A SAÚDE MENTAL DA MULHER EM AMBIENTE DE ALTA PERFORMANCE
Ambiente competitivo e de alta performance tende a ser, ainda, mais dominado pelo gênero masculino, menos suscetível a erros e falhas, em que se impõe comando e controle e há pouca segurança psicológica. Junta-se a isso, o fato de que as mulheres querem e merecem cada vez mais cargos de destaque, reconhecimento por sua boa atuação e performance. Trago a reflexão: será que os ambientes de trabalho estão preparados para oferecer segurança, apoio, flexibilidade e autonomia para essas mulheres? E caso não estejam preparados, como essas mulheres lidam emocionalmente com a hostilidade e sexismo presentes nesses ambientes? Devemos cuidar da saúde mental de todos, mas em tempos de equidade de gênero, é urgente colocarmos luz à saúde mental dessas mulheres profissionais, bem como seus desejos, medos, aflições e vulnerabilidades.
É possível ver a prevalência tanto na busca por ajuda, como nos diagnósticos relacionados a questões mentais, em mulheres.
Por meio de estudos e experiência, fica evidente uma maior preocupação da mulher em relação a diferentes demandas, sejam elas pessoais como profissionais. Fica claro o lugar vulnerável em muitos casos, quando elas citam competividade no trabalho, falta de reconhecimento e insegurança ao falar e se posicionar. Torna-se latente a diferença nas tratativas dentro do ambiente de trabalho, muitas são questionadas quanto ao desejo de configurar família, serem mães e tantas outras são orientadas a repensar maternidade, caso o desejo seja alcançar um alto cargo na organização, em médio ou longo prazo. A realidade vivida por muitas, é de sofrer com tantos dilemas que por vezes é imposto externamente, fazendo com que tenham mais questões relacionadas a transtornos mentais. Surgem síndromes como a da impostora, de não conseguirem sentir-se produtivas, ou efetivamente boas naquilo que fazem, pois o reconhecimento neste espaço se dá ao virar noites e noites focadas no trabalho, para alcançar um alto cargo no médio e longo prazo. Consequentemente ficam mais ansiosas frente ao futuro, ficam em crise sobre o que fazer com relação a carreira e a quais caminhos tomar se quiserem, priorizar suas vidas pessoais. Logo, devemos cuidar mais da Saúde Mental dessas mulheres, promovendo dentro do ambiente de trabalho, mais conversas sobre carreira, maternidade, vida social de qualidade, saúde mental e equilíbrio da rotina de trabalho x vida pessoal. Além disso, é de suma importância que uma atuação preventiva seja feita para que possam sentirem-se seguras e que possam ser elas mesmas, sem a necessidade de adotar perfil “masculinizado”, hostil ou frívolo, podendo manter assim, sua essência moral e de valor.
Promover e manter Saúde Mental no ambiente de alta performance se faz urgente. Muitos são cobrados por prazos curtos, demandam muitas horas por dia para realizar uma tarefa, vivem sob uma pressão que beira o colapso mental e que coloca em risco, a integridade física e mental desses colaboradores. E em especial, das mulheres nesse ambiente, pois sentem-se frequentemente um passo atrás dos colegas homens.
Um estudo feito pela ONG Think Olga , nomeado “Esgotadas”, analisou os principais sentimentos que as mulheres sentem no dia a dia, são eles: ansiedade, estresse, baixa autoestima, irritabilidade, tristeza, fadiga entre outros. Ainda de acordo com esse estudo, a situação financeira e conciliação de diferentes áreas da vida têm os piores índices de insatisfação por parte das mulheres entrevistadas.
Nos relatos das mulheres é possível observar medos e anseios em relação ao próprio desenvolvimento profissional, pressão, medo da demissão (sejam elas mães ou não), mas claramente, as colaboradoras que são mães acabam por trazer o medo da demissão de forma mais recorrente, pois tendem a assumir responsabilidades em casa como o cuidado com os filhos, rotina de escola e saúde, novamente aparece o acúmulo de função, cansaço, exaustão mental e física, tendo que cuidar de tantas frentes e deixando-se de lado, na maioria da vezes.
Ao direcionarmos um ambiente mais colaborativo e seguro psicologicamente, mais equânime, com mais espaço para falar sobre assuntos como carreira, traumas, medos e inseguranças, reforçados por uma cultura que irá defender e manter um padrão no qual as pessoas e em especial, as mulheres, possam realmente ser quem são e possam viver de maneira mais equilibrada, a tendência não é só manter uma alta performance, mas também, ser um lugar de pessoas felizes e mais saudáveis emocionalmente.
Com apoio e segurança psicológica, em união com a cultura do ambiente corporativo e uma atuação preventiva nesse cuidado, tende a ser um alicerce para se alcançar o objetivo de trazer mais equilíbrio mental e emocional para essas profissionais.
