sasse alimentos...
Tudo começou...
… em 1941, quando o jovem Egon saiu de Massaranduba, com 16 anos, cheio de sonhos e aberto para a vida. Foi para Blumenau trabalhar com um primo mais velho que tinha uma fábrica de balas e chocolates na cidade. Ali, Egon viu uma oportunidade para a vida profissional e foi onde trabalhou na área de produção por 12 anos. Durante esse período casou-se com Hilda Drews e se tornou pai de quatro filhos: Errol, Edna, Enete e Edir (os dois últimos nascidos em Jaraguá).
Sem ver mais para onde podia crescer, tomou a grande decisão que mudaria a sua vida: mudou-se para Jaraguá do Sul para montar a própria empresa. Quando chegou na cidade ficou por algum tempo na casa dos pais, que moravam no bairro Ilha da Figueira.
O início da fábrica de balas aconteceu em janeiro de 1953, numa sala alugada de aproximadamente 120m², na rua Epitácio Pessoa. Egon baseava a sua produção no ‘livro verde’, obra escrita em alemão, de onde aprendeu todas técnicas de fabricação. Na época ele recebia a ajuda da mulher, que o apoiava muito.
Apesar do sucesso dos novos produtos, a situação econômica da empresa era bastante difícil e exigiria uma continuidade nos investimentos a qual os gestores não estavam dispostos. Depois de quase 60 anos, em outubro de 2010, a Sasse Alimentos teve suas atividades descontinuadas.
Nessa época, o pai Egon utilizava uma bicicleta para fazer as entregas das encomendas no comércio local.
As dificuldades foram muitas no começo, mas a fábrica crescia e pagar aluguel estava ficando inviável, por isso, em 1954, com as economias que juntou, Egon comprou um casarão na rua Benjamin Constant – hoje a Max Wilhelm – que ficava na atual localização da Rádio Jaraguá. Ali, a fábrica ficou até 1975 – a produção nessa época superava 20 toneladas de balas e caramelos mensalmente.
Em meados de 1964, a Alimenticios Sasse Ltda. adquiriu uma torrefação de café, com a intenção de diversificar as atividades da empresa.
Primeira edificação da fábrica na Rua Jorge Czerniewicz, foto de 1965
“Meu pai comprava café de um senhor chamado Jütte. Como ele estava velho e não tinha herdeiros acabou vendendo a licença do IBC (Instituto Brasileiro de Café) para o meu pai, assim ele poderia torrar café comercialmente”, explica Errol.
Então, quando Egon adquiriu o “Café Jütte”. Ele tinha uma cota de 30 sacas de café que podia adquirir junto ao IBC, que rendiam aproximadamente 1,5 mil quilos de café torrado. Com o tempo, ele conseguiu aumento dessa cota e, em três anos, subiu para 300 sacas, ou seja dez vezes mais.
Uma saca de 60 kg de café rende aproximadamente 48 kg de café torrado
O IBC foi uma autarquia do governo federal, vinculada ao Ministério da Indústria e Comércio, que definia as políticas agrícolas do produto no Brasil entre os anos 1952 e 1989, quando foi extinto.
E para abrigar a torrefadora, Egon fez a compra de mais uma área de 7,8 mil metros quadrados na rua Jorge Czerniewicz, onde construiu um grande galpão. Ao lado, mais tarde, ele instalou outra estrutura para transferir a fábrica de balas.
A fábrica da Alimentícios Sasse em dois momentos: na primeira imagem, em 1975; na segunda imagem, em 2005
As Kombis como fiéis veículos de frota
A partir de 1980 começou a modernização na fábrica. Foram adquiridos equipamentos de produção e embrulho de balas, além de moinhos e máquinas especializadas para embalagem do café. E na década de 90, a Sasse triplicou a capacidade de produção.
A área de produção e embalagem de balas em 1996
O ano de 1994 foi um dos mais especiais e prósperos para a fábrica, isso porque as duas atividades – tanto o café como as balas – trouxeram retorno financeiro equivalente e tudo estava caminhando em harmonia.
Com 70 anos de idade, o grande empreendedor Egon Sasse começou a pensar na sucessão para que o seu negócio pudesse continuar. A decisão foi tomada e a empresa seria entregue aos filhos anos mais tarde, antes dele morrer em 1996.
