Sobre backups e salários

Sobre backups e salários

 Há um perigo que ronda centenas de milhares de servidores pelo mundo inteiro. Como dir-se-ia na Desciclopédia: "always lurking, always in the dark". Perda de dados! De um minuto para outro, uma pane no hardware ou uma sobrecarga de energia torra seus discos rígidos e lá se vão seus preciosíssimos terabytes de dados.

"Mas eu ia implementar o sistema de backups justo no dia seguinte!". É, pois é. Como se a tua boa intenção fosse mover a mão do acaso para longe das suas máquinas...

 Mas por que as empresas não tomariam as devidas precauções contra esse tipo de risco? Pelo que eu entendo, é porque isso é simplesmente um risco, não um problema imediato. Ninguém dentro da empresa está sendo atrapalhado pela ausência de backups, tampouco a empresa está perdendo dinheiro com isso. É "apenas" um risco e, considerando-se as tantas atividades que realmente geram valor para o cliente final, mitigar riscos acaba perdendo prioridade.

 Entretando, sabemos o quanto uma perda de dados pode ser desastrosa. Muitas vezes, a empresa inteira fica estagnada enquanto não arranja-se uma solução. Prazos vencem, contratos quebram-se, o clima fica ruim, alguém é mandado embora e quem fica na empresa termina revoltado. Dedos são apontados, olhares são trocados, mensagens são transmitidas sem serem faladas.

 Quem é esperto elimina de uma vez esse risco e não espera o pior acontecer.

 Pois bem, empregados (ou, no eufemismo do momento, "colaboradores") descontentes com seus salários são um risco parecido. Muito parecido.

 Quem conhece um pouco sobre mecânica de automóveis entende o motivo de, sempre que se compra um carro usado, trocar-se imediatamente a infame correia dentada. A correia dentada faz a sincronia do virabrequim com o comando de válvulas e, caso rompa-se durante o funcionamento, gera um prejuízo enorme. E o problema dessa correia é que ela não dá sinal nenhum de que está para romper-se. Nenhum. Você controla apenas pela quilometragem. Se comprar um carro usado, é melhor trocar de uma vez (pois não dá para saber ao certo a quilometragem da mesma) do que correr o risco de vê-la arrebentar-se.

 O grande risco do empregado descontente com o salário é que, de uma hora para outra, alguém aparece na vida dele oferecendo uma oportunidade muito mais interessante. E o efeito da saída da pessoa é maior ou menor de acordo com quanta responsabilidade ela tem dentro da sua empresa.

 Logo, você tem um funcionário que tem se destacado dentro da sua empresa, que trabalha duro e que tem aumentado a cada dia sua esfera de influência, que é positiva? Aumente seu salário, de preferência antes de ele ter que pedir, se não quiser perdê-lo do dia para a noite.

 Trabalhar bem é obrigação de cada um, é verdade. Mas o mercado de trabalho é voraz, especialmente quanto a mão de obra qualificada. Você pode medir isso observando quão fácil ou difícil é encontrar um funcionário talentoso e bem preparado. Se sua empresa tem dificuldade de encontrar um bom programador, por exemplo, para completar um time de bons programadores, pense que deve haver mais uma dúzia de empresas com a mesma dificuldade e, eventualmente, algumas delas vão enviar propostas para esses outros membros do seu time. E ninguém tem o poder de obrigar ninguém a fazer nada, nem mesmo a aceitar a melhor contra-proposta que você tenha a oferecer.

 Mas, claro, tudo isso o que estou dizendo pode ser uma grande bobagem. Cada um é livre para aplicar sua própria política de salários.

 Quanto a mim, bem... eu prefiro sempre fazer backups...

Entre para ver ou adicionar um comentário

Outros artigos de Cléber Zavadniak

  • O tacho global

    O tacho global

    Pouca gente tem falado sobre esse efeito curioso que é a mistura dos tachos dos diversos países. Tachos? Sim.

  • Os 3 níveis de um desenvolvedor sênior

    Os 3 níveis de um desenvolvedor sênior

    Não quero entrar na discussão a respeito de como se define precisamente um "sênior", mas acredito que há algumas…

  • Desktop é desktop

    Desktop é desktop

    Acho meio triste voltar a essa vida de distro hopper, mas pelo menos tenho aprendido algumas lições a respeito da…

    3 comentários
  • Pé no chão, fadinhas

    Pé no chão, fadinhas

    Lembro-me de ter passado algumas vezes, à bordo do Falcão Prateado de Curitiba (a linha de ônibus "Ligeirinho/Inter…

    2 comentários
  • Virtudes ou pecados

    Virtudes ou pecados

    Já que estamos no LinkedIn, fica aqui meu desafio: procure essas três empresas: Bosch Groupe Renault ExxonMobil Vá na…

    1 comentário
  • Manifesto Dev

    Manifesto Dev

    Manifesto para o mercado de tecnologia brasileiro: Nós, desenvolvedores de software e profissionais de tecnologia em…

  • Sobre a "semana de quatro dias"

    Sobre a "semana de quatro dias"

    Não faz muito tempo que tive a oportunidade de trabalhar numa empresa que adotava a "semana de quatro dias": o trabalho…

    8 comentários
  • Contratando devs: como concorrer com os gringo

    Contratando devs: como concorrer com os gringo

    Ao contrário do que muitos podem estar sentindo, desenvolvedores de software prestarem serviço para empresas…

    8 comentários
  • Como bloquear um Postador-Profissional-de-Linkedin

    Como bloquear um Postador-Profissional-de-Linkedin

    Hoje bloqueei um Postador-Profissional-de-Linkedin. Eu acho o cara chato, vejo que ele usa muito bem técnicas de chamar…

  • DroneMapp Engine: Separação de responsabilidades dos componentes

    DroneMapp Engine: Separação de responsabilidades dos componentes

    Algo que ajuda a nós, desenvolvedores, a não tornar nossos sistemas uma grande bagunça é dividir adequadamente as…

Outras pessoas também visualizaram

Conferir tópicos