SOBRE MULHERES E O MACHISMO QUE AINDA HABITA EM MIM
Ando calado e, confesso, sem muita disposição para escrever ou falar. O cenário atual me afeta sobremaneira e me encontro num misto de indignação e espanto, lutando com as armas que tenho para tentar contribuir de alguma forma com a mudança de cenário, quase sempre pelo caminho da educação e da arte, da filosofia e de tantos saberes científicos ligados à área do desenvolvimento do potencial humano, tentando focar no meu círculo de influência (aquilo que está na minha alçada) e não me abater com o que se encontra no círculo de preocupações (aquilo tudo que está além da minha alçada).
Mas, eu não poderia passar por esta data sem dizer algumas palavras em homenagem e como forma de reverência às mulheres pelo seu dia.
Há muito tempo, e já não me lembro onde, li uma pequena história, uma metáfora, em que um peixinho vivia em seu mundo aquático, considerando ser aquele mundo toda a verdade e toda a realidade existente. Ele nasceu na água, desenvolveu-se na água, nunca foi além da água e, portanto, nem cogitava a existência de um mundo diferente do seu.
Um dia, no entanto, brincando com seus amigos peixes, imprimiu tal velocidade a seu nado em direção à porção mais luminosa da água, que acabou saltando para além da superfície e, pela primeira vez, lá de cima, olhando para baixo, viu o seu mundo, a sua realidade, a sua verdade, de um outro ângulo – de fora para dentro. Foi assim que tomou consciência da existência de outros universos, outras verdades e dos limites do seu mundo particular.
Pois bem… eu nasci em uma sociedade estruturalmente machista, cresci rodeado por outros que, como eu, nem cogitavam a existência de realidades diferentes daquela. De tal forma que até mesmo muitas mulheres assumiam atitudes machistas. Afinal, aquela era a “verdade” em que estávamos todos mergulhados e que assumíamos como absoluta, consciente ou inconscientemente.
Mas, como acontece em todos os processos revolucionários, alguns de nós – movidos pela dor, pela empatia ou pelo idealismo, conseguimos um dia saltar para além de nosso acanhado modelo mental e, olhando de fora, descobrimos que estávamos sendo, coletiva e individualmente, injustos, cruéis e opressores em relação às mulheres.
Quando o peixinho da metáfora voltou e foi contar a seus pares o que tinha descoberto, alguns simplesmente se negaram a ouvir, outros ironizaram e outros ainda o agrediram e perseguiram.
Ainda hoje as mulheres precisam lutar para exigir respeito, equidade, espaço de representatividade, dignidade e muito mais. Ainda hoje o machismo vige em nossas estruturas e é alimentado por pequenas atitudes, narrativas e crenças que, somadas, compõe este oceano que nos cerca.
Minha homenagem às mulheres, portanto, é o humilde reconhecimento de que ainda trago em mim os ecos deste modelo mental ultrapassado e injusto e de que ainda preciso estar atento para também não assumir posturas machistas, assumindo o propósito pessoal de combater em mim e fora de mim todo tipo de machismo ainda existente.
Neste dia sempre me lembro delas: minha mãe, esposa, irmãs, filha, enteada, sobrinhas, professoras, grandes amigas, grandes mulheres da história (e quantas nem foram citadas pela história escrita pelos homens…) e sinto uma enorme gratidão, um desejo de abraçar e pedir desculpas pelo mundo que ainda é tão injusto e desigual também em relação a elas.
Obrigado, mulheres! Perdão pela parte que me cabe. O mundo seria horrível sem vocês.
(publicado originalmente em www.cesartucci.com.br/blog)
Diretora de Sucesso do Aluno | Educação Corporativa | Formação de Formadores | Mentora | Doutoranda em Linguística Aplicada UFRJ | Professora PUC-SP
3 aBelo texto César.