Sabotagem interna no trabalho: saiba como não perder o vestiário

Sabotagem interna no trabalho: saiba como não perder o vestiário

Tiago Nunes, técnico do Corinthians desde janeiro de 2020, foi demitido recentemente após uma série de empates e derrotas. O presidente Andrés Sanchez, pouco antes da demissão, havia afirmado que só demitiria o técnico se ele perdesse a liderança no vestiário, isto é, se houvesse perda de confiança por parte da equipe.

No mundo corporativo, existem situações semelhantes como as que ocorrem dentro do campo, mas com desfechos diferentes. Para líderes e funcionários de empresas, as frustrações geralmente aparecem na hora de lidar com obstáculos internos. 

Esse tipo de “fogo amigo”, infelizmente, é um fenômeno relativamente comum no mundo corporativo. Porém, ao contrário do que ocorre em um campo de batalha, quando o fogo amigo acontece dentro de uma organização, não é causado por um acidente, trazendo comportamentos que podem ser prejudiciais para todos.  

Neste artigo, vou explicar sobre como identificar processos assim e quais as melhores maneiras de lidar com eles.

Identificando o "fogo amigo"

Imagine um grande campeonato importante de futebol, onde seis jogadores passaram meses de treinamento e dedicação para conseguir a vitória no dia do jogo, mas os outros cinco companheiros de time permanecem atuando de modo contrário, dificultando a disputa, e tentando marcar gols contras incansavelmente. Dentro de um time, é preciso que exista um engajamento entre todos os jogadores para que consigam vencer as partidas e levar o prêmio do campeonato. 

Fora dos campos, o meio empresarial vivencia situações semelhantes, onde companheiros de equipe colocam a colaboratividade de lado, visando, principalmente, o ganho pessoal. 

Entre as evidências que processos assim estão acontecendo numa organização, podemos enumerar: a omissão de informações ou o envio incompleto de forma proposital, a disseminação de pistas falsas, um alto nível de competitividade interna, a rejeição de mudanças, a ocorrência de fraudes e sucessivas tentativas de colocar interesses pessoais acima da instituição são exemplos disso.  

O fazer quando identificamos situações assim?

Lidando com "fogo amigo"

É essencial entender que certo nível de competitividade precisa ser mantida fora das paredes empresariais, e não dentro, garantindo assim que as equipes trabalhem de acordo com o alinhamento proposto. 

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Um dos maiores erros que podem ser cometidos pelos líderes é permitir que exista um colapso de dentro para fora, evitando lidar com funcionários que mostram ser insubordinados. Em uma organização, todos estão trabalhando em volta do mesmo objetivo. Misturar as incertezas com planos de negócios pode trazer uma luta exasperada entre transformações e a estabilidade. 

Quando obstáculos se formam em certas situações, é natural que surja uma resposta para solucionar um problema, mas algumas pessoas não só contribuem para não tratá-los, como tentam atrapalhar o processo de resolução. 

É importante saber de onde vem a oposição, e os motivos da existência dela, para então pensar no ponto de vista de cada uma das partes, e fornecer a mensagem certa.

Ao contrário do que acontece no mundo do futebol, se existir a perda de confiança no meio empresarial, quem costuma perder o cargo não é o "técnico", mas sim os "jogadores". Isso por si já deveria ser um ponto de preocupação para quem se vê envolvido em disputas dessa espécie.

Quando o fogo amigo vem de cima

Nem sempre perder o vestiário é um problema causado por pessoas na equipe. Na verdade, no futebol não é raro que a coisa venha de cima. Tem momentos em que o técnico procura se imiscuir da derrota, colocando a culpa exclusivamente no desempenho dos jogadores. Ou então escolhe um bode expiatório como possível fonte de desordem em todo o restante do time. 

Em outras situações, um técnico acaba sendo influenciado demais pelo desempenho de um jogador em particular e não só constrói toda a estratégia do time em torno da capacidade da estrela, como esquece de explorar o potencial de outros jogadores. 

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Nas empresas, podem se verificar fenômenos análogos. Existem casos em que líderes abusam da preferência de um liderado em detrimento de outro, por exemplo. É normal que se prefiram certas pessoas numa equipe. Isso pode ser influenciado por preferências pessoais ou mesmo avaliação objetiva de desempenho. 

Porém, esse fenômeno acaba gerando problemas para os liderados e para a empresa como um todo. Pessoas que tem curva de aprendizado distinta terminam insatisfeitas. Processos terminam sendo naturalmente centralizados em certos pontos. E a falta de um funcionário por qualquer eventualidade pode provocar uma verdadeira crise. 

Em outros casos de “perda de vestiário”, a má vontade eventual de líderes com certos liderados acaba fazendo com que procurem desconstruir sempre tudo que lhes é entregue, seja com críticas de antemão, seja com a procura constante com validar com outrem as entregas e informações. 

Resolução de problemas 

Perder o vestiário é um desastre em qualquer caso, ainda que as consequências não sejam as mesmas sempre no futebol e nas empresas. 

O que fazer para evitar isso? 

A primeira opção para solucionar as dificuldades é tentar evitá-las. Na grande maioria das vezes, é possível notar quando um grave problema está chegando, e é necessário buscar um plano para ser colocado em prática quando a crise chegar. Se ele não puder ser impedido ou solucionado por uma série de fatores, é possível contornar o empecilho de modo que ele seja tratado como uma espécie de rota alternativa. 

Em determinados casos, uma das saídas para lidar com adversidades é agir de forma silenciosa, ao menos no início do processo, buscando evitar o surgimento de atividades que possam impedir o curso das ações. 

Alguns problemas podem se transformar em ameaças mais expostas, deixando líderes ou organizações sem muitas alternativas, tendo que recorrer ao redirecionamento de trabalho, substituindo metas, funcionários, cronogramas e objetivos.

É preciso muita autocrítica para saber identificar preferências e processos que nem sempre se estabelecem de maneira racional. Também é necessário saber confiar e correr o risco controlado em determinados momentos, delegando tarefas importantes, para que as pessoas possam crescer dentro das organizações, trazendo prosperidade para todo o coletivo.  

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Para as lideranças, incluindo também as que ocupam cargos financeiros, é importante identificar esses pontos de atenção rapidamente. De onde eles vem e qual parece ser a razão por trás da sua existência. Para os liderados, conselhos sábios devem ser sempre bem vindos. 

O filósofo Baltazar Gracián já dizia, em A Arte da Prudência: “Não eclipsar o patrão. Toda derrota provoca ódio, e superar o chefe tanto é insensato quanto fatal. A supremacia é sempre detestada, em especial aos superiores”. Ou seja, a humildade, tanto para líderes, quanto para liderados, permanece um componente fundamental para manter uma boa coesão dentro e fora dos vestiários.

Claudia Donizete Candido Borali

Process Improvement| MBA em Liderança, Gestão de Equipes e Produtividade/Power BI/ Academia SAP/SAP MM/TAXBRA | Localização BRMM

4 a

Parabéns pelo artigo. Isso acontece muito, infelizmente.

Júlio Ponte

Diretor executivo na Terral Agricultura e Pecuária S.A. Responsável pela gestão financeira, comercial e industrial.

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Belo artigo Ernesto Schlesinger. Situações como as trazidas por você no artigo são muito mais comuns do que podemos imaginar. Regularidade nas entregas, lealdade, ética e respeito necessariamente devem estar em nosso radar. Parabéns!

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