Sr. Egon Sasse, foto da década de 90
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Grandes apostas da década de 1990
Egon Sasse foi um empreendedor que não abria mão de inovar e apostar no que achava que daria certo na indústria. Por isso, uma das grandes novidades que ele trouxe para a fábrica foi um novo torrador de tecnologia de ponta em nível mundial na época, o Aerotoast.
A máquina tinha um novo sistema que torrava em um período de tempo muito menor e com mais intensidade. Ao invés de rolarem por tambores aquecidos, os grãos eram expostos a jatos de ar quente que garantiam uma torra uniforme e sem uma perda significativa dos óleos aromáticos, responsáveis pelo sabor e aroma do café – na torra convencional à época os grãos eram expostos a uma alta temperatura por um longo período, o que comprometia assim essas características.
Imagem retirada de um informe publicitário da época
Outro grande investimento foi feito em 1999, quando a Sasse abriu no recém-inaugurado Shopping Breithaupt a Mr. Grain, uma franquia de cafeterias que trazia a proposta de uma experimentação mais sofisticada do café Sasse.
Unidade Mr. Grain do térreo do antigo Shopping Breithaupt
Foram instalados dois quiosques da marca no local, e a galera amou, mas infelizmente não durou muito tempo pois as estruturas demandavam um investimento maior que os lucros, numa época onde os consumidores de café ainda não eram tão exigentes quanto ao serviço ao redor do produto – hoje muito mais gourmetizado. Os quiosques ficavam nos, até então, dois andares do shopping: um defronte ao Big Bowling e loja Center Som, e o outro embaixo da escada rolante, onde até pouco tempo atrás encontrávamos outra cafeteria presente.
Pioneirismos de Egon
Dois grandes feitos do empresário Egon Sasse são lembrados hoje pelo filho Errol. O primeiro deles foi a mudança do empacotamento, substituindo o papel pelo plástico. “A indústria era bem desconfiada e demorou para aplicar essa mudança. Na região, meu pai foi o primeiro a aderir”, conta Errol.
O segundo pioneirismo foi a adesão ao Sistema Melg , com a compra de moinhos mais modernos e que aumentavam o rendimento do café moído, gerando economia para o consumidor. Egon tinha o dom de saber no que apostar e no que daria certo na indústria, como conta o filho.
A embalagem do Café Sasse em uma de suas primeiras versões
Como eram feitas as balas antigamente?
Basicamente com três ingredientes: açúcar, glicose (açúcar de milho líquida) e água. Essa mistura era cozida em um grande tacho de cobre a 150°C até virar uma calda bem quente, que era derramada em cima de uma mesa de ferro, onde esfriava até uma temperatura adequada para manuseio.
Em seguida era levada a uma máquina – na época funcionava com a força braçal – e a massa era prensada por cilindros que já vinham com moldes para formar a bala. E nós tivemos a oportunidade de ver esses cilindros e fotografar para mostrar:
O processo era bem mais demorado, porque era tudo feito manualmente e no tempo certo. “As funcionárias que embrulhavam as balas eram chamadas de ’embrulhadeiras campeãs’, porque chegavam a embrulhar 35 quilos de balas por dia. Pra se ter uma ideia, hoje em dia tem máquinas que embrulham mais de mil quilos por hora”, compara Errol.
Nos anos 60, as balas não eram embrulhadas e nem empacotadas, mas eram armazenadas e vendidas em grandes latas de ferro.
Os anos derradeiros
Em 2002 a empresa entrou em concordata e, em 2007, confiantes na força da marca que foi líder em Santa Catarina na década de 1990, alguns investidores aceitaram o desafio de recuperar a empresa. A estratégia adotada foi o reposicionamento da linha de produtos, sustentada na tendência do consumo de ‘cafés gourmet’, recém chegada ao país.
Assim, foi lançada a nova identidade visual das linhas de cafés Sasse: Tradicional, Extraforte e Espresso.
Uma das últimas linhas disponíveis nas prateleiras
Apesar do sucesso dos novos produtos, a situação econômica da empresa era bastante difícil e exigiria uma continuidade nos investimentos a qual os gestores não estavam dispostos. Depois de quase 60 anos, em outubro de 2010, a Sasse Alimentos teve suas atividades descontinuadas. Sua participação, contudo, contribuiu para a mudança de um hábito bem brasileiro: beber café, sentir café.