“De acordo com a OMS as mulheres correm um risco maior de desenvolver transtornos mentais como ansiedade e depressão em comparação aos homens”. Tendo um dia a dia com acúmulo de funções, tanto no âmbito pessoal como profissional, as mulheres tendem a negligenciar os próprios cuidados, em detrimento do cuidado com o outro ou ao colocar, por exemplo, o trabalho em primeiro lugar.
“Uma pesquisa feita pela edtech Todas Group mais da metade das brasileiras sentem um impacto negativo do trabalho, com 51% relatando esses efeitos. O estudo Women in the Workplace 2021 da McKinsey & Company e Lean In, revela que 42% das mulheres ao redor do mundo experimentam sintomas de burnout.”
Dados como os citados acima, mostram o quanto é urgente o suporte para as mulheres cuidarem mais de si e em especial, de sua saúde mental.
Vale destacar todos os desafios pelo os quais, as mulheres passam no dia a dia. Desde questões culturais, como as questões de desigualdade de gênero, violência, questões em ordem reprodutiva / fertilidade, todos os distúrbios envolvendo fases de ciclo menstrual, a própria gravidez e o puerpério, passando pela menopausa, são pontos de extrema importância que devemos olhar ao pensar na saúde mental dessas mulheres.
Ainda existem ambientes em que o estilo “comando/controle” prevalece, por vezes, são ambientes comandados majoritariamente por homens e que em boa parte das vezes não estão focados em pensar na saúde e bem-estar dos seus profissionais, sejam eles homens ou mulheres. Eles apenas focam no resultado financeiro que desejam alcançar, sem tangibilizar todo o desgaste emocional que um profissional passará a ter, para alcançar tais objetivos. Tende a ser uma cultura que pouco valoriza e não oferece um ambiente seguro, o que cria muitos vieses e medos por parte dos profissionais para falarem sobre algo que sentem ou passam, por medo de serem tachados e tachadas como fracos e sem “o perfil necessário” para aquela instituição.
É visto que ambientes assim, priorizam o entregável a qualquer custo. Pessoas passam a ter crises de ansiedade, deixam de comer bem, deixam de ter vida social, para viver em detrimento de uma entrega ou de um projeto
Soma-se a isso, vidas de mulheres, com múltiplas responsabilidades fora do ambiente de trabalho. Temos então, mulheres cansadas e estressadas, que passam a serem vistas como arredias, loucas e reativas. Essas mulheres por sua vez, passam a sentir culpa por não cuidarem de si, não terem tempo de qualidade com sua família e amigos, distanciam-se de si mesmas para viver em prol de uma organização. Em ambiente de cuidado e acolhimento, é possível encontrar muitas queixas tanto com o sentimento de culpa, como também, o medo por pedir ajuda e por buscar um apoio médico e psicológico. Elas passam a sentir vergonha de terem mostrado suas vulnerabilidades, por vezes se fecham novamente, na intenção de mostrarem que estão bem e que aquele momento “frágil” já passou. Voltam novamente à rotina exaustiva de trabalho.
De acordo com pesquisa feita pela Talenses Group e Wellz by Wellhub , 2022:
“A sobrecarga de trabalho é o principal motivo de piora da saúde mental, segundo pesquisa do Talenses Group em parceria com a plataforma Wellz. De acordo com o relatório Saúde Mental pela Perspectiva das Pessoas Colaboradoras, 43% dos entrevistados citaram o excesso de tarefas como “gatilho” de crises, seguido por pressão por resultados e metas (31%) e sentimento de precisar estar disponível o tempo todo (30%).”
É importante que como sociedade, passemos a olhar com mais cuidado para a saúde mental das mulheres. Ao cuidarmos das mulheres, prevenimos muitas agressões, micro agressões relacionadas ao gênero. A mulher precisa ter a garantia de se sentir segura e acolhida, em qualquer ambiente em que esteja. Dentro das empresas não é diferente, precisam lembrar que mulheres emocionalmente estáveis contribuem mais significativamente para o negócio.
De acordo com a fala da Professora Mariana Holanda, na disciplina: Desconectado de Si Mesmo: A Automatização Dos Processos e o Esgotamento Emocional no Trabalho, no curso de Pós Graduação "Saúde Mental e Desenvolvimento Humano" - PUCPR: “Se a gente coloca a sustentabilidade emocional no centro da estratégia da nossa organização, a gente vai conseguir ter uma maior longevidade dentro do nosso próprio negócio.”
Se as empresas focarem juntamente com a eficiência que visam conquistar, o cuidado com a saúde mental das suas colaboradoras, claramente, o negócio será mais rentável e será mais próspero financeiramente.
Dentro das possibilidades que o próprio mercado já executa e oferece em termos de saúde mental, acredito que é possível aos poucos fomentarmos uma cultura mais preocupada com esse tipo de cuidado e em especial, que cuidem das mulheres.
