Reverter a desindustrialização?

Durante as últimas décadas, assistimos a um processo acelerado de desindustrialização em nosso país, caracterizado pela queda na participação da indústria na produção e no emprego. A indústria brasileira tem perdido relevância em nossa economia, o que traz implicações significativas para nosso mercado de trabalho.

Por outro lado, as novas tecnologias, com especial destaque à Inteligência Artificial e à Robótica, não somente estão remodelando profundamente a estrutura econômica mundial, como estão fazendo isso numa velocidade sem precedente. Eventos que imaginavamos vir a se tornar realidade somente daqui a algumas décadas, como uma fábrica inteira sendo gerida não por uma pessoa, mas por um software, já são hoje realidade, como vi com meus próprios olhos na última semana. Embora tragam consigo a promessa de maior eficiência e novas oportunidades, essas mudanças também preocupam, pois podem intensificar o desemprego decorrente da menor competitividade daqueles que aderem tardiamente à essas tecnologias e maior desemprego estrutural, sendo este em função dos fato de que muitos trabalhos tradicionais estão sendo automatizados.

Como enfrentar esses desafios complexos? Não existe uma solução única, mas a partir da coesão dos orgãos de representação empresarial e um esforço coordenado e conjunto com o poder público, podemos considerar algumas medidas para um caminho para o futuro:

1. Reindustrialização orientada à tecnologia: reindustrializar não significa necessariamente voltar à antiga forma de produção industrial. Precisamos fomentar uma nova indústria, voltada para o século 21, focada em alta tecnologia e inovação. Isso requer investimentos significativos em pesquisa e desenvolvimento (P&D), bem como políticas de incentivo não somente à criação de startups e empresas de base tecnológica, como a reconfiguração e atualização da indústria tradicional;
2. Educação para o Futuro: precisamos garantir que a força de trabalho esteja preparada para as demandas do mercado de trabalho do futuro. Isso significa investir pesadamente em educação de qualidade, especialmente em áreas STEAM (Ciência, Tecnologia, Engenharia, Arte e Matemática), começando pela educação de base, passando pela formação técnica e universitária, além de desenvolver programas de requalificação profissional para aqueles já no mercado de trabalho.
3. Rede de Seguridade Social Fortalecida: à medida que o mercado de trabalho se transforma, é essencial que haja uma rede de seguridade social robusta para apoiar aqueles que estão em transição entre empregos ou setores, e mesmo aos que ocupavam vagas que foram ou venham a ser eliminadas e que precisarão ser requalificados em termos educacionais. Isso pode incluir programas de renda básica, seguro-desemprego aprimorado e acesso a serviços de saúde mental. Para tanto, o Estado precisa reduzir gastos operacionais quanto à sua própria estrutura de modo a que haja espaço fiscal para o fortalecimento dessa rede.
4. Parcerias Público-Privadas: o setor privado em conjunto com o poder público tem um papel crucial a desempenhar nesse cenário. Parcerias público-privadas podem ser uma maneira eficaz de impulsionar a inovação e a reindustrialização, além de promover a formação de uma força de trabalho qualificada e orientada às áreas que necessitam.

Estamos em um ponto de inflexão na história econômica do Brasil. A desindustrialização e o avanço tecnológico podem ser vistos como desafios ou oportunidades, dependendo de como respondemos a eles.

Com coesão não somente para a proposição de pautas e políticas adequadas, mas em sua execução, além de um planejamento orientado ao longo prazo temos a chance de moldar um futuro econômico não somente resiliente à tudo o que se aproxima, mas mais mais forte e inclusivo para nosso país e região.

E quanto à sua empresa, trata-se de desafio ou oportunidade?

Bruno Frossard

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