Smartphone x vida real? Bobagem. É tudo uma questão de equilíbrio.
“Fale pouco, ouça mais, observe muito”. Lembro muito de meu pai falando essa frase e, quanto mais eu amadurecia, mais fazia sentido. Observar nos traz uma visão de fora não apenas sobre organizações, mas sobretudo, do cotidiano, hábitos, pessoas.
Caminhando hoje no Centro do Rio, observei dois lugares onde as pessoas param para uma pausa, um lanche, uma conversa despretensiosa: um café e um bar. No café, todas as mesas estavam ocupadas e todas, sim todas, as pessoas usavam seus smartphones. Era uma cena hoje usada em comerciais e palestras, onde todo mundo está absorto por um mundo virtual e ninguém interage conversando. O que me impressionou, foi que no bar ninguém olhava para o celular. Todas as pessoas interagiam em conversas animadas.
Acho ignorância (no sentido de ignorar o mundo a nosso redor) recriminar o uso da tecnologia e considero meu sogro de 78 anos um ótimo exemplo. Durante anos, negou-se a utilizar o computador em sua atividade como advogado. Escrevia suas petições à mão e pedia para que alguém digitasse. Vendo no WhatsApp, Skype e WiFi a possibilidade de se comunicar frequentemente com seu irmão e irmãs que moram em Portugal, tornou-se fervoroso adepto dessa tecnologia. Aderiu até mesmo ao iPhone. E continua a escrever petições à mão.
Voltando ao café e ao bar, não vejo problema se uma pessoa fuxica o Facebook, posta uma foto no Instagram, consulta algo no Google durante sua pausa do café. Mas também não os veria como ETs se simplesmente saboreassem um café acompanhados de seus pensamentos. Em 2015, desci do escritório para almoçar sozinho e sem celular. Enquanto aguardei o pedido, e durante a refeição, ocupei-me de meus pensamentos e de observar as pessoas no restaurante e o movimento da rua. Tenho amigos que teriam surtado em uma situação como essa. Com relação ao bar, eu adoro a conversa fiada de um butiquim. Para mim, há prazer nessas pequenas coisas.
Atari nos anos 80 ou Tamagotchi na década de 90, sempre houve algo que causa nas pessoas essa tentação de usar compulsivamente. E toda a discussão sobre o uso de smartphones ou o Pokemon Go, para mim, passa pelo mesmo tema: o uso compulsivo e indiscriminado de algo. Talvez, e estou apenas conjecturando, seja uma forma de vivermos uma realidade que controlamos e não nos incomoda.
Elocubrando sobre o tema, transportei-me para o mundo corporativo e tecnologias disponíveis, como o e-mail. Quantas vezes não ouvimos pessoas reclamando, ou se gabando, (nunca sei ao certo) de que sua caixa de e-mail está cheia, que recebeu 800 e-mails entre sexta e segunda. Quantas vezes não optamos por enviar um e-mail ao invés de levantar, ir até a pessoa e conversar. Eu acredito que o uso demasiado de e-mail ou WhatsApp pode ser uma tentativa de evitar conflitos. Afinal, nem sempre temos conversas agradáveis, principalmente no trabalho.
Não sou psicólogo para efetuar uma avaliação profunda do tema, mas minha experiência de vida indica que a conversa in person é imprescindível para uma convivência harmônica. Além disso, precisamos dessa interação para crescermos como indivíduos. Apoio o uso das tecnologias disponíveis que facilitam nossas vidas, mas também recomendo veementemente viver, interagir com pessoas, com animais, com a natureza, flertar com o imponderável, aceitar o acaso, almoçar com familiares, beber uma cerveja com amigos, brincar. O mundo da tecnologia é fascinante, mas em excesso, pode tornar-se ofuscante.
Sócio - Diretor Comercial
8 aMuito bom!!
Digital Finance Director at Novo Nordisk
8 aConcordo plenamente! Excelente texto Janoni! Uma maneira que adotamos para controlar estes vícios é se você está com um grupo de amigos coloque todos os telefone empilhados, quem não resistir e pegar o telefone paga uma rodada :)