Saúde menstrual na América Latina: porque isso é importante?
Estudantes do projeto em Educação Menstrual realizado pela BeGirl na Colômbia.

Saúde menstrual na América Latina: porque isso é importante?

Meninas e Mulheres na América Latina nascem, vivem e crescem em circunstâncias bastante particulares. Apesar dos avanços significativos dos últimos anos, a região ainda é marcada por grandes desafios no combate à pobreza e a violência, a diminuição da desigualdade social, os altos índices de gravidez na adolescência e casamento infantil. A Guatemala, por exemplo, registrou em 2010 que de 1 a cada 10 meninas entre 15 e 19 anos já haviam engravidado. Outro estudo realizado em 15 países da região, mostrou que 25% das adolescentes entre 20 e 24 anos se casou antes de completar 18 anos de idade. Dentro deste cenário, a América Latina é uma região com um dos índices mais baixos na promoção da igualdade de gênero. Com o terceiro maior índice de fertilidade na adolescência no mundo e altos índices de casamento infantil, países como o Brasil, por exemplo, ocupam o 102º lugar no ranking mundial de igualdade de gênero, apenas duas posições à frente do frágil estado do Haiti (STC, 2016).

O impacto deste cenário na vida de meninas, tem implicações significativas a longo prazo, pois com casamento precoce e as altas taxas de fertilidade entre as jovens diminui-se os anos de escolarização, a frequência escolar e horas de trabalho, o que por consequência atua como perpetuador do ciclo da pobreza, impedindo não apenas a mãe, mas todo o seu círculo familiar de adquirir recursos importantes para a sua ascensão social. Todos estes desafios ilustram a urgência da América Latina em implementar estratégias de saúde sexual e reprodutiva que considerem uma perspectiva de gênero, para garantir de uma maneira efetiva o exercício dos direitos de meninas e mulheres o seu desenvolvimento integral e autônomo. No entanto, estudos recentes têm mostrado que as políticas públicas em saúde reprodutiva têm focado em intervenções de planejamento familiar, doenças sexualmente transmissíveis e programas de educação sexual, sem abordar a menstruação como uma importante porta de entrada para a promoção da saúde. Um crescente número de estudos tem mostrado, que educar sobre menstruação, não apenas auxilia a desmistificar tabus em torno do tema, como também ajuda quem menstrua a ter mais confiança sobre o próprio corpo e a navegar a sua saúde reprodutiva com maior segurança e dignidade. No entanto, a maioria dos estudos e intervenções voltadas para a promoção da saúde menstrual tem se concentrado mais em países africanos e asiáticos, e poucos na região da América Latina.

O tabu e os mitos em torno do tema, ainda continuam sendo o maior desafio para o avanço do debate e a efetiva promoção da saúde de milhares de mulheres e meninas na região da América Latina. A normalização das dificuldades de acesso a produtos de higiene pessoal como um problema da esfera privada, impedem o avanço do debate na esfera pública, na efetivação de políticas públicas que garantam o direito de menstruar com segurança, dignidade e em ter o acesso adequado a informação ao alcance de todos. Chamar a atenção sobre o papel da saúde menstrual na promoção da saúde sexual e reprodutiva da região, é fundamental para avançar no debate, mas acima de tudo, a ajudar a compreender o tema como um direito humano. Somente assim, será possível avançar em uma efetiva igualdade de gênero na região.

Rachael Ouko

Accountant, Speaker, Mentor and Trainer on SRHR, Menstrual health Educator

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