Só quando você for mãe é que vai entender - Ou quando for gestora

Só quando você for mãe é que vai entender - Ou quando for gestora

Quem nunca ouviu da digníssima senhora sua progenitora a máxima “só quando você for mãe/pai que vai entender”?  Eu ainda não sei o que é gerar uma vida, mas tem um tempo que venho conjugando outro verbo também bastante desafiador - gerir. Na profissão, a  gente faz faculdade, se especializa e com persistência, tombos, erros e acertos, fica bom se realmente quiser. Na vida, a gente erra, os pais corrigem. Risca a parede e aprende a limpar. Dá um desgosto e sente a maior vergonha do mundo, como se um crime acabasse de ser cometido. A gente vai rezando a cartilha de pessoas a quem se passa a colocar em um lugar de divindade. Confortável pra quem obedece.

No treinamento, seja da vida ou da carreira, aprende-se a ser gerido. Já o outro lado dessa moeda, o ato de gerir, parece ser aprendido no quebrar da cara, na maioria das vezes. A menos que você seja um especialista em RH e desenvolvimento humano. Ou, em um mundo dos sonhos, sua empresa já nasça grande e estruturada o suficiente para contar com um departamento exclusivo para lidar com pessoas. Sinto informar, mas este será um terreno de ovos pelo qual precisará dançar polca.

Sua visão, missão e valores, bem como o clima idealizado para a empresa são claros o suficiente! - Você afirma. Logo, como alguém pode não entender? Ora, mas além disso, tem se tornado um líder admirável, já que repudia todos os comportamentos toscos e nocivos que observou em seus gestores ao longo da vida. Para completar, ainda adota métodos  maneiríssimos e aplica meritocracia com objetivo de ver todo mundo crescer. - São certezas suas. Como alguém poderia não amar um líder assim?

Posso ouvir soar em coro, como música de fundo, todas as críticas que eu mesma já fiz aos meus líderes e pais. Sério, aproveitando a deixa, minha desculpas públicas a eles. Criticar é saudável, mas não pode ser um culto à teimosia e incorrigibilidade. Quem já tem mais tempo de estrada, minimamente, sabe como se quebra a cara. É inteligente aprender a evitar as dores - olha que simples - ouvindo.

Na prática não é tão fácil. Tente gerir e logo perceberá que, esses são SEUS métodos, visão, missão e valores. SEUS. Quando isso sai de dentro do seu universo interno, e precisa então ser comunicado a um outro ser humano, lascou-se! É aí que instalam-se todos os ruídos de comunicação possíveis. É nessa hora que eu convido a atirar a primeira pedra o gestor que: nunca se sentiu culpado, que nunca achou que seu máximo não valia de nada e também os que, por um momento que fosse, desejaram descer uns degraus só pra se livrar do peso.

As cenas podem parecer familiares. Uma mensagem no whatsapp que era para motivar, é lida como ameaça. Uma reunião de alinhamento é vista como crítica. A oportunidade de abraçar mais responsabilidades é percebida como sobrecarga. A confiança que você deposita é traída. Algumas vezes o investimento de tempo e treinamento é substituído por R$50,00 a mais no salário. Em outros casos, a liberdade concedida se torna desleixo. É aí que quebram-se os ovos.  

Com o passar dessa dança toda, o que a gente vai aprendendo que certa está a passarinha, e também a mãe da gente: não se aprende a voar sem ser jogado do ninho. Mas também o instinto, não deixa chegar essa fase sem que o filhote esteja pronto. É o equilíbrio perfeito a ser atingido. Fico pensando, em meio ao omelete nosso de cada dia, que gestão talvez seja sobre quedas de ninhos, vôos desengonçados e em mesma medida corajosos.

Gestores aflitos que precisam soltar a prole e do outro lado e ninhadas emputecidas por serem arremessadas da sua zona de conforto. O risco de tentar é a única maneira de voar. E quando enfim se consegue? Dai não tem mais ovo pra contar história. Quem voa pela primeira vez e quem ensina a voar tem algo em comum: ambos precisaram pular do ninho.



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