Sobre a Compaixão
Novo esquema proposto para o espectro da empatia por Muna Sidarus.

Sobre a Compaixão

Nota: o original deste artigo foi publicado pelo mesmo autor em inglês.


Desconhecimento, ter Pena, Simpatizar, Empatizar, ser Compassivo...

Estes diferentes graus de relações humanas já foram chamados o Espectro da Empatia.

Para tentar compreender melhor as diferenças e nuances entre esses conceitos, comecei a desenvolver uma experiência mental (thought experiment). Aqui, começo por partilhar as minhas conclusões sobre a Compaixão. Mais à frente, incluo os meus pensamentos iniciais, que proponho como exercício.


Sobre a Compaixão

À primeira vista, podemos imaginar que cada um desses sentimentos nos leva passo a passo por um tipo de escada. Mas em direção a quê? Muitos dizem que a diferença principal entre COMPAIXÃO e os outros é a AÇÃO. Sim, os outros sentimentos podem ser mais passivos. No entanto, em todos os exemplos dados abaixo, realmente fazemos algo! Na minha opinião, a diferença está no quanto envolvidos estamos com a outra pessoa. Assim, é o RELACIONAMENTO INTERPESSOAL que se desenvolve cada vez mais a cada etapa.


COMPAIXÃO é fazer uma exploração colaborativa, em conjunto. 

É fazer espaço para as vulnerabilidades ou simplesmente as diferenças que os outros possam ter e tentar encontrar formas de complementá-las, sem forçar soluções.

É vê-los como um todo e não apenas como uma pequena parte. Quer seja uma parte de si mesmos, p.e. apenas competências profissionais. Quer seja estarem sozinhos, o que certamente não estão (raramente o estão, mesmo quando pensam que estão).

É não ter medo de nos vermos ao espelho e reconhecermos quando isso acontece. Aprender a sentir com os outros, indo até mais além e descobrir novos sentimentos que ainda não experimentámos por nós próprios. Sem esquecer que aqueles não são os nossos próprios sentimentos e que outros podem vivê-los de forma diferente e/ou podem precisar de ferramentas diferentes para lidar com eles.


Desenvolvendo a nossa COMPAIXÃO, aprendemos a abrir-nos aos outros.

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Isto permite aumentar a nossa capacidade de sentir qualquer dos outros sentimentos da escada de uma forma mais construtiva. Isto permite tornar-nos mais compassivos para com aqueles por quem não sentíamos nem empatia, nem simpatia, nem mesmo pena, ao início. Assim sendo, proponho um esquema que não é uma escada, mas uma mistura diferente de formas.

Aceitamos os outros como são e construímos a partir daí, com contribuições de ambas as partes. Podemos aprender a reconhecer o sofrimento, mantendo a nossa integridade. Podemos aprender a identificar o que podemos fazer para ajudar os outros a ajudarem-se, enquanto multiplicamos os nossos recursos em vez de gastá-los.


Devo acrescentar que, ao crescer em COMPAIXÃO, é importante alimentar o nosso sentido de CURIOSIDADE. Foi por isso que o gato da curiosidade e o seu companheiro entraram no meu esquema... Criei esse gato para um post anterior sobre a curiosidade e como ela nos pode levar à abertura. Está aqui ADICIONAR LINK !!!!! !!!, veja caso tenha curiosidade ;-)


Se ainda não o perdi e gostaria de experimentar o exercício para entender melhor estes conceitos, continue.


Exercício sobre o Espectro da Empatia

Imagine que é um empresário bem-sucedido de meia-idade (talvez realmente seja). Tem um estilo de vida agitado e a sua agenda é ocupada. Acontece muita coisa à sua volta que lhe é desconhecida ou sobre a qual não tem consciência. Por vezes, pessoas do seu círculo chamam a sua atenção para certos tópicos com os quais se deve preocupar e isso leva-o a fazer um donativo. O que motiva a sua ação?

A maneira mais fácil de nos fazer dar algum dinheiro é apelar ao nosso sentimento de culpa e “explorar” uma dada “imagem” para nos fazer ficar tristes. Embora eu saiba que muitas organizações dependem fortemente de donativos para sobreviver, e muitas delas fazem muito bom trabalho, sempre fui muito reativa a pedidos de donativos em dinheiro devido a isto. Falar sobre aquilo que conseguem fazer geralmente não basta para conseguir dinheiro suficiente, então puxam pelas nossas emoções e sentimento de culpa em vez de nos envolver nas suas ações ou nos fazer sentir envolvidos no assunto.