É possível, dentro do ambiente institucional promover treinamentos sobre segurança psicológica, comunicação não-violenta entre outros. Além desses, é pertinente focar em treinamentos mais específicos para a saúde mental. Ou também, proporcionar rodas de conversa com palestrantes externos que falem sobre o tema.
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Outro ponto que pode ser avaliado como sendo viável, é iniciar pesquisas de clima para saber a prevalência das questões incômodas em relação a saúde mental. Dentro dessa pesquisa é possível mapear dentre os respondentes os homens e mulheres, trazendo assim, um indicador mais preciso que irá apoiar a tomada de decisão por determinados cursos, palestras e/ou demais ações institucionais.
Tem sido comum ver as empresas fazendo o movimento de terem internamente apoio emocional ou Psicológico as pessoas colaboradoras. Os acolhimentos se dão de maneira individual, de forma remota ou presencial, sendo um espaço seguro e que trata as informações dispostas ali, de forma confidencial preservando o indivíduo.
De acordo com publicação na VOCÊ RH em 2022:
“Ao serem questionados como as lideranças deveriam lidar com a saúde mental dos funcionários, a maioria dos entrevistados citou a maior transparência em relação à existência de benefícios que abordem o o problema. Programas completos, que, além do atendimento psicológico, ofereçam treinamentos de conscientização do tema e mapeamento de índices de burnout e ansiedade também, deveriam existir.” (FURLAN, Letícia, 2022)
A comunicação dessas ações precisa vir na fala da alta gestão, esses por sua vez devem de fato “abraçar” a ideia e o cuidado. Conforme estiver bem estruturada a ideia com esse nível, passa-se a transmitir as informações para os demais cargos, por meios de reuniões mensais estratégicas, reuniões nos times, estrutura de material na intranet das empresas, divulgação em ações presenciais e por meio de newsletter.
É esperado que executando as propostas citadas, será possível trazer espaço seguro para falar sobre saúde mental, engajar profissionais a falarem sobre seus medos e anseios de forma aberta e segura. Além disso, ao diminuir afastamentos por questões de saúde mental, trazemos mais eficiência para o negócio e rentabilidade.
Tendo por base os tópicos abaixo, retirados de uma matéria da Vale Saúde de 2023 Saúde mental da mulher: por que devemos falar sobre isso, ao cuidarmos mais das nossas mulheres, será possível ter:
· Conscientização: eleva o conhecimento sobre os desafios únicos enfrentados pelas mulheres
· Prevenção: facilita a identificação e o controle precoce de problemas de saúde mental
· Apoio: incentiva a procura por ajuda e recursos para lidar com questões psicológicas
· Empoderamento: fortalece-as para que se sintam mais confiantes ao discutir suas experiências e necessidades
· Redução do estigma: contribui para a diminuição do estigma social, promovendo uma sociedade mais acolhedora
· Políticas públicas: influencia o desenvolvimento de políticas públicas focadas na saúde mental das mulheres
· Igualdade de gênero: apoia a luta contra a desigualdade de gênero, reconhecendo a saúde mental como um direito essencial
· Saúde da família: impacta positivamente a saúde mental da família e da comunidade, considerando o papel central das mulheres como cuidadoras
Ainda de acordo com o Drº André Guerra, em matéria publicada em 2022 na Forbes Brasil :
“Investir em pessoas não é um caminho fácil nem barato. Mas há um forte motivo de porque elas deveriam se preocupar com isso: o econômico. Tive acesso a uma pesquisa realizada pela Vitalk, Talenses e Fundação Dom Cabral e recém-divulgada que confirma que bem-estar emocional e alta performance andam juntos.”
Precisamos apoiar nossas mulheres para assim, promovermos cada vez mais qualidade de vida dessas profissionais e suas famílias. Muitas delas, que hoje sofrem em silêncio ou são de alguma forma, hostilizadas por terem condições sensíveis relacionadas a saúde mental, passarão a vestirem-se de si mesmas, aceitando suas vulnerabilidades, mas também, reconhecendo seus pontos de fortaleza e qualidades, diminuindo assim a necessidade de darem conta de tudo, tendo grupos de apoio a acolhimento que poderão contar.
O retorno financeiro virá a médio prazo, pois será necessário validar a cultura de acolhimento de forma humanizada. Essas mulheres passarão a ter programas de cuidado e acolhimento estruturados, consequentemente diminuirá o número de licenças ou afastamentos o que gerará menos despesas para as empresas e mais receita, além do mais importante: colaboradoras saudáveis, engajadas e seguras no ambiente de trabalho.
Assistente Executiva Bilíngue e mãe do Marco | Mattos Filho
2 semVocê é TÃO necessária ❤️
Head of HR na Moinhos Investimentos AAI | Recrutamento e Seleção|
1 mOba, vou ler! Grata por compartilhar!