morte e a vida se fizeram tão presentes.
A Ana Claudia menciona em um dos seus livros que todo mundo pensa que o oposto da morte é a vida, mas na verdade o oposto da morte é o nascimento. Vida é o que acontece entre os dois momentos.
Se queremos ter uma vida longeva e feliz, precisamos nos cuidar, precisamos de equilíbrio, precisamos valorizar cuidados de saúde. Se faz necessário uma jornada leve e gostosa. Uma vida que valha a pena ser vivida. Uma vida onde a gente não se transforme em mortos vivos, caminhando por aí, apenas trabalhando, produzindo, sem nem sequer prestar atenção no que acontece ao nosso redor. Uma vida onde seja possível sermos gratos ao invés de nos arrependermos pelos abraços que não demos quando a morte chegar.
Bora pra 2023? Ele tá logo ali, nos aguardando, cheio de coisas boas, de esperanças renovadas, de oportunidades de aprendizado e de muito a ser vivido.
E, em 2023 lembre-se de pegar leve na jornada. <3
Sou a Tati, CEO e fundadora da Vittude, empresa referência no desenvolvimento de programas de saúde mental corporativos. Costumo dizer que eu sou uma engenheira que se apaixonou pela psicologia. Passei por um episódio de violência doméstica e convivi com um quadro de depressão. Utilizei as experiências doloridas que vivi para me reinventar como pessoa e profissional. Abandonei a carreira executiva por uma grande missão: ajudar a democratizar o acesso a serviços de saúde mental. Divido parte do meu tempo entre a liderança da Vittude e a produção de conteúdo sobre saúde mental, qualidade de vida, equilíbrio, modelos de trabalho, liderança e empreendedorismo. Espero que você curta a jornada e, se quiser conversar, estou à distância de uma mensagem!
Contabilidade | Administração | Assistente Administrativo | Comunicação Social
1 aGenial, Tatiana Pimenta. Um ano tem 52 semanas e 01 dia e já estamos na décima primeira semana de 2023: amei te conhecer ontem, quinta-feira, 16 de março de 2023 e te sigo desde hoje. A morte não é nada para nós, porque enquanto estamos vivos, não existe a morte, e depois que morremos, nós é que não existimos mais. Um ser humano normal pode viver até 120 anos se souber se alimentar corretamente e não ter nenhum comportamento de risco. Eu pretendo viver até os 107 anos de idade e, sobre saúde mental, te digo algo importante: casa própria, emprego fixo, sexo, nada disso te fará feliz; a única maneira de ser feliz é ser você mesmo. Ser eu mesmo, só consegui isso aos 19 anos e meio de idade e, hoje, tenho 30 anos e meio. Tenho 76 anos 05 meses e 14 dias de vida pela frente!
New Bussiness | Inovação em Saúde e Biotecnologia | Healthtech & Biotech
1 aAinda não li tudo, mas adorei. Que inspirador!!
HeadHunter |Consultora de Carreira | Especialista de Recrutamento e seleção | Psicóloga | Idealizadora Fator4
1 aAdorei a forma leve que comunica suas ideias, nos prende na leitura. Além claro do conteúdo... que tissunami de promoções e emoções, mas isso tudo é a vida, aquele intervalo mencionado entre o nascimento e a morte. Seguimos firmes e fortes para 2023 e inspirados com histórias como a sua. Obgda por compartilhar.
Pesquisadora
1 aAdorei sua pagina! Estou ha algum tempo sem entrar no Linked In, e fiquei muito feliz com o que li por aqui....Parabens! Nao sei se ja postou as dicas de livros, mas quero muito.
Field Operations Specialist- FOD at Otis Elevators
1 aQue excelente reflexão, que venha 2023 repleto de bons pensamentos, gratidão, saúde e muita, muita PAZ!🙏