Agora, levamos o exemplo a um nível mais individual e pessoal.

A. Um dia, passa por alguém na rua que está mal vestido, mal cuidado, certamente sem emprego, provavelmente sem casa. Provavelmente primeiro sente medo, mas eventualmente, se puder olhar com mais cuidado, pode ter pena dele. Pode também oferecer uma moeda, de forma semelhante ao exemplo anterior. Como essa pessoa é tão diferente de si, será difícil e raro que desenvolva mais sentimentos.

B. Agora conhece um jovem, através do seu círculo de amigos, que está com dificuldades em arranjar emprego. Pode ser capaz de simpatizar* com ele. Pode dar alguns conselhos básicos ou oferecer-se para entregar o currículo a alguém da sua empresa ou dar-lhe o contato dos RH. Eu estive pessoalmente nesta situação, em que me ofereceram este tipo de ajuda. Contudo, os outros não se aperceberam que eu estava à procura de mais informação sobre aquele mercado de trabalho. Não queria apenas mais uma oportunidade de atirar uma cópia do meu currículo para dentro da vasta máquina do mercado de recrutamento. Muitas gerações antes da minha tinham poucas dificuldades em encontrar emprego e muitas vezes tinham uma trajetória profissional muito mais clara, por isso presumem que é a falta de iniciativa e motivação que leva os jovens a andarem à procura de emprego (por longos períodos).

(*Em português simpatizar e sobretudo simpatia são diferentes do inglês sympathize e sympathy. Contudo, os conceitos em português são mais amplos e por isso englobam os sentimentos da versão inglesa. O original foi escrito por mim em inglês. No ponto B não parece haver conflito ou dúvida, no ponto C já não é o caso.)

C. Desta vez, é uma pessoa mais próxima que está desempregado por qualquer motivo. Se nunca esteve nesta situação, talvez só consiga ser solidário (sympathize), como no caso anterior. No entanto, se já passou por isso, ou simplesmente porque aquela pessoa pertence ao seu “grupo” de amigos, é provável que sinta empatia. Isto significa entender que o outro está a passar por momentos difíceis, talvez antecipar ou adivinhar o que ele está a sentir. Pode dar-lhe muitos conselhos, oferecer-se para pô-lo em contacto com outros (networking) e até enviar-lhe anúncios de emprego. Se essa pessoa ficar nessa situação por muito tempo, você provavelmente presumirá que ele não está a fazer o suficiente e pode ficar irritado ou frustrado. Se você tentar ajudar muitas pessoas nessa situação e com essa perspetiva, pode sentir-se sobrecarregado em algum momento, exausto e esgotado. Mas será que conhece bem aquela pessoa? Conhece o trabalho dela e as suas especificidades? Perguntou-lhe isso?

D. Uma pessoa que lhe é muito próxima não tem emprego. Conhece-a bem e também a sua personalidade. Sabe que o negócio ou tipo de trabalho dela não tem nada a ver com o seu. Como a apoia? Será que lhe dá tempo para se recompor, depois de uma experiência que pode ter sido negativa, talvez tenha sido um choque, talvez depois de um longo período de aturar uma cultura de trabalho tóxica, talvez até como resultado de uma perda temporária de capacidades...? Será que a ajuda a repensar e reformular onde estava e para onde quer ir? Faz perguntas sobre o que está a tentar em vez de apenas dar conselhos não solicitados? Uma aproximação compassiva requer não só que sinta a dor do outro e queira ajudá-lo a vencê-la, mas que trabalhe com ele para encontrar soluções, fortalecendo-o ao longo do caminho.


Se leu até aqui e ainda tem energia, volte para as conclusões do início. Será que as lê de forma diferente? Compreende-as melhor?


 

Vania Geadas

reabilitação e inserção social / HSST

4 a

Obrigada pela partilha. Adorei a proposta de reflexão. Senti que as tuas palavras encaixaram como uma luva na experiência que tive quando estava desempregada. Beijinho  Continuação de excelentes publicações.

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