Sobre esclarecimento e magistério: uma revelação pessoal

Sobre esclarecimento e magistério: uma revelação pessoal

Eu sabia dessa vocação, mas talvez me faltasse esclarecimento. Etimologicamente, a palavra esclarecer junta clarus (que significa que algo é fácil de ver ou ouvir) com ex, que aparece como o prefixo 'es'. Ex é uma palavra em latim que nessa situação significa levar ou trazer para fora. Assim, esclarecer significa “trazer à luz” ou “revelar”. Talvez fosse isso: eu sempre soube, mas guardei na gaveta, como aquele livro que a gente separa para ler depois.

Acabaram hoje as aulas da minha primeira turma na Escola de Comunicação da UFRJ. Lembro do que eu senti antes da primeira aula e do quanto todas as inseguranças ficaram da porta para fora na hora que entrou o primeiro aluno em sala. É impressionante como eu sempre sinto que não estou sozinho, mesmo nos momentos de solidão. Minha alma é povoada, nela mora um monte de gente: a Tia Marla, do Fundamental, que me ensinou a fazer peraltagens com as frases; a Vera, do Ginásio, que descobriu antes de mim a primeira e mais forte das minhas vocações; o Carlos Eduardo Fontoura, o Carlucho do Ensino Médio, que me ensinou que brincar é um jeito de falar sério; Pedro Camargo, já na faculdade, me introduziu ao cinema e as verdades do mundo; Luiz Favilla, que plantou a semente do encantamento em mim que não para até hoje de germinar; Sergio Mota, que assinou o primeiro contrato de trabalho como "professor extraordinário" e, desde então, vem fazendo jus a esse cargo; e outros, tantos outros, muitos outros, que corro o risco de parecer indelicado por não citar. Bobagem. Interrompo a lista por amor demais, não de menos.

Dizem que, na beira da morte, conseguimos olhar as coisas novamente pela primeira vez, tal como Adão pode vê-las no paraíso. Gosto de tentar não perder essa ingenuidade no olhar, a fim de rever o que já foi visto e poder admirar, mais uma vez, o já admirado.

Quando decidi, lá atrás, que o amor e a música eram meu campo de estudos, entendi que haveria de lidar com o desdém dos que adulteceram. Azar. Sou partidário da ideia de que, sem paixão, não dá mesmo nem para chupar picolé.

Não quero fugir tanto do assunto, então tentarei chegar ao final sem fazer tantas curvas, eu prometo. Acabaram hoje as aulas da minha primeira turma na Escola de Comunicação da UFRJ. E a verdade é que eu não estou nem aí para as burocracias e os pesos curriculares que advém desse processo. O que me fascina é saber que, durante (quase) seis meses, falamos sobre música, sobre cultura e sobre amor. E falar sobre isso é também falar de história, de política e de sociedade.

Saber que passei pela vida dessas pessoas tal qual os meus mestres passaram pela minha me amedronta e me estimula. É como uma vontade de desistir indo para frente, sabe? Não espero ser entendido, isto é apenas um convite para sentir junto.

Obrigado aos meus alunos por terem dividido tudo isso comigo, mesmo sem saber. Vocês me ajudaram a esclarecer as coisas: Sou professor. E ponto!

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(obs: esta era a única foto que eu tinha deles. Aos ausentes, o meu perdão e carinho.)

Matheus Venâncio

Conteúdo e Estratégia Digital | Redes Sociais | Globo

5 a

Oie! Você vai oferecer essa eletiva período que vem? Queria muito ter puxado nesse, mas não consegui :(

Leandro Davico

Product Manager | Product Owner | CSPO®

5 a

Belo texto, Yke! Que venham muitas turmas pela frente.

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