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Ainda criança, durante o catecismo, enderecei uma pergunta à evangelizadora: “se Deus é mesmo tão bom, porque, diante do menor desagrado como O Legislador do universo que é, impõe incômodas penitências a deslizes humanos tão pequenos?
Particularmente, por ser muito magro e ter tido osteomielite nos membros inferiores, ficar de joelhos me era particularmente penoso. Ainda é. Ademais, sofrendo de TDAH, repetir mentalmente - e seguidas vezes - o ‘ato de contrição’, a ‘ave maria’ e o ‘pai nosso’, além de me perder no meio das repetitivas orações e ter de recomeçar, ainda tinha a obrigação de ficar ali imóvel, enquanto a vida corria fora da igreja. A moça não me satisfez ao me responder citando o terceiro “mandamento”, recomendando que não usasse em vão o santo nome de Deus. Já no ginásio, minhas indagações se intensificaram. Embora eu tivesse certa experiência metafísica desde os sete anos, a ideia de um Deus sempre me perturbou.
Do ângulo de meu inconformismo, não parecia haver lógica entre algo tão imenso, capaz de moldar as leis fundamentais da Física ao ponto de criar um Universo (só na Via Láctea há cerca de um trilhão de planetas) e manter a mesquinha preocupação em punir insignificantes mortais como eu, por ter pulado o muro do vizinho para roubar frutas ou em condenar a mulher que traía sem saber por quais infernos conjugais ou pessoais ela passava. Estamos falando de anos 1970. Tudo bem, há questões éticas e, talvez, morais envolvidas. Mas, daí um ser supremo ter olhos (e tempo!) para essas pequenezas, a equação não fechava em minha cabeça. E um agravante: ele ficar ressentido com nossos escorregões, tendo todo um cosmo para dar conta!
E que Deus é esse que abandona seus “filhos” em suas mazelas pessoais e coletivas ao invés de criar um paraíso de felicidade e prazer sublime para suas criações? E o pior: com justificativas esdrúxulas para sua eterna ausência e para todo o sofrimento humano decorrente da própria condição, atribuídas ao pecado de Eva e Adão ou a outras poesias tão injustas quanto! Fora a prevalência dos maus em detrimento dos “bons”. E ainda se impede qualquer questionamento, classificando-se como falta grave até a revolta quanto a “Seu” silêncio. E ao menor sinal de dúvida quanto a tantos dogmas sem comprovação é endereçada uma coação através da ideia de castigo… Há de se resignar que “o tempo de Deus não é o tempo dos homens!”. E quando esse tempo não vem de forma alguma, “foi pela vontade de Deus!”.
E tudo de bom que nosso empenho ou esforço (por vezes hercúleo) nos dá deve ser atribuído à “Sua” ajuda. E ainda precisamos passar por privações (como as promessas da quaresma), como se 40 míseros dias limpassem nosso nome no Serasa espiritual... Sem contar que antes e depois da quaresma há quem insista nos pecados de sempre. Ser humano precisa dessas bobagens... Haja conformismo! Tudo não parece passar de uma tentativa mística de se promover esperança, otimismo e resiliência. Mas, precisava tanto?
A sensação que eu tinha, desde novo, era que batizaram de Deus os enigmas e mistérios do universo e, aproveitando essa pecha de ‘onipotente, onipresente e onisciente’ suscitada pela subjetiva designação, criaram um link entre tudo isso e uma legislação em menor grau, registrada em livros “sagrados” oportunistas. Assim, o criador do espaço e do tempo teve disposição adicional para ditar a um “psicógrafo privilegiado” versículos que regessem a moral, os costumes e as crenças – que ninguém duvida terem ajudado na ordem social por um tempo. Parece-nos que a gênese dos Vedas, do Corão, dos Sutras, do Livro dos Mórmons e da Bíblia tenha sido a mão – e a imaginação – de homens que buscavam dar maior amplitude à necessidade de disciplina na convivência humana. Haja criatividade!
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Claro que até hoje há igrejas com interesses múltiplos. Concentremos nas que buscam o real amadurecimento do senso moral e não o dinheiro e o poder em si: tráfico de influências e ganância. Uma questão é que toda a evolução de leis, políticas, condutas e normas propostas por certas instituições da rede social – fora as igrejas - não teria idêntico objetivo? Então, por que terem usado a imaginação para endossar esotericamente o que parece óbvio? Mas há um álibi: o grande vazio da condição humana, este sem qualquer chance de preenchimento a contento até nossa morte, requer certa ilusão existencial que nos inspire a uma caminhada minimamente entretida até o túmulo. O exercício da fé funciona como um entorpecente permitido. Até supervalorizado. Por isso, cada um tenta se iludir como pode, já que a vida pode não ter sentido algum, mas é menos penoso inventar um. Atormentava-me essa verdade sem que ninguém a admitisse.
Não satisfeito com o dogma na resposta do catecismo, perguntei diretamente ao Frei Pedro Domingo Izcara, pároco local (Muqui, ES), se ele não achava Deus um cara muito arrogante, que nunca dava sinal de vida e apenas reiterava a vaga promessa de retorno à Terra, em textos que sequer escreveu. Nem um sinalzinho de prova! O padre já conhecia minha inquietude desde as confissões, quando me liberava da punição se o ajudasse a conseguir prendas para a quermesse da igreja. E saia pela tangente… A visão mercantilista e expansionista da igreja católica não é diferente das eternas cobranças de ‘indulgências’ por parte de outras tradições do cristianismo, como as pentecostais e congêneres. Isso se repete nos trabalhos pagos em algumas religiões de matriz africana e, de modo semelhante, em crenças judias, hindus e budistas, já que todas têm a necessidade de construção, manutenção / expansão de templos, além de custear as necessidades humanas dos místicos acomodados nesses prédios, por assim dizer, sagrados.
Naturalmente, salvo a crueldade inerente, houve algum valor nas religiões que não apenas nos divertir na penosa trajetória existencial entre o pouso e a decolagem, oferecendo, adicionalmente, algum conforto e caminhos para a paz e a ordem social. De fato, as mesmas crenças que nutrem guerras santas, ganância, terrorismo, oportunismo político, ódio, intolerância, preconceitos, assédios e similares, também inspiram muitos ao bem social, à compaixão, à solidariedade e a reais exercício de amor ao próximo. Esse é o lado positivo de algumas tradições decantadas na antropologia da fé. Mas urge que tudo seja tratado com mais franqueza. Assim, em nome da bondade de Deus no auge do que nos parece o próprio Apocalipse (o tempo que vivemos), troquemos o medo que coage ao dízimo pela autenticidade e pela lucidez que libertam.
Fora a hipocrisia, o individualismo e a demagogia de todos nós, que a oportunidade cultural do tempo que se aproxima nos inspire ao melhor da renovação espiritual e, principalmente, moral. Sem que nos escravizemos a mais ilusões mercantilistas que não aos já saqueadores mercados da fé, tal como coelhos que põem ovos e demais oportunismos sazonais do comércio que se valem da emoção e das crenças alheias para girarem - ainda mais - as hélices da acumulação. Isto sem propor um real preenchimento (pelo autoconhecimento) da imensa lacuna de nossas pobres almas mundanas, como reincidentes e eternos devedores no calvário existencial, condição a que fomos reduzidos por nossa própria consciência.
Desenvolvedor Back-end C#
6 mDe fato, a Igreja Católica Romana impõe doutrinas a partir da sua tradição (primeiramente), geralmente excluindo as Escrituras Sagradas (Bíblia), e complicando o puro e simples evangelho da graça. Todavia, estranho você não ter suas perguntas respondidas pelos líderes eclesiásticos, pois são muito simples: Deus é teísta, por lógica é impossível não influenciar sua criação, visto que é Onipresente e está acima de tudo - “se Deus é mesmo tão bom, porque, diante do menor desagrado como O Legislador do universo que é, impõe incômodas penitências a deslizes humanos tão pequenos?", Deus é tão bom que deseja que entremos dentro da Sua perfeita vontade, a prova que somos importantes é a criação e sua relação conosco - Deus criou as coisas para serem compreendidas por nós, se não, nem estaríamos conversando aqui. Gênesis 1:26 Então disse Deus: "Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança. Domine ele sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre os grandes animais de toda a terra e sobre todos os pequenos animais que se movem rente ao chão". Sem a ajuda de Deus, nem poderíamos realizar esforço. Quem dá a vida é o Senhor, e quem tira é Ele, nada escapa de Suas mãos. CONTINUA
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8 mAmém 🙏🏼 Que artigo lindo, meu amigo Sidemberg Rodrigues! Que Deus te abençoe sempre.