Sessão Pipoca
Filma de semana chegou de novo. Pelo menos no Rio de Janeiro, há previsão de frente fria, o que faz muita gente ir ao cinema. Para o pessoal que gosta mesmo de ficar em casa, agora não faltam opções, disponíveis no streamming.
Além de sempre ter amado a 7a arte, hoje também utilizo algumas vezes como filmoterapia. A vida é surpreendente e, muitas vezes, atendendo, penso "uau, que roteirista imaginaria uma história destas?" Histórias de amor, dor, alegrias. Heróis e heroínas entram todo dia no consultório.
Eventualmente, uma personagem pode ter a ver com um/a cliente e ajudar no processo psicoterapêutico.
Filmoterapia: o que é?
A 'filmoterapia' é a indicação de um filme que possa promover uma reflexão sobre algo que o/a cliente vive ou viveu. E, quem sabe, a partir da reflexão que o filme traz pode possibilitar uma abertura de perspectiva, uma flexibilização, trazendo um novo significado. Não são todas as abordagens que fazem este tipo de intervenção - e também depende do estilo do terapeuta.
Efeitos colaterais
Certamente é importante assistir com um olhar crítico. A indústria cultural influencia - pro "bem" e pro "mal". Como mau exemplo, durante muitos anos, personagens carismáticos do cinema fumavam - e, em consequência disto, o tabagismo se expandiu. Hoje em dia, há uma restrição e o cigarro em cena é muito mais usado para retratar uma época. um tipo de ambiente (redações de jornal, por exemplo) ou caracterizar uma personagem, não mais aleatória ou casualmente.
O cinema também influencia aspectos como a vida amorosa, criando vários ideais e expectativas. Psicólogos que estudam o amor são unânimes em apontar que as comédias românticas podem contribuir para alguns conflitos amorosos, ao colocar metas impossíveis de serem atingidas - ou estabelecer uma rotina. Mas se você gosta deste gênero, confira a lista do blog Espaço Psi-Saúde e consuma com moderação. Lembre-se que chick-flicks são apenas ficção.
O que escolher para ver?
Comédias românticas não são uma unanimidade e raramente entram nas listas mais cult. O Guia da Semana trouxe uma lista de 20 filmes com questões psis dos mais diversos tipos. Alguns parecem quase um tratado de psicopatologia.
Como toda lista, filmes fantásticos de fora não foram incluídos - como, na minha opinião, muitos de Almodóvar e de Woody Allen (deste não entrou nenhum - e como deixar de fora Annie Hall ou Match Point?).
Nem tudo é verdade
Roteiristas muitas vezes querem agradar o público com um final feliz, garantindo a bilheteria, e não se comprometem com algo factível. O ideal romântico, por exemplo, reforçado pela indústria hollywoodiana, na vida real, pode prejudicar mais os relacionamentos do que inspirar as pessoas. As expectativas ficam altíssimas, a chance de se frustrar aumenta e as separações acontecem.
A terapia de casal, por exemplo, no cinema, reforça a ideia de que "com amor tudo se resolve,por si só". Quem já esteve em um relacionamento compromissado de longa duração sabe que não é bem assim. Como disse Aaron Beck "o amor nunca é suficiente".
Filmoterapia
Saindo da vibe romântica, um filme queridinho de profissionais de Psicologia é Divertida Mente. O filme recebeu Oscar de Melhor Animação e mostra como é importante reconhecer as emoções, sem as negar ou tentar suprimir. O roteiro foi escrito por neurocientistas e é mais indicado para jovens e adultos do que para crianças.
Alguns filmes ajudam a rever a relação parental. Filhos e filhas podem, já na vida adulta, continuarem sofrendo ao lidar com pais irresponsáveis ou imaturos. Às vezes isto atrapalha os seus relacionamentos - profissionais ou amorosos.
Alguns filmes bons para pensar a relação com os pais: Limites, Peixe Grande, Invasões Bárbaras (continuação de O declínio do império americano). Aliás, Invasões Bárbaras aborda outro tema espinhoso: a finitude.
E você? Que filme mexeu com você, mudou a sua vida? Alguma indicação "terapêutica"? Faça a sua sugestão para a sessão pipoca deste final de semana.