Será que você é um GRITTY? 
4 lições de GRIT para chegar ao topo.

Será que você é um GRITTY? 4 lições de GRIT para chegar ao topo.

“O gênio, esse poder que deslumbra os olhos humanos, não é outra coisa senão a perseverança bem disfarçada.”
Henry Austin

O clássico infantil “Os Três Porquinhos” é um dos contos mais úteis para aprender sobre a vida. Embora a preguiça e o capricho sejam os aspectos geralmente tratados com as crianças durante a história, podemos ir mais fundo, explorando o princípio do prazer e o princípio da realidade.

A narrativa traz um vilão e três inocentes porquinhos – que no fim cozinham o lobo na lareira. O primeiro porquinho é totalmente apressado e hedonista – corre para acabar logo o serviço e aproveitar a casa nova, seja como for. O segundo porquinho, por sua vez, é um pouco mais prudente, mas também não é capaz de conter o desejo de ter tudo do modo mais fácil e rápido. A casa é “para inglês ver” – bonitinha por fora e para receber visitas, mas frágil contra qualquer adversidade.  Já o terceiro porquinho é mais maduro e segue o princípio da realidade. Controla seu ímpeto de ter tudo pronto logo e reconhece a importância de bons materiais e uma construção sólida. Por isso, não vai brincar com os irmãos, não arrisca a casa, não se desconcentra da missão.

Ao negligenciar o processo de construção, os porquinhos mais novos foram guiados pelo princípio do prazer, ou seja, buscaram uma recompensa imediata. O porquinho mais velho, por outro lado, seguiu o chamado princípio da realidade, mostrando-se capaz de adiar seu prazer instantâneo em troca de um bem maior e mais duradouro.

Figura 2 Os três porquinhos: princípio do prazer e princípio da realidade.

Há um adágio que diz que os melhores caçadores são alimentados pela caça, não pela presa. A humanidade vem há séculos buscando entender por que algumas pessoas triunfam e outras não. É uma questão de sorte? É determinado pelos nossos genes?

Angela Duckworth, psicóloga e professora da Universidade da Pensilvânia, se debruçou sobre o tema. Em 2004, depois de ter estudado um grupo de cadetes em suas primeiras semanas de treinamento militar, ela introduziu a teoria do grit. A estudiosa norte-americana descobriu que, ainda que todos tivessem condições físicas e intelectuais muito parecidas, os participantes que conseguiram se formar tinham mais grit do que aqueles que abandonaram o curso antes da graduação.

Após aplicar a pesquisa em outras áreas sociais com os mesmos resultados, Duckworth concluiu que, para alcançar qualquer objetivo de longo prazo, a perseverança, garra ou grit é muito mais relevante do que o talento, a inteligência ou qualquer outra habilidade humana. Na fórmula para conquistar o sucesso, o esforço sempre vale o dobro – e pode ser treinado.  

Em seu livro, ela compara a vida a uma corrida de 10.000 metros e apresenta as quatro grandes qualidades psicológicas do gritinteresse, prática, propósito e esperança (Duckworth, 2016).

A efetividade do conceito do grit foi tanta que o Relatório PISA, que avalia o desempenho acadêmico dos adolescentes no mundo, já cogita aplicá-lo em escala e valoriza cada vez mais as habilidades não cognitivas – considerando as limitações dos testes de inteligência (QI) para prever o rendimento escolar dos alunos. Diversos estudos revelaram que o talento e o quociente intelectual (QI), por si só, não servem para prever de forma confiável, por exemplo, o abandono escolar (Schleicher, 2018).

Famoso em business nos EUA, o termo grit é ainda pouco difundido no Brasil. Em termos neurocientíficos, trata-se de uma soft skill relacionada à autorregulação que se manifesta no córtex pré-frontal – uma área que nos ajuda a tomar decisões e controlar o nosso comportamento. Ao perseguir nossas metas, diversos tipos de impulsos das áreas pré-frontais do cérebro atuam na regulação de cima para baixo - um desses impulsos está afiliado ao ganho e à gratificação de curto prazo, enquanto o outro é voltado para valores duradouros e objetivos de longo prazo. Nesse âmbito, muitos estudos que analisaram lesões cerebrais sugeriram que pessoas com danos no córtex pré-frontal têm dificuldade em fazer planos e alcançar objetivos de longo prazo (NCBI, 2018).

 (a) Imagens cerebrais que mostram a associação negativa entre o GRIT e o rGMV no DLPFC esquerdo. (b) Gráfico de dispersão mostrando a correlação entre o GRIT e o volume DLPFC esquerdo (r 5 2,27, p < 0,001). Idade, sexo, GMV total e inteligência geral foram ajustados nessas análises. rGMV 5 volume regional de massa cinzenta; DLPFC 5 córtex pré-frontal dorsolateral.
Figura 3 Regiões cerebrais relacionadas ao GRIT  (a) Imagens cerebrais que mostram a associação negativa entre o GRIT e o rGMV no DLPFC esquerdo. (b) Gráfico de dispersão mostrando a correlação entre o GRIT e o volume DLPFC esquerdo (r 5 2,27, p < 0,001). Idade, sexo, GMV total e inteligência geral foram ajustados nessas análises. rGMV 5 volume regional de massa cinzenta; DLPFC 5 córtex pré-frontal dorsolateral.


Como vimos, os gritties, ou seja, os indivíduos que se apaixonam, se esforçam e dedicam tempo ao que fazem, desenvolvem certos traços característicos da personalidade: 

1.    Esperança: A maioria de nós sonha com a possibilidade de realizar algum dia grandes proezas e atos heroicos e, no entanto, paradoxalmente, somos incapazes de suportar com paciência os mil pequenos incidentes do dia a dia: as respostas indelicadas, os atrasos, os imprevistos e, principalmente, o caráter monótono e repetitivo da rotina cotidiana. A perseverança na monotonia geralmente é mais heroica do que as ações pontuais e de rompante. A paixão segue a esperança e a capacidade de atrasar recompensas no ciclo de atingir objetivos de longo prazo. Nesse sentido, um gritty se destaca primeiramente por reconhecer que o sucesso não é sobre grandes saltos, mas sim disciplinas simples, praticadas diariamente. Nós não nos elevamos ao nível dos nossos objetivos, mas caímos ao nível dos nossos hábitos.  Sua vida não é nada além de um hábito repetitivo de sete dias. Ao estabelecer sistemas de alta qualidade, você domina sua semana e, consequentemente, sua vida.

2.    Interesse: Você pode se estressar, mas deve procurar se estressar do modo certo. Quando você ultrapassa demais os seus limites, todas as atividades se tornam difíceis de metabolizar. Nesse ponto, um gritty sabe que o estresse tático é muito mais produtivo – você opera um pouco acima do seu nível, consolida o conhecimento e avança gradualmente. Não é à toa que todos os videogames são programados para que a fase seguinte seja sempre aproximadamente 10% mais desafiadora do que a anterior – nem mais, nem menos. Se o grau de dificuldade for muito alto, as pessoas abandonam o jogo; se for muito baixo, os jogadores perdem igualmente o interesse e desistem. Você tem se estressado taticamente?

3.    Propósito: Gritties desenvolvem uma espécie de “mentalidade insular” – o termo “insular” possui origens latinas, derivado de “insula” ou ilha. Em sentido figurado, representa uma pessoa fechada, restrita em seus próprios valores e comportamentos. Há, porém, uma abordagem positiva desse conceito: na mentalidade insular, você não se fecha para o mundo, mas filtra atentamente as investidas externas, como um guardião sábio e zeloso da sua própria mente. Assim você recebe o mundo na porta de casa, como um anfitrião educado, porém só entra quem passa pelos seus filtros.


Terei que lembrar: estou aqui hoje para atravessar o pântano, não para lutar contra todos os crocodilos.

Benjamin Zander


4.    Prática:

Conhecimento aplicado é poder – todo o resto é apenas potencial. Aprender novas teorias é importante, porém não deve ser um fim em si mesmo -  permita que seu aprendizado te leve à ação.

Poucas coisas são mais frustrantes do que ver pessoas boas e talentosas totalmente focadas em questões periféricas. Elas dedicam o seu melhor a planos, problemas e ações que não melhorarão suas vidas como elas precisam. Escolha suas batalhas com sabedoria, mas não se limite a aprender apenas sobre negócios. Aprenda sobre a vida e desenvolvimento pessoal. Trabalhe tanto em si mesmo quanto na sua carreira e veja o que acontece.


A resiliência é medida pelo tempo que você leva para se comportar normalmente depois que algo ruim acontece. Isso não significa que você simplesmente para de se sentir mal, significa apenas que você para de deixar como você se sente determinar como você age. A disciplina só acaba quando ela ainda não é uma parte indissociável da sua identidade. Se a superação de percalços e desconfortos é rara no seu cotidiano, é claro que você se sentirá cansado e esgotado. Por outro lado, quando você passa a se enxergar e se tratar como um gritty que abraça o desconforto e segue adiante, a disciplina se torna um recurso ilimitado. 


É graça divina começar bem. Graça maior persistir na caminhada certa. Mas graça das graças é não desistir nunca.

Dom Helder Câmara


Em um de seus mais conhecidos estudos, o psicólogo e professor da Universidade de Washington Robert Kohlenberg testou leitores de obras de autoajuda/desenvolvimento pessoal, e descobriu que apenas 20% deles terminavam o livro – e somente 2% seguiam alguma recomendação do autor (Kohlenberg, 1983).

Você já deve ter ouvido falar no termo funil de vendas, mas a vida é um verdadeiro funil emocional. Diariamente nos deparamos com pessoas com zero autocontrole – elas são basicamente sacos de instintos reagindo instantaneamente os estímulos externo que recebem. Talvez você não seja aquela pessoa claramente impaciente, que fica batendo pé na fila do banco atrás da senhorinha que faz um monte de perguntas ao caixa. Mas ser um gritty nos relacionamentos pessoais e profissionais exige ir muito além disso – demanda dilatar a paciência e encontrar cada migalha dela dentro de si mesmo para concluir o que é necessário para prosperar. A capacidade do seu córtex pré-frontal de controlar seu comportamento não pode ser negociável. Nesse quesito, você precisa estar no comando. Conforme a frase de São José Maria Escrivá: Faz o que deves e está no que fazes.

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REFERÊNCIAS

  • DUCKWORTH, Angela. Grit: The Power of Passion and Perseverance. Scribner, 2016.
  • KOHLENBENRG, Robert J. Migraine Relief: A Personal Treatment Program. Horizon Book Promotions, 1983.
  • NCBI, 2018. The Neuroscience of Goals and Behavior Change. Elliot T. Berkman.


Wellington Vieira

Associado | Graduação em Administração de Empresas

3 m

Fenomenal !!! Gratidão por compartilhar seus conhecimentos conosco

Margareth Facirolli

Gestora de Pessoas e Cultura na Sicredi Ouro Verde MT Founder ALINHARH

3 m

Excelente!! Grata pela oportunidade de reflexão!!

Pryscila Castanha

🔹 Contadora | Mentora de Empresários e Profissionais | Analista Comportamental | Consultora em Tecnologia 🔹 Representante Oficial da SCI Sistemas Contábeis - Porto Alegre/RS

3 m

Excelente Artigo, orientativo e inspirador